
Tomar vitamina C em excesso provoca um aborto?
A ingestão excessiva de vitamina C é apresentada no TikTok como um método de aborto eficaz. É mesmo verdade que tomar vários comprimidos de vitamina C causa um aborto?
É mais uma “dica” partilhada no TikTok. Segundo um vídeo publicado nesta rede social, a toma de quatro a cinco comprimidos de vitamina C, durante quatro dias, serve como remédio abortivo. É verdade que o consumo excessivo desta vitamina pode provocar um aborto?
A vitamina C é um método abortivo eficaz?
Não há evidência científica que prove que “doses tóxicas de vitamina C sirvam como um abortivo”, assegura o obstetra Miguel Pereira Macedo. Primeiro porque “estes estudos são muito raros e limitados nos seus âmbitos”.
Depois, continua o especialista, a vitamina C enquanto suplemento não tem o nível de regulamentação de um fármaco. Portanto, não tem o mesmo nível de evidência de estudo. “Muito menos a nível das grávidas, que são uma população vulnerável. São dois seres vivos e esse tipo de estudo seria pouco ou nada ético de realizar”, sustenta.
Os únicos fármacos “que estão certificados e regulados para esse tipo de intervenção são a mifepristona e o misoprostol”. Estes são medicamentos “abortivos puros, do ponto de vista que induzem o trabalho de parto”. Além disso, acrescenta, “existem várias substâncias que podem levar à morte fetal, quando tomadas em doses tóxicas”.
Qual é, então, a influência da suplementação de vitamina C na gravidez? O consenso médico atual, defende o especialista, é que “ela em doses ditas terapêuticas não tem nem vantagens, nem desvantagens”.
Logo, recapitula o obstetra, “a vitamina C como suplementação na gravidez, por rotina, não tem interesse absolutamente nenhum”.
Além disso, a sua toma “acidental ou voluntária” em “doses terapêuticas” não está associada a “um maior risco de parto pré-termo, nem a bebés leves para a idade gestacional, nem malformações fetais”, acrescenta.
Quais as consequências da ingestão de uma grande quantidade de vitamina C?
“A vitamina C é hidrossolúvel”, ou seja, dissolve-se em água, sendo absorvida pelo intestino. Quando há um excesso de consumo – “contrariamente à vitamina D, que se acumula na gordura” – esta “é excretada do corpo”, clarifica o médico.
Tal como menciona ao Viral a nutricionista Maria Inês Cardoso, segundo a Autoridade Europeia para a Segurança Alimentar (EFSA), a dose recomendada de ingestão de vitamina C numa grávida é de 105 mg (0,105 g) por dia.
A toxicidade verifica-se quando há uma toma que ultrapassa os 2 gramas diários, aponta Miguel Pereira Macedo.
Os efeitos adversos mais frequentes desta ingestão excessiva são, como referem os dois especialistas, sintomas gastrointestinais, como diarreia, dor de estômago, náuseas e distensão abdominal.
Isto acontece porque “a vitamina não é absorvida e irrita a mucosa intestinal antes de ser excretada”, sublinha o obstetra.
E se houver défice?
A resposta do especialista em obstetrícia é clara: “Qualquer défice nutricional na grávida deve ser compensado, inicialmente e preferencialmente, pela nutrição”.
No mesmo plano, Maria Inês Cardoso, garante que “na prática clínica não é comum a prescrição de suplementos de vitamina C” e, à partida, “consegue-se atingir as necessidades diárias através de uma alimentação variada”.
Se realmente houver um défice desta vitamina, “pode aumentar o risco de pré-eclâmpsia na gravidez, baixo peso ao nascer, rutura prematura das membranas, prejudicando também a absorção de ferro, a formação do colagénio e a saúde oral materna”, realça Cardoso.
No entanto, na visão do obstetra, não há razão para alarme, visto que “o défice de vitamina C em Portugal, pelo menos durante a gravidez, não é de todo uma situação frequente”.
Em suma, não existe evidência científica de que o consumo em excesso de vitamina C seja um método abortivo eficaz.
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