PUB

Fact-Checks

Medicamentos

Todos os antibióticos cortam o efeito dos anticoncecionais? Não é verdade

17 Fev 2022 - 10:00

Medicamentos

Todos os antibióticos cortam o efeito dos anticoncecionais? Não é verdade

É comum ouvir-se falar do risco de engravidar quando se acumula a pílula e um antibiótico, seja ele qual for. Verdade? Não, não é assim com a maioria dos medicamentos.

Os contracetivos orais impedem a libertação dos óvulos (pelos ovários) e previnem assim a fecundação. Tal apenas é possível porque são constituídos por duas hormonas (estrogénio e progesterona). A informação veiculada de que os antibióticos diminuem de forma significativa os níveis hormonais das pílulas equivale, assim, a dizer que comprometem o efeito destas.

A possibilidade de anular a ação dos contracetivos é um efeito secundário que está inscrito até na bula de vários antibióticos e de outros fármacos com menor alcance clínico. O tema já motivou, por isso, a elaboração de diversos estudos, que nem por isso divergem nas conclusões: genericamente, os antibióticos não neutralizam a ação dos anticoncecionais, com uma exceção.

Uma revisão científica de quase 200 estudos ou artigos (199) sobre “possíveis interações medicamentosas entre antibióticos e contraceptivos orais que possam levar ao fracasso destes”, realizada pela revista especializada “Obstetrics & Gynecology “, publicada em novembro de 2001, determinou que apenas um dos antibióticos testados “prejudica a eficácia dos contraceptivos orais”: a rifampicina. Com efeito, os “estudos farmacocinéticos de outros antibióticos não demonstraram qualquer interação sistemática entre os antibióticos e os esteroides dos anticoncecionais orais”, conforme refere o texto final dos quatro autores da revisão, membros do Conselho para os Assuntos Científicos da American Medical Association.

No ano seguinte (junho de 2002), um estudo publicado no “The American Journal of Pathology” testou essa relação de incompatibilidade. A sua designação final não deixa dúvidas sobre as conclusões. “Eficácia contraceptiva oral e interação antibiótica: um mito desmascarado” (após tradução).

Os dois investigadores americanos subscreveram o veredito de que “os dados científicos e farmacocinéticos disponíveis não apoiam a hipótese de que os antibióticos (com excepção da rifampicina) reduzam a eficácia dos contracetivos orais”.

É por isso sem surpresa que páginas ou documentos oficiais das autoridades de saúde (do Estado ou sob a sua supervisão) de vários países desmintam a existência desse corte no efeito dos contracetivos. É o caso do NHS –  National Health Service (o serviço nacional de saúde do Reino Unido) que, no seu site, em informação criada em 2019, intitulada “O seu guia da contraceção”, refere que “ a maioria dos antibióticos não afeta a contracepção. Pensa-se agora que os únicos tipos de antibióticos que interagem com a contracepção hormonal e a tornam menos eficaz são os antibióticos tipo rifampicina”. Ainda segundo o NHS, a rifabutina (usada como alternativa à rifampicina) também pode “afetar a contraceção hormonal”, sendo que os dois antibióticos têm como uso frequente o tratamento ou prevenção da tuberculose e meningite.

PUB

Em suma, apenas a rifampicina (e alternativamente a rifabutina) é inibidora das hormonas que compõem a pílula, ou seja, apenas este antibiótico corta o efeito dos anticoncecionais orais. Todos os outros, segundo os estudos existentes, não acarretam o risco de anular a pretendida contraceção.

Categorias:

Medicamentos

17 Fev 2022 - 10:00

Partilhar:

PUB