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Teste de gravidez caseiro feito com urina e lixívia funciona?

27 Set 2024 - 09:54
falso

Teste de gravidez caseiro feito com urina e lixívia funciona?

No Tiktok são vários os vídeos que ensinam a fazer um teste de gravidez caseiro “com urina e água sanitária” (termo utilizado, em português do Brasil, para designar lixívia). As mulheres que dizem ter descoberto a gravidez através deste método explicam que, para o executar, basta misturar uma amostra de lixívia num copo cheio de urina e esperar pela reação do produto químico que surge em poucos segundos. 

Se a urina borbulhar ou ficar com uma tonalidade mais clara significa que o resultado do teste é positivo, dizem. Se nada se alterar é negativo, alegam.

Mas será este teste uma alternativa confiável como os que estão à venda nas farmácias?

Posso confiar nos “resultados” de um teste de gravidez caseiro feito com urina e lixívia?

Não. Segundo Raquel Vareda, médica especialista em saúde pública, não existem evidências científicas que comprovem a veracidade deste teste de gravidez caseiro com lixívia nem de outros testes de gravidez feitos em casa.

Na verdade, adianta a médica em declarações ao Viral, “não foram sequer feitos estudos científicos para tentar comprovar ou desmentir este método”.

“Uma mulher grávida tem uma hormona na urina chamada gonadotrofina coriónica humana ou hCG, como é mais conhecida. É uma hormona que aumenta a partir dos dez dias da gravidez e significa que houve a implantação do embrião nas paredes do útero e que as coisas estão a evoluir bem. Não há motivo para reagir com a lixívia”, sustenta.

Por outro lado, destaca a médica, a lixívia contém um produto químico que pode reagir quando misturado com urinas com grandes quantidades de amónia, proteína que provoca um odor forte e que, idealmente, deveria estar no nosso corpo em pequenas quantidades. É provável que, nestas situações, a urina mude de cor e se forme uma espuma branca quando em contacto com a lixívia.

Segundo Raquel Vareda, uma das funções dos rins é filtrar grande parte desta proteína, mas tal não acontece com os diabéticos e pessoas com problemas renais. É, por isso, expectável que as quantidades de amónia sejam mais elevadas nestes grupos de risco.

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“A lixívia tem um componente que é o hipoclorito de sódio que, quando misturado com a amónia presente na urina, borbulha e pode libertar um gás tóxico. Fisiologicamente, faz-me sentido que urinas mais proteicas reajam mais com lixívia, mas não é uma forma fidedigna de comprovar uma gravidez nem qualquer tipo de doença”, lembra.

O que é a gonadotrofina coriónica humana?

A gonadotrofina coriónica humana é conhecida como “a hormona da gravidez”, tendo em conta que permite detetar a gestação numa fase inicial através dos testes de urina.

A médica explica que a hormona vai ser produzida a partir do 5º. ou 6º. dia de fecundação, altura em que o óvulo já está fixado às paredes do útero, pelo tecido trofoblástico que vai ligar o feto ao útero e vai formar o que será a placenta. Espera-se que os níveis de hCG dupliquem nos primeiros dias de gestação e aumentem até às dez semanas de gravidez. 

A hCG vai reforçar a placenta e assim permitir e potenciar o ambiente adequado para o feto se desenvolver. Só deixa de ser produzida semanas depois do parto.

“Os médicos acreditam que o aumento dos níveis de hCG no primeiro trimestre pode estar relacionado com os enjoos que as mulheres sentem nesta altura, mas é necessária mais investigação”, revela Raquel Vareda.

Quais são os riscos de experimentar estes testes caseiros?

Já são conhecidos os problemas que a lixívia pode ter na saúde: estar em contacto com este químico sem luvas, máscara ou qualquer outro equipamento de proteção pode provocar, entre outros sintomas, vermelhidão, bolhas e comichão na pele, conjuntivite irritativa, vómitos, tosse, problemas respiratórios e do sistema nervoso. 

“Não existem estudos que afirmem que estar em contacto com lixívia é perigoso para o feto, mas, mesmo para as mulheres, não é recomendável experimentar estes testes de gravidez”, avisa a médica.

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Como explicou o Viral neste artigo, em casos de intoxicação ou inalação de lixívia o melhor a fazer é manter a calma e contactar o Centro de Informação Antivenenos (CIAV) através do número 800 250 250 e responder às perguntas do médico que atender a chamada.

Lavar imediatamente com água a área exposta ao químico, colocar soro fisiológico nas narinas e arejar a casa são outras das indicações presentes no site do SNS 24. Despir a roupa que tenha vestígios de lixívia é outro dos conselhos.

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Resumindo: os testes de gravidez caseiros com lixívia não são fiáveis na deteção de gravidez e, devido aos riscos da exposição aos químicos que a compõem, não devem ser feitos. 

Raquel Vareda aconselha as mulheres a optarem pelos testes de urina à venda nas farmácias e sugere que os façam dois dias depois da data em que era suposto aparecer a menstruação para garantir uma maior fiabilidade. 

“Estes testes são 98% fidedignos. Se o problema for o preço, existe ainda o teste de gravidez sanguíneo que pode ser feito no centro de saúde e é gratuito. Este é fiável mais de 99% das vezes”, conclui.

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27 Set 2024 - 09:54

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