Teste de gravidez serve para diagnosticar cancro do testículo?
Alega-se nas redes sociais que, se um homem fizer um teste de gravidez de farmácia e “der positivo, o risco de cancro do testículo é grande”. Segundo vários posts, “o cancro do testículo possui marcadores tumorais sanguíneos”, que podem ser “pistas” para a existência de um tumor.
“Entre esses marcadores está a beta-HCG”, uma substância que também “é produzida pelas células da placenta durante a gravidez”, alega-se. Mas será o teste de gravidez um método de diagnóstico de cancro no testículo eficaz e fiável? E, se um homem fizer um teste de gravidez e o resultado for negativo, significa que não tem cancro no testículo?
Fazer um teste de gravidez chega para diagnosticar cancro do testículo?
Em declarações ao Viral, Afonso Morgado, urologista no Centro Hospitalar Universitário de São João (CHUSJ) e membro do Centro de Referência do Cancro do Testículo do mesmo hospital, garante que “não deve ser utilizado um teste de gravidez para excluir a presença de cancro do testículo”.
De facto, é verdade que a bHCG (uma glicoproteína hormonal) é um marcador tumoral, sendo também “uma substância produzida nos primeiros meses da gravidez”.
Por isso, “se um homem fizer um teste de gravidez de farmácia e der positivo, existe, sim, uma probabilidade de ter um cancro do testículo”, sustenta o urologista. A hipótese aumenta se for um jovem adulto (entre os 20 e os 30 anos), porque é “a idade em que este diagnóstico é mais frequente”.
Ainda assim, “um teste negativo não exclui um cancro do testículo”, alerta o médico do CHUSJ. Isto porque “mais de metade dos cancros do testículo não produzem bHCG e nem todos os seus subtipos são sequer capazes de produzir esta substância”, sustenta.
Para mais, podem existir outros fatores que justifiquem a presença de bHCG. “Outra causa possível poderá ser a utilização de medicamentos com bHCG sintético, possivelmente utilizados no contexto do tratamento da infertilidade masculina”, exemplifica
Estes medicamentos são, inclusive, utilizados “de forma abusiva nos ginásios para ‘recuperação’ dos níveis normais de testosterona depois de se fazer ciclos com androgénios para aumento de massa muscular”.
Além disso, os níveis de bHCG ainda podem indicar (menos frequentemente) “outros cancros que são extremamente raros na faixa etária em questão”, conclui.
O que são marcadores tumorais? Como se deteta um cancro do testículo?
Como se explica num documento da Sociedade Portuguesa de Oncologia, os marcadores tumorais são “substâncias produzidas por algumas células cancerígenas”.
No entanto, tanto “podem estar presentes nos tecidos, no sangue ou na urina de doentes com cancro” como “também podem ser produzidos em situações benignas (processos inflamatórios)”.
Afonso Morgado explica que “os marcadores tumorais do testículo” – que não são específicos para este cancro – “são a bHCG e a AFP (alfa-feto-proteína)”. Além disso, também existe a LDH (lactato desidrogenase), “utilizada como um marcador inespecífico do tamanho tumoral”.
“Perante um jovem adulto (20-30 anos) com uma massa testicular e marcadores tumorais aumentados, torna-se altamente provável a presença de um cancro do testículo”, esclarece o médico.
Ainda assim, é preciso ter em conta que o diagnóstico é confirmado através de “um conjunto de fatores” e, salienta, “o que faz o diagnóstico efetivo de um cancro do testículo é a análise do testículo após ser removido”.
O sinal “mais comum de um cancro do testículo é a palpação de uma tumefação [inchaço] testicular sem dor associada”. Em casos tardios, este sintoma “pode ser acompanhado de dor no testículo ou abdominal”, acrescenta o urologista.
Portanto, aconselha Afonso Morgado, “em caso de suspeita de uma neoplasia [massa anormal] do testículo, deve-se dirigir ao médico de família o mais rápido possível”.
Nestes casos, o ideal é que o utente consiga marcar uma “consulta de urologia para avaliação no espaço de uma semana”. Se não for possível, “poderá dirigir-se diretamente a um Serviço de Urologia para marcação de uma consulta por suspeita de cancro do testículo”.
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