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Tatuagens podem causar cancro da pele? 

11 Mai 2023 - 05:31
falso

Tatuagens podem causar cancro da pele? 

Com diferentes formatos, cores e espalhadas por diferentes partes do corpo, as tatuagens são uma paixão de muitas pessoas que querem gravar na pele uma mensagem ou um desenho.

No entanto, apesar de haver cada vez mais pessoas tatuadas, ainda persistem alguns mitos (como este) e várias dúvidas sobre as tatuagens e os seus efeitos na pele. Será que as tatuagens podem causar cancro de pele?

As tatuagens podem causar cancro da pele? 

Em declarações ao Viral, Alexandre Catarino, dermatologista no Centro de Dermatologia de Lisboa e no Hospital Egas Moniz, diz “não estar provado” que as tatuagens provocam cancro da pele ou aumentam o risco da doença. 

O dermatologista esclarece que, em estudos laboratoriais, podem ser identificados componentes potencialmente nocivos na tinta das tatuagens. No entanto, isso “não está demonstrado nos humanos”. 

A associação entre as tatuagens e o cancro da pele é também rejeitada por Luís Uva, diretor clínico da Personal Derma. O dermatologista aponta que o cancro “não aparece mais no local das tatuagens do que noutras partes do corpo”.

Nesse sentido, uma revisão da literatura publicada no “The Lancet Oncology” conclui que o número de casos de cancro da pele em tatuagens é “baixo” e essa associação é, até agora, encarada como uma “coincidência”

Num relato de caso publicado em 2008, os investigadores referem que “a potencial carcinogenicidade ou toxicidade relacionada com os pigmentos/tintas introduzidos na derme ou com os seus subprodutos continua a não ser clara”. 

Os mesmos investigadores consideram ainda que há uma ausência de estudos sobre o tema (sobretudo que adicionem a exposição solar “à equação”).

Importa sublinhar que o regulamento 2020/2081 da Comissão Europeia, de dezembro de 2020, determina que, nos Estados-membros da União Europeia, as misturas de tintas só podem ser colocadas no mercado se forem “seguras para a saúde humana”

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Nesse sentido, o organismo proibiu o uso de substâncias químicas de risco, como corantes azoicos, em janeiro de 2022.

Já a utilização dos corantes “Pigment Blue 15” e “Pigment Green 7”, muito utilizados nas misturas, foi proibida um ano depois, a 4 de janeiro de 2023, para o setor poder procurar alternativas seguras. 

De acordo com a European Chemicals Agency (a entidade que avaliou os riscos das substâncias químicas para a saúde humana, a pedido da Comissão Europeia), pelo menos 12% da população da União Europeia tem tatuagens, um número que aumenta para o dobro se falarmos do grupo etário entre os 18 e os 34 anos. 

Noutro plano, num artigo do “Portuguese Journal of Dermatology and Venereology”, os investigadores explicam que, quando uma pessoa tem uma tatuagem e aparece uma lesão (mancha) suspeita na área tatuada, pode ser mais difícil determinar se essa lesão é maligna ou não. Isto porque o pigmento da tatuagem pode interferir com os critérios morfológicos (características físicas ou estruturais de uma lesão na pele, como a cor e o diâmetro) que os médicos utilizam para fazer o diagnóstico.

Por isso, os autores do estudo recomendam que os médicos tenham “um baixo limite de suspeita” e façam biópsias nessas lesões, mesmo que pareçam ser de baixo risco.

No mesmo artigo lê-se que, “embora a literatura disponível até à data não tenha encontrado qualquer correlação entre o desenvolvimento de melanoma e as tatuagens, deve ter-se extremo cuidado com a realização de tatuagens em doentes com risco aumentado de melanoma”.

Pelo mesmo prisma, os dois dermatologistas contactados pelo Viral concordam que as tatuagens podem tapar possíveis sinais cancerígenos e, por isso, dificultar e atrasar o diagnóstico de cancro da pele. 

A tinta “pode esconder o desenvolvimento de um sinal suspeito ou de um melanoma“, refere o Alexandre Catarino.

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“É mais difícil para os dermatologistas seguirem sinais cobertos de tinta. Se aparece um tumor no meio da tatuagem é difícil identificá-lo e percebê-lo”, completa Luís Uva, acrescentando que as pessoas com um tumor não devem fazer uma tatuagem “no local”. 

Sinais e tatuagens

O dermatologista Alexandre Catarino realça que as pessoas com muitos sinais podem ter um maior risco de desenvolver cancro da pele. Por isso, as tatuagens, ao taparem a superfície da pele, podem dificultar a observação de sinais.

Na mesma linha, Luís Uva aconselha as pessoas com sinais a deixarem “uma margem entre a tatuagem e o sinal”. Além disso, sublinha, quem quiser fazer uma tatuagem deve certificar-se de que “as tintas são autorizadas”.

Questionados sobre se a cor das tintas dificulta o diagnóstico em caso de suspeita de cancro da pele, os dois médicos defendem que “qualquer tinta” vai dificultar, até porque, completa Luís Uva, “o cancro da pele tem várias cores e pode ser confundido com a tinta das tatuagens”. 

Problemas de pele e tatuagens

Sobre se uma pessoa com problemas de pele pode fazer tatuagens, Luís Uva responde que “depende”, porque existem vários tipos de doenças de pele. 

O dermatologista alerta, no entanto, que, com a realização de tatuagens, pode dar-se o fenómeno de Koebner que ocorre quando alguém que tem um problema de pele (por exemplo, psoríase) coça ou magoa uma determinada zona da pele fazendo com que novas lesões apareçam nessa região.

No mesmo sentido, Alexandre Catarino não recomenda que, por exemplo, doentes “com lúpus, autoimunes, com desregulação do sistema imunitário” façam tatuagens. 

Além disso, o dermatologista lembra que as tintas, apesar de “à partida cumprirem critérios de segurança, podem causar reações inflamatórias a “pessoas mais propícias a alergias”. Isto porque, “ao fazer uma tatuagem, está a introduzir corpos estranhos no organismo”. 

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Por outro lado, o risco de infeções ao fazer uma tatuagem aumenta, “se as agulhas não estiverem esterilizadas”, alerta o médico do Centro de Dermatologia de Lisboa. 

Fiz uma tatuagem. Que cuidados devo ter? 

Uma pessoa que tenha feito uma tatuagem recentemente deve ter os mesmos cuidados de quem tem uma ferida, esclarece Luís Uva. 

Algumas boas práticas passam por “desinfetar bem” a região da tatuagem, aplicar um creme cicatrizante “que possa ser usado em ferida aberta”, não molhar o local “porque vai retirar a gordura natural da pele” e não o expor ao sol. 

Após os primeiros dias, a pele deve estar bem hidratada e com protetor solar. É, aliás, normal que se sinta mais calor no local da tatuagem com a exposição solar, completa o dermatologista do Hospital Egas Moniz.

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11 Mai 2023 - 05:31

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