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Ómega 3, coenzima Q10 e melatonina: Todas as mulheres acima dos 45 anos devem tomar estes suplementos?

1 Jan 2025 - 09:00
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Ómega 3, coenzima Q10 e melatonina: Todas as mulheres acima dos 45 anos devem tomar estes suplementos?

Num vídeo partilhado no TikTok sugere-se que existem três “suplementos obrigatórios para mulheres acima dos 45 anos”: ómega 3, coenzima Q10 e melatonina. Segundo a autora da publicação, as mulheres desta faixa etária devem tomar estes suplementos “para rejuvenescer” e “melhorar a pele”, “a qualidade do sono”, “a energia”, “a disposição” e “a concentração”. Mas será que todas as mulheres precisam desta suplementação?

Todas as mulheres acima dos 45 anos devem suplementar ómega 3, coenzima Q10 e melatonina?

Em declarações ao Viral, Marta Magriço, nutricionista na área da saúde da mulher e membro da Ordem dos Nutricionistas (ON), adianta que “não é possível afirmar que todas as mulheres acima dos 45 anos precisam obrigatoriamente de suplementar com ómega 3, coenzima Q10 e melatonina, ou com qualquer outro tipo de suplemento”.

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Tal como já tinha esclarecido ao Viral a nutricionista Sandra Rosmaninho Almeida, os suplementos são recomendados “para pessoas que não conseguem consumir os nutrientes em quantidades necessárias, ou quando existe algum défice de absorção”.

Isso pode ser influenciado por diversas razões. Segundo Marta Magriço, “a necessidade de suplementação depende de vários fatores individuais, como a alimentação, o estilo de vida, a gestão do stress, a atividade física praticada, as condições de saúde e o historial médico”.

Além disso, a nutricionista considera importante salientar que, além de os suplementos não serem não serem adequados para todas as pessoas, caso haja necessidade de suplementar, “cada pessoa precisa de dosagens diferentes”, ou seja, “não há uma dose considerada universal”.

Em que situações pode ser necessária a suplementação de ómega 3, coenzima Q10 e melatonina?

O primeiro suplemento abordado no vídeo em análise é o ómega 3. Num texto informativo publicado no site do Programa Nacional de Promoção da Alimentação Saudável (PNPAS), explica-se que a série ómega 3 é composta por “ácidos gordos polinsaturados essenciais ao organismo” que só são obtidos “a partir da nossa alimentação uma vez que não os conseguimos produzir”.

Marta Magriço refere que “o ómega 3 tem um efeito antioxidante e anti-inflamatório e os estudos mostram que estes ácidos gordos têm benefícios a nível da saúde cardiovascular e  a nível da redução da inflamação” (ver também aqui).

Sendo que o ómega 3 não é produzido pelo organismo, pode ser necessária a sua suplementação, por exemplo, caso não se ingira quantidades suficientes de alimentos ricos nestes ácidos gordos. 

Algumas “boas fontes de ómega 3” são: “peixes gordos, como a sardinha, o atum, a cavala, e o salmão”; “frutos oleaginosos”; e “sementes”, salienta a nutricionista.

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Por outro lado, a coenzima Q10, o segundo suplemento referido no vídeo do TikTok, é uma enzima produzida naturalmente no organismo (ver também aqui). 

Marta Magriço esclarece que a coenzima Q10 “está associada à nossa produção de energia celular”.

Também tem sido associada “a benefícios a nível de saúde cardiovascular” e pensa-se que pode ajudar a “retardar os efeitos do envelhecimento”.

Além de a sua suplementação ser recomendada “em casos de défice”, alguns estudos sugerem que pode ser útil “em condições específicas, como problemas cardíacos ou cansaço extremo”.

Assim, a coenzima Q10 pode ser útil em algumas mulheres acima dos 45 anos, porque é a partir desta idade que, por norma, surgem os primeiros sintomas da menopausa.

“Com as alterações dos níveis hormonais”, é comum as mulheres sentirem “um cansaço extremo ao longo do dia” e, nestes casos, “a coenzima Q10 pode ser uma boa ajuda”, clarifica.

Tal como o ómega 3, a coenzima Q10 também pode ser obtida através da alimentação. “Pode ser encontrada na carne, no peixe, nos espinafres e nos brócolos”, por exemplo.

Contudo, “a quantidade que vamos buscar à dieta é muito limitada” e, em casos específicos, a suplementação pode fazer sentido”, assinala.

Por fim, a melatonina é uma hormona produzida pelo corpo em resposta à ausência de luz, que induz o sono (ver aqui e aqui). 

Apesar de a melatonina ser muito associada à “regulação do ciclo circadiano” (relógio biológico), “nós temos vários recetores de melatonina espalhados ao longo do nosso corpo” e alguns “localizam-se nos ovários”, adianta Marta Magriço.

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Nesse caso, a melatonina “assume um papel anti-inflamatório, antioxidante e imunomodulador”, tendo sido sugerido, em alguns estudos, que esta hormona tem o potencial de “retardar o envelhecimento ovariano” (ver aqui, aqui e aqui).

Mais uma vez, a suplementação só fará sentido em pessoas “com distúrbios do sono”, por exemplo, ou em casos em que já há uma menor produção de melatonina (comum com o avançar da idade).

Quais os riscos para a saúde da toma indiscriminada destes suplementos?

Na perspetiva de Marta Magriço, “não é indicado começar a suplementar, seja o que for”, sem aconselhamento junto de um médico ou de um nutricionista.

A toma não orientada de suplementos “pode não ser o mais indicado para a saúde” e, “em vez de melhorar, estar a piorar o quadro”, defende.

Em relação ao ómega 3, em específico, a toma excessiva destes suplementos “tem sido associada ao aumento do risco de sangramentos (hemorragias)”, avisa a nutricionista.

Além disso, é preciso “ter em consideração” a suplementação, caso a pessoa “tome anticoagulantes”. Embora, hoje em dia, “haja anticoagulantes que não têm tantas interações” com medicamentos e suplementos, este é um princípio de prudência.

Noutro plano, “a coenzima Q10, regra geral, é segura”, aponta Marta Magriço. Ainda assim, podem surgir “efeitos secundários, como insónias, dores de cabeça ou desconforto gastrointestinal”.

A coenzima Q10 pode ainda “ter alguma interferência com anticoagulantes, como a varfarina, que é um dos medicamentos deste tipo “com mais interações”, refere.

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No que diz respeito à melatonina, a sua suplementação pode estar associada, sobretudo, “a sonolência diurna extrema e dores de cabeça”.

É preciso “ter especial cuidado no uso da melatonina em pessoas que tomam antidepressivos e ansiolíticos”, salienta a nutricionista.

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Este artigo foi desenvolvido no âmbito do European Media and Information Fund, uma iniciativa da Fundação Calouste Gulbenkian e do European University Institute.

The sole responsibility for any content supported by the European Media and Information Fund lies with the author(s) and it may not necessarily reflect the positions of the EMIF and the Fund Partners, the Calouste Gulbenkian Foundation and the European University Institute.

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Alimentação

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1 Jan 2025 - 09:00

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