A aloe vera é apresentada, em publicações nas redes sociais, como um tratamento para a gastrite e como uma forma eficaz de reduzir os níveis de colesterol no sangue. Num desses posts alega-se que o sumo de aloe vera “reduz a inflamação”, sendo por isso muito útil em casos de “gastrite”.

Noutra publicação é ainda indicado, entre vários outros supostos benefícios, que esta planta “auxilia” o organismo a “reduzir os índices de colesterol mau” e a “proteger o fígado contra diversas doenças”.

O extrato de aloe vera pode ser encontrado em sumo e em suplementos. É também usado para a produção de cosméticos e até em alimentos – como, por exemplo, iogurtes –, mas será que tem um efeito terapêutico comprovado em casos de gastrite ou de colesterol elevado?

É verdade que o sumo de aloe vera é um tratamento eficaz para a gastrite?

O gastroenterologista Guilherme Macedo explica, em declarações ao Viral, que “não há evidências científicas” de que o sumo de aloe vera trate a gastrite.

“A aloe vera não tem nenhum poder anti-inflamatório reconhecido que promova a desinflamação do estômago”, acrescenta o especialista.

Também Margarida Beja, nutricionista no Reino Unido (equivalente a registered dietitian), sublinha que “não há certezas da segurança e da eficácia” desta substância e, por isso, “não faz sentido aconselhar” como tratamento. 

“Não temos atualmente evidência científica que comprove que a aloe vera possa ser usada no alívio dos sintomas ou no tratamento da gastrite”, sustenta.

Os poucos estudos que existem sobre o assunto “têm uma população [participantes] muito pequena” e analisam “doses diferentes”, acrescenta a especialista em nutrição. Por essa razão, não é possível identificar “qual a dose mínima para fazer efeito”, ou seja, não é uma forma de tratamento.

A gastrite é uma inflamação do revestimento do estômago que pode provocar dores abdominais, indigestão, náuseas, vómitos e uma sensação de mal-estar. Pode ser provocada por uma bactéria, estar relacionada com uma ingestão elevada de álcool ou associada à toma de medicamentos anti-inflamatórios (como, por exemplo, o ibuprofeno), podendo ser uma doença aguda ou crónica.

Nesse sentido, adianta Margarida Beja, “a gastrite tem um tratamento farmacológico, mas não só”, dado que para a tratar e prevenir é necessário fazer uma  “alteração do estilo de vida”. Assim sendo, aconselha, o melhor será procurar um médico para o aconselhamento farmacológico e um nutricionista para orientar as mudanças alimentares a fazer.

“Pode fazer mais sentido seguir as indicações do médico do que tomar algo que não sabemos se tem efeitos positivos”, sublinha.

A aloe vera ajuda a reduzir os níveis de colesterol?

A redução dos níveis de colesterol é um dos supostos benefícios do sumo de aloe vera, segundo as partilhas das redes sociais. Mas, também neste campo, a evidência científica é escassa e não há provas de que este benefício exista.

“É muito difícil propor a aloe vera como tratamento do colesterol”, afirma Guilherme Macedo. Isto porque “não existe nenhum valor clínico ou propriedade terapêutica que possa ser analiticamente comprovada”.

Margarida Beja acrescenta que a maioria dos estudos realizados sobre o efeito da aloe vera na redução do colesterol “são de curta duração”, com “quantidades diferentes da substância” e que incluem “populações com condições diferentes” – não só com elevados níveis de colesterol, mas também com alterações ao nível da glicose, tais como diabetes.

O colesterol é uma gordura produzida pelo fígado. Existem dois tipos de colesterol: o chamado “colesterol mau” (LDL) e o “colesterol bom” (HDL). Níveis elevados de colesterol no sangue podem estar associados a doença cardíaca, hipertensão ou AVC.

O tratamento desta condição poderá passar por uma alteração do estilo de vida – nomeadamente da alimentação – ou através de fármacos receitados por um médico especialista.

Beber sumo de aloe vera tem riscos?

A utilização de plantas com um suposto caráter medicinal ou suplementos não prescritos pode representar riscos para a saúde. Existem várias razões: seja devido à dose administrada, à toxicidade da substância ou à possibilidade de ocorrerem reações alérgicas. Também no caso da aloe vera esses riscos existem.

Guilherme Macedo explica que a administração destas substâncias sem controlo médico torna-se um “problema” quando as pessoas consomem “quantidades massivas”. A substância pode atingir um nível elevado de toxicidade ou gerar “reações idiossincráticas”, tais como alergias.

Além dessas questões, a aloe vera pode também interagir com outros medicamentos que estejam a ser administrados – uma situação que ganha maior relevância quando o paciente procura esta substância com o intuito de reduzir o colesterol. Isso porque as alterações do colesterol podem estar associadas a outro tipo de patologias, nomeadamente doença cardíaca ou diabetes.

“A toma de aloe vera pode interagir com os fármacos para estas patologias”, afirma Margarida Beja. “Há um potencial de interação muito grande. Aquela ideia de que o natural é inóculo não é verdadeira”, prossegue.

No caso dos suplementos, a especialista em nutrição lembra que a produção destas substâncias “é regulada de forma diferente da dos medicamentos”, não havendo um controlo tão grande. Por essa razão, as dosagens e a pureza da substância podem não ser as mais adequadas ao paciente.

Em conclusão, não existe evidência científica de que a toma de sumo de aloe vera seja eficaz no tratamento da gastrite ou na redução do colesterol no sangue. Por outro lado, a toma não controlada desta substância poderá levar ao aparecimento de alergias ou interferir com outros fármacos.

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