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“Sinais de carne” moles no pescoço indicam sempre “resistência à insulina”?

3 Mar 2023 - 09:26
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“Sinais de carne” moles no pescoço indicam sempre “resistência à insulina”?

O surgimento de marcas na pele, como sinais ou manchas, podem suscitar preocupação, embora muitas sejam benignas. Num vídeo partilhado no TikTok, alega-se que a presença de “sinais de carne” no pescoço (clinicamente denominados fibromas moles ou fibromas pêndulos) pode indicar insulinorresistência.

A autora do vídeo assegura que ter estes fibromas indica que a pessoa “consome muito açúcar” e tem “resistência à insulina”. Nos comentários do post, há quem defenda que estas lesões na pele surgem também durante a gravidez. Mas é verdade que os fibromas moles significam sempre insulinorresistência?

“Sinais de carne” no pescoço indicam sempre consumo excessivo de açúcar e resistência à insulina?

resistência à insulina fibromas moles

A presença de fibromas moles não é sempre sinónimo de resistência à insulina. Quem o adianta ao Viral é João Sérgio Neves, médico endocrinologista no Centro Hospitalar Universitário de São João e professor na Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP).

Estes sinais de carne que aparecem, muitas vezes, no pescoço são “lesões cutâneas benignas“, começa por explicar João Sérgio Neves. 

É verdade que os fibromas moles “são mais frequentes em pessoas com insulinorresistência”, que está muitas vezes associada – mas nem sempre – a quadros clínicos de “diabetes tipo 2, pré-diabetes e obesidade“.

Além disso, também se alega que os sinais de carne podem surgir durante a gravidez, precisamente porque “a gravidez é um estado de uma insulinorresistência relativa”, explica o professor da FMUP.

Segundo o endocrinologista, é normal haver resistência à insulina neste período e, em alguns casos, “se houver uma resistência excessiva, pode-se desenvolver a diabetes gestacional“. Por isso, sintetiza, “estamos a falar de um contexto semelhante”.

No entanto, os fibromas moles “também podem surgir espontaneamente”, sem um “desencadeante evidente”, clarifica o médico. Por isso, “dizer que existe uma causa efeito” entre o aparecimento destes sinais e um problema de saúde “é um passo excessivo”, já que “há muitos casos de pessoas com fibromas cutâneos pêndulos, ou de outro tipo, que não têm diabetes, nem nenhuma destas condições”.

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“Não é por uma pessoa olhar para a pele e ver que não tem nenhuma destas manifestações que vai ter a certeza que não tem diabetes“, reforça o endocrinologista. De facto, “é importante salientar que esta relação existe, mas é uma associação relativamente modesta. Portanto, não é uma forma de fazer ou excluir um diagnóstico“, sustenta.

Aliás, acrescenta o especialista, “existe uma alteração cutânea chamada acantose nigricans” que “parece ter uma associação ainda mais significativa” com a resistência à insulina do que os fibromas moles. Esta condição traduz-se “numa rugosidade e hiperpigmentação da pele” que surge habitualmente na “região posterior do pescoço e nas axilas”. 

Na visão do especialista, a mensagem principal é que “apesar de não haver uma associação direta” entre lesões cutâneas e a insulinorresistência, “se alguém verificar estas alterações e tiver mais algum fator de risco para diabetes, deve pensar em fazer um rastreio”.

O que é a resistência à insulina?

resistência à insulina

O que acontece quando se tem resistência à insulina é que “a capacidade do organismo de responder à produção de insulina está reduzida”. Por outras palavras, explica o médico, “para um determinado valor de glicose no sangue”, o corpo precisa de produzir insulina para evitar que “a glicose se torne alta” e resulte em “hiperglicemia” (a manifestação da diabetes).

Assim, no caso das pessoas com insulinorresistência, “como o organismo não responde da mesma forma à insulina, tem de produzir mais”, deixando o “pâncreas endócrino sobrecarregado”. Como esclarece João Sérgio Neves, se esta situação for mantida a longo prazo dá origem à diabetes tipo 2.

Como se deteta a resistência à insulina?

resistência à insulina

Esta condição clínica “não tem propriamente uma sintomatologia associada”, salienta. Por isso, “todos os adultos que tenham excesso de peso ou obesidade devem fazer um rastreio à diabetes”, recomenda o endocrinologista. 

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Além disso, os adultos com mais de 40 anos também são aconselhados a fazer exames de despiste, sendo que este tipo de exame deve ser repetido “a cada três anos”, sob estas condições.

Este rastreio não deteta só a diabetes, mas também a fase “pré-diabetes”, o que, na perspetiva do médico, é fundamental para prevenir a evolução da doença. 

“Se conseguirmos que as pessoas adiram a estas recomendações, prevenimos cerca de dois terços dos casos de diabetes”, conclui.

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3 Mar 2023 - 09:26

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