A asma é uma das doenças crónicas mais comuns no mundo. No entanto, existem vários mitos associados a esta condição médica e ao seu tratamento. O Viral falou com dois especialistas para verificar a veracidade de algumas destas informações que circulam.

Por ser uma doença de cariz respiratório, a asma é muitas vezes apresentada como uma limitação para a realização de esforços e até de desporto. Mas será verdade que os doentes asmáticos não podem praticar desporto e atividade física?

Não, de todo. Não só uma pessoa asmática pode fazer desporto, como deve fazer desporto para manter um estilo de vida saudável e melhorar a sua condição. “Os médicos aconselham a prática de exercício físico a doentes asmáticos”, afirma Carlos Cordeiro Lopes, pneumologista especialista em alergologia respiratória, porque tonifica a musculatura envolvida na respiração, o que “melhora o seu desempenho”.

“Conseguimos o controlo da doença através de uma terapêutica otimizada, o que implica consultas com especialistas em asma. É fundamental para manter a prática de exercício físico, porque o próprio exercício físico vai melhorar o comportamento da doença”, prossegue, sublinhando que “a atividade física parece até ter um efeito anti-inflamatório” – a asma é uma doença crónica caracterizada pela existência de inflamações na zona dos brônquios.

“Conseguimos o controlo da doença através de uma terapêutica otimizada, o que implica consultas com especialistas em asma. É fundamental para manter a prática de exercício físico, porque o próprio exercício físico vai melhorar o comportamento da doença”.

Na verdade, existem vários exemplos de atletas de alta competição que vivem com doença asmática: o futebolista David Beckham, o nadador Tom Dolan, a basquetebolista Jackie Jouner-Kersee ou a maratonista Rosa Mota são apenas alguns exemplos.

“Alguns doentes asmáticos têm asma de esforço, nomeadamente adolescentes, mas têm de ter uma vida normal, têm de poder praticar exercício físico, é fundamental. O que fazemos é otimizar a terapêutica e em mais de 90% dos casos conseguimos. O doente consegue praticar atividade física, até de intensidade elevada”, afirma Carlos Cordeiro Lopes. O pneumologista destaca, no entanto, que para todas as pessoas – e sobretudo para doentes asmáticos – “o exercício deve ser sempre adaptado, personalizado e progressivo”.

Caso a prática desportiva faça despoletar queixas no doente asmático, a medicação de controlo pode ser ajustada para compensar este esforço extra. O médico que acompanha o doente deverá fazer uma avaliação e, se necessário, pode recomendar “a toma de medicação pré-exercício”, esclarece Lígia Fernandes, pneumologista e coordenadora da comissão de alergologia respiratória da Sociedade Portuguesa de Pneumologia.

“Perante a existência de queixas no exercício, pode haver a necessidade de fazer algum ajuste [à medicação]. Pode também haver necessidade de fazer períodos de aquecimento mais longos, ter atenção à temperatura do sítio onde está – as pessoas podem desencadear mais queixas se o exercício físico for feito ao ar livre com ar muito frio. Mas, globalmente, é um ‘sim’ tremendo ao exercício”, acrescenta.

“A ideia nunca é ‘eu não vou fazer exercício para não ter queixas’. A ideia é ‘eu vou fazer medicação para não ter limitações’. As pessoas podem e devem praticar todo o exercício que queiram. Se quiserem ser atletas de alta competição – salvo as situações de doença muito grave, que são as exceções – podem e devem, sem qualquer limitação.”

Para a pneumologista, este mito tem um forte impacto nas crianças e adolescentes, uma vez que faz com que “cresçam com a noção de limitação na vida, com a ideia que não podem fazer [desporto] por terem uma doença que, muitas vezes, nem medicada está”.

“A ideia nunca é ‘eu não vou fazer exercício para não ter queixas’. A ideia é ‘eu vou fazer medicação para não ter limitações’. As pessoas podem e devem praticar todo o exercício que queiram. Se quiserem ser atletas de alta competição – salvo as situações de doença muito grave, que são as exceções – podem e devem, sem qualquer limitação.”

Quer isto dizer que é um mito que as pessoas com asma não podem praticar desporto. Além de ser uma mais-valia na luta contra o sedentarismo, a atividade física pode até proporcionar melhorias na condição asmática. Caso o atleta sinta alguma dificuldade na execução dos exercícios ou na prática desportiva, deverá consultar o seu médico para fazer uma avaliação e perceber se há necessidade de adaptar a sua medicação.

Estima-se que cerca de 10% da população portuguesa tenha asma ao longo da vida e que 6,4% tenha asma ativa. Caso faça parte desta percentagem, deverá manter um acompanhamento regular com o seu médico especializado para que possa ter a sua asma controlada e evitar situações de crise.