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Sim, os doentes asmáticos devem manter o tratamento regular, mesmo quando não têm crises

4 Mai 2022 - 09:00

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Sim, os doentes asmáticos devem manter o tratamento regular, mesmo quando não têm crises

A asma é uma das doenças crónicas mais comuns no mundo. No entanto, existem vários mitos associados a esta condição médica e ao seu tratamento. No âmbito do Dia Mundial da Asma, assinalado a 3 de maio, o Viral falou com duas especialistas para verificar a veracidade de algumas destas informações que circulam.

Uma das principais questões que se levanta está associada ao tratamento da asma. Há doentes asmáticos que optam por tomar a sua medicação apenas quando ocorrem situações de crise respiratória. As razões são várias: ou não é necessário nos outros dias, ou os medicamentos causam habituação, ou engordam e há mesmo que afirme que fazem mal ao coração. Haverá fundamento científico em alguma destas alegações?

Antes de mais, é importante conhecer a doença: “A asma é uma doença crónica. Refere-se à inflamação que existe ao nível dos brônquios, uma inflamação que está sempre lá. Numa doença crónica, nós temos de fazer medicação diária, continuada para controlar essa inflamação”, explica Ana Mendes, imunoalergologista e coordenadora do grupo de interesse da asma da Sociedade Portuguesa de Alergologia e Imunologia Clínica.

“A asma é uma doença crónica. Refere-se à inflamação que existe ao nível dos brônquios, uma inflamação que está sempre lá. Numa doença crónica, nós temos de fazer medicação diária, continuada para controlar essa inflamação”.

A especialista destaca que a medicação para a asma é uma “questão de necessidade”: “Se suspendermos a medicação, a inflamação volta a instalar-se e a pessoa volta a ter sintomas. Não é uma questão de habituação, é uma questão de necessidade”, explica

Os doentes asmáticos devem manter o tratamento prescrito pelo médico que os acompanha, mesmo quando não têm sintomas da doença. Existem dois tipos de tratamentos para a asma: a medicação de controlo e a de emergência. Enquanto o primeiro atua sobre a infeção dos brônquios para a diminuir, o segundo é utilizado em situações de crise asmática e proporciona um alívio momentâneo, não atuando na causa.

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“Mesmo que tenha a sua doença controlada, convém ter algum inalador de emergência para uma eventualidade. Não é para usar esse inalador de emergência como único tratamento. Porque não vai funcionar. Não vamos controlar a infeção, só vamos fazer com que haja mais episódios e cada vez mais difíceis de tratar”, diz ainda Ana Mendes.

“Mesmo que tenha a sua doença controlada, convém ter algum inalador de emergência para uma eventualidade. Não é para usar esse inalador de emergência como único tratamento. Porque não vai funcionar. Não vamos controlar a infeção, só vamos fazer com que haja mais episódios e cada vez mais difíceis de tratar”.

Um estudo divulgado no âmbito do Dia Mundial da Asma avança que 65,1% dos pacientes inquiridos considera normal um doente asmático ter uma crise de asma, mesmo estando medicado. 66,6% não sabe que a gravidade de um ataque de asma pode ser comparável à de um ataque cardíaco.

Para Lígia Fernandes, pneumologista e coordenadora da comissão de alergologia respiratória da Sociedade Portuguesa de Pneumologia, se o utente espera por uma crise para tomar a medicação, está “a correr atrás do prejuízo”. “Estamos a deixar o ladrão entrar e depois é que trancamos a porta. Depois da asma ter passado por várias fases do seu agravamento e desencadeado uma crise a sério é que vamos fazer uma medicação. Está mal.”

“Curiosamente, os picos de mortalidade por asma dão-se nos dois extremos da doença – nos muito ligeiros e nos muito graves. E no caso dos muito ligeiros é exatamente porque não fazem medicação corretamente, fazem medicação apenas de alívio e não de controlo e isso desencadeia uma série de consequências físico-patológicas graves que podem culminar até mesmo na morte”.

A pneumologista sublinha ainda que a medicação para a asma permite à “grande maioria das pessoas” ter a doença controlada, ou seja, sem que ocorram crises regularmente. No entanto, “quando não é tratada, [a asma] pode ter consequências muito graves: morre-se com uma crise de asma”, alerta.

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“Curiosamente, os picos de mortalidade por asma dão-se nos dois extremos da doença – nos muito ligeiros e nos muito graves. E no caso dos muito ligeiros é exatamente porque não fazem medicação corretamente, fazem medicação apenas de alívio e não de controlo e isso desencadeia uma série de consequências físico-patológicas graves que podem culminar até mesmo na morte”, prossegue a pneumologista.

Mitos associados aos tratamentos da asma

Existem vários mitos associados ao tratamento da doença asmática. Um deles é a alegação de que os medicamentos causam habituação e, por isso, perdem eficácia numa situação de crise. Essa informação é falsa: os medicamentos de controlo nem causam habituação, nem interferem com a atuação dos medicamentos de SOS em caso de crise. Essas situações podem estar associadas à realização de uma terapêutica errada, ou seja, a utilização regular de medicamentos de emergência em vez da administração dos medicamentos de controlo.

“Se eu usar só os broncodilatadores [medicamentos de emergência] e usá-los muitas vezes, os nossos recetores ficam tão saturados que, durante uma crise mais grave, o organismo pode não responder. Mas isso é na medicação de alívio, que confere um risco. Porque com a medicação de controlo isso não acontece”, afirma Lígia Fernandes.

Quanto à alegação de que os medicamentos engordam e que fazem mal ao coração, a pneumologista afirma que são ambos mentira. Em relação ao aumento de peso, associado à presença de corticoides nos tratamentos da asma, Lígia Fernandes sublinha que os inaladores – o tratamento mais comum – permitem a aplicação localizada do fármaco nos brônquios, o que representa uma menor quantidade de corticoides.

“O que pode engordar são os corticoides por via oral ou injetável – os corticoides sistémicos – não os inalados”, afirma, acrescentando que estes são apenas usados em casos graves da doença ou em situações de urgência motivada por crises graves.

“A asma é uma doença crónica. Não tem cura, mas tem tratamento. E o objetivo do tratamento é a pessoa conseguir fazer a sua vida normal, sem restrições, praticamente sem se lembrar que tem asma a não ser na altura de fazer a medicação diária”.

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Quanto ao mito de que os tratamentos fazem mal ao coração, a base desta informação resulta de uma utilização excessiva dos medicamentos de emergência: “Efetivamente os medicamentos broncodilatadores podem, na altura em que são utilizados, ter um ligeiro efeito de acelerar o batimento cardíaco. O que só tem mal se for tomado em excesso e mal utilizado.”

Ana Mendes esclarece que a medicação de emergência tem como objetivo “relaxar os músculos e fazer com que os brônquios fiquem mais abertos e o ar consiga passar”. Esta terapêutica “proporciona só um certo alívio momentâneo que pode ser importante naquela crise para a pessoa poder respirar, mas não vai tratar a doença”. No entanto, “o problema vai continuar lá”, remata.

“A asma é uma doença crónica. Não tem cura, mas tem tratamento. E o objetivo do tratamento é a pessoa conseguir fazer a sua vida normal, sem restrições, praticamente sem se lembrar que tem asma a não ser na altura de fazer a medicação diária”, afirma ainda a imunoalergologista.

Estima-se que cerca de 10% da população portuguesa tenha asma ao longo da vida e que 6,4% tenha asma ativa. Caso faça parte desta percentagem, deverá manter um acompanhamento regular com o seu médico especializado para que possa ter a sua asma controlada e evitar situações de crise.

4 Mai 2022 - 09:00

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