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Gravidez

Sim, há uma explicação científica para os desejos durante a gravidez

6 Mai 2022 - 09:00

Gravidez

Sim, há uma explicação científica para os desejos durante a gravidez

Giz, areia e terra: estas são algumas das coisas mais estranhas que as grávidas sentem vontade de comer durante a gestação. No entanto, na maior parte das vezes os desejos alimentares durante a gravidez não são assim tão peculiares. Como se justifica esta vontade quase incontrolável de querer comer aquela receita específica? Ana Areia, vice-presidente da Sociedade Portuguesa de Obstetrícia e Medicina Materno-Fetal (SPOMMF) explica ao Viral porque é que isto acontece.

“Sabe-se que os desejos alimentares das grávidas têm início no primeiro trimestre, um pico no 2.º trimestre, e uma melhoria no 3.º trimestre. Apesar de poderem atingir 50 a 90% das grávidas, segundo a literatura, há ainda muitas interrogações sobre as explicações possíveis”, afirma a especialista em ginecologia e obstetrícia do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra.

De acordo com a médica, as teorias mais aceites pelos peritos apontam que o “craving” pode dever-se “a alterações hormonais rápidas, às necessidades extra do organismo da grávida durante o crescimento fetal, ou mesmo ao conforto que algumas comidas trazem”. Inclusive, realça a especialista, “as investigações mais recentes apontam para os neurónios que expressam o recetor D2 da dopamina como os implicados no ‘craving’”.

“Sabe-se que os desejos alimentares das grávidas têm início no primeiro trimestre, um pico no 2.º trimestre, e uma melhoria no 3.º trimestre. Apesar de poderem atingir 50 a 90% das grávidas, segundo a literatura, há ainda muitas interrogações sobre as explicações possíveis”.

Além disso, Ana Areia explica que para se perceber bem o assunto é preciso distinguir os motivos fisiológicos e psicológicos. Primeiro, pode verificar-se a anemia por défice de ferro – que quando é grave pode determinar a ‘pica’ – devido às restrições em excesso de um determinado grupo alimentar, do qual a mulher sente necessidade de consumir. Em relação aos fatores psicológicos, há por exemplo a sensação, por parte da grávida, de melhoria de humor depois de ingerir alimentos ricos em hidratos de carbono e as pressões culturais que também se verificam.

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Ana Areia aponta que os desejos alimentares mais recorrentes nas grávidas são os alimentos ricos em hidratos de carbono e lípidos. Contudo, o “craving” também pode ocorrer por substâncias mais estranhas, como o giz – que em algumas etnias é cultural, porque se pensa que melhora as náuseas do início da gestação -, a areia e a terra. Esta última é habitual “no caso de anemia por défice de ferro”, aponta a vice-presidente da SPOMMF.

Como é que uma grávida deve lidar com o “craving”?

“Com a ajuda do seu obstetra e do pessoal da equipa de saúde, deverá ser excluída uma causa fisiológica e depois aprender a gerir a alimentação”, isto é, “tentar ‘resistir aos alimentos deletérios (prejudiciais), trocando-os por saudáveis”, clarifica a especialista.

“O excesso de hidratos de carbono e lípidos ingeridos leva não só ao aumento excessivo de peso materno durante a gravidez com consequências para a grávida (diabetes gestacional, pré-eclâmpsia, etc.), como a médio/longo prazo os seus filhos têm maior risco de intolerância aos hidratos de carbono, aumento de peso, aumento do risco de desenvolver distúrbios alimentares e distúrbio da ansiedade”.

Em última análise, Ana Areia realça que é muito importante que as grávidas estejam informadas sobre as repercussões que a sua alimentação tem, a longo prazo, nos filhos.

“O excesso de hidratos de carbono e lípidos ingeridos leva não só ao aumento excessivo de peso materno durante a gravidez com consequências para a grávida (diabetes gestacional, pré-eclâmpsia, etc.), como a médio/longo prazo os seus filhos têm maior risco de intolerância aos hidratos de carbono, aumento de peso, aumento do risco de desenvolver distúrbios alimentares e distúrbio da ansiedade”.

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Assim, conclui a médica, “moderar a ingestão emocional de alimentos durante a gravidez é importante para evitar a deterioração da saúde metabólica e neuropsicológica da descendência”.

6 Mai 2022 - 09:00

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