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Semente de abacate trata pedra na vesícula?

Todas as semanas, nas redes sociais, surge uma nova receita para emagrecer, prevenir e curar doenças. Algumas estão cientificamente provadas e outras nem tanto. É verdade que ingerir semente de abacate é eficaz no tratamento da pedra na vesícula?

27 Dez 2022 - 08:00

Semente de abacate trata pedra na vesícula?

Todas as semanas, nas redes sociais, surge uma nova receita para emagrecer, prevenir e curar doenças. Algumas estão cientificamente provadas e outras nem tanto. É verdade que ingerir semente de abacate é eficaz no tratamento da pedra na vesícula?

Nas redes sociais fala-se de uma “receita antiga” que consiste em ralar a semente de abacate e depois utilizar este pó para temperar a comida, ou até fazer um chá. O autor de uma das publicações garante que o caroço desta fruta tem o poder de tratar a pedra na vesícula. Verdade ou mito?

Confirma-se que a semente de abacate trata pedra na vesícula?

A resposta do gastroenterologista, professor da Escola de Medicina da Universidade do Minho e investigador do Instituto de Investigação em Ciências da Vida e Saúde (ICVS), Luís Lopes, não deixa margem para dúvidas: “Do ponto de vista científico, não há estudos rigorosos nem válidos que sustentem” que a semente de abacate cure a pedra na vesícula.

Segundo o médico, esta ideia de que a semente de abacate é uma cura milagrosa para esta doença “é um mito urbano”. Provavelmente, acredita-se que consumir esta fruta pode “ser útil para os cálculos, devido ao controle do colesterol”, pondera.

“Obviamente”, continua Lopes, “para se tentar evitar ter pedras na vesícula deve-se ter uma alimentação saudável que é benéfica” tanto para esta como para outras patologias. 

No entanto, não há evidência que qualquer tipo de alimento proporcione “a dissolução ou remoção dos cálculos”.

Como se desenvolvem as pedras na vesícula?

O investigador do ICVS começa por explicar que a vesícula biliar – onde se desenvolvem os tais cálculos (ou pedras) – “é um órgão associado ao fígado”.

Uma das funções do fígado é produzir um líquido chamado bile. “Em vez de o órgão lançar a bile diretamente para o duodeno, no intestino, ela vai para a vesícula, onde fica armazenada”.

Quando se come e “os alimentos semidigeridos saem do estômago e vão para o intestino, a vesícula contrai-se e a bile é lançada no intestino para ajudar a fazer a digestão das gorduras”, clarifica.

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Sendo a bile um líquido, a doença surge quando se formam “cálculos na vesícula”. Esta patologia é mais comum “em mulheres, pessoas obesas ou que emagrecem muito rápido e em doentes com níveis de colesterol elevados”.

Como tratar a pedra na vesícula?

A verdade é que “a maioria dos doentes com cálculos na vesícula são assintomáticos”, salienta Luís Lopes. Estas pessoas só descobrem esta condição, normalmente, ao fazerem “uma ecografia de rotina”.

“Ter um cálculo na vesícula não é sinónimo de ter que tirar a vesícula”, alerta o especialista. Quer isto dizer que, se não houver sintomas, não é necessário partir para uma cirurgia.

“A partir do momento em que se desenvolve sintomas, aí a situação é outra, porque um doente com cálculos na vesícula e com cólicas [biliares] deve ser tratado”. Isto porque “o risco de complicações aumenta”.

Na vesícula há um pequeno canal que vai ligar a outro conectado com o intestino. Geralmente, quando “um cálculo tenta passar pelo canal fino” vai “encravar e desencravar”. 

O problema é quando esse processo provoca dor. Assim, surgem as três possíveis complicações graves ligadas às pedras na vesícula.

Uma delas é a “inflamação da vesícula”, clinicamente chamada “colecistite”. Ocorre quando a pedra “encrava no canal que vai da vesícula para o canal do fígado”, esclarece o especialista.

Por outro lado, esta condição clínica também pode provocar uma infeção do canal do fígado (colangite). Acontece quando o cálculo consegue passar e chega ao canal do fígado. Esta situação, considerada “muito grave”, faz com que “as pessoas possam ficar amarelas”.

A terceira complicação é o surgimento de uma “pancreatite”. Tal como o nome indica, ocorre quando um cálculo consegue chegar ao canal que liga ao pâncreas.

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Devido a estas possíveis complicações graves, “a partir do momento em que o doente tem cálculos e começa a ter sintomas, deve planear a remoção da sua vesícula”, reforça.

Em suma, não há outro tipo de tratamento médico, “não há fármacos”, nem receitas milagrosas que consigam fazer desaparecer as pedras na vesícula. 

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Alimentação

27 Dez 2022 - 08:00

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