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Tabagismo

Poluição ambiental tem mais consequências para a saúde do que o tabaco? Ambos são preocupantes

13 Mai 2022 - 09:00

Tabagismo

Poluição ambiental tem mais consequências para a saúde do que o tabaco? Ambos são preocupantes

Ao fumar um cigarro, o indivíduo inala elementos tóxicos que contribuem para o aumento da possibilidade de desenvolver cancro – principalmente dos pulmões – e outras doenças relacionadas com o sistema respiratório e cardiovascular. Por outro lado, uma pessoa que esteja exposta a componentes poluentes – sejam gases ou partículas – vê aumentado o risco de ter ataques cardíacos, cancro no pulmão ou outras doenças relacionadas com o sistema respiratório. Segundo a Organização Mundial de Saúde, a poluição ambiental “está a ter efeito equivalente ao do tabagismo”.

Um estudo publicado em 2019 sugeria que “a poluição do ar é um fator de risco para a saúde que pode exceder o do tabagismo”. A justificação apresentada pelos autores para esta conclusão está relacionada com o impacto que os componentes poluentes têm na saúde cardiovascular. “Só na União Europeia dos 28 [países], entre 15 e 28% do total de mortalidade por doença cardiovascular de 1,85 milhões por ano é atribuída à poluição do ar, sendo o limite superior associado com ‘outras doenças não comunicadas’, embora com substancial incerteza”, explicam.

Segundo a Organização Mundial de Saúde, a poluição ambiental “está a ter efeito equivalente ao do tabagismo”.

No entanto, esta afirmação foi colocada em causa por Philippe Girard e Thibault Vieira, pneumologistas no Instituto Mutualista de Monstsouris, em Paris, França. Os especialistas questionam os métodos de cálculo usados no estudo e apresentam uma tabela onde é comparada a quantidade de partículas de pequena dimensão – as chamadas PM2,5, por terem geralmente um diâmetro inferior a 2,5 micrómetros, ou seja 40 vezes o diâmetro de um cabelo humano – que são inaladas por dia em vários cenários: “não fumadores em ambientes sem poluição do ar”, “ambientes com ar moderadamente poluído”, “fumadores passivos” e “fumadores ativos”.

Segundo os dados apresentados pelos dois pneumologistas, a quantidade de PM2,5 inaladas por um fumador ativo (que fume, em média, 20 cigarros por dia) ronda os 240mg, enquanto um indivíduo que habite num ambiente moderadamente poluído poderá inalar 0,44mg e um fumador passivo 0,90mg. Além disso, os fumadores ativos têm duas a três vezes maior risco de desenvolver eventos cardíacos do que uma pessoa não fumadora que viva num ambiente sem poluição (condição usada como referência). Para uma pessoa que habite um ambiente moderadamente poluído, o risco aumenta para entre 1,1 e 1,5 vezes.

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A Organização Mundial de Saúde (OMS) considera o consumo de tabaco como “uma das maiores ameaças à saúde pública que o mundo atravessou, matando mais de oito milhões de pessoas por ano em todo o mundo”. Dessas mortes, sete milhões são fumadores ativos e cerca de 1,2 milhões são fumadores passivos. O número de fumadores no mundo deve rondar os 1,3 mil milhões, sendo que 80% vivem em países com baixo ou médio rendimentos.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) considera o consumo de tabaco como “uma das maiores ameaças à saúde pública que o mundo atravessou, matando mais de oito milhões de pessoas por ano em todo o mundo”.

Em Portugal, segundo dados do relatório do Programa Nacional para a Prevenção e Controlo do Tabagismo, estima-se que 11,7% dos óbitos ocorridos em 2019 estejam relacionados com o tabagismo, “o que se traduziu por uma perda de 13.559 pessoas, das quais 10.815 eram do sexo masculino.

Por outro lado, a poluição ambiental estará na origem da morte de cerca de sete milhões de pessoas em todo o mundo, segundo estimativas realizadas pela OMS. Além disso, os dados apresentados pela organização internacional “mostram que quase toda a globalidade da população (99%) respira ar que ultrapassa os limites da OMS, contendo elevados níveis de poluentes, com os países de baixo e médio rendimentos a sofrer uma maior exposição”.

O contacto prolongado com elevados níveis de poluição do ar pode aumentar o risco de desenvolver várias doenças, entre as quais “doença cardíaca, enfarte, doença pulmonar obstrutiva crónica (DPOC), cancro e pneumonia”.

O relatório sobre a qualidade do ar na Europa, publicado pela EEA em 2020, conclui que os níveis anuais máximos de PM2,5 “foram ultrapassados em 70% das estações de monitorização”. Num mapa disponibilizado pela agência, Portugal surge com um dos valores mais baixos do número de mortes prematuras por 100 mil habitantes, associadas à poluição do ar. As regiões do Grande Porto, Aveiro e da Grande Lisboa são as que apresentam um valor ligeiramente mais elevado.

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O contacto prolongado com elevados níveis de poluição do ar pode aumentar o risco de desenvolver várias doenças, entre as quais “doença cardíaca, enfarte, doença pulmonar obstrutiva crónica (DPOC), cancro e pneumonia”.

Tendo em consideração que há mais pessoas expostas à poluição do que fumadores ativos e observando que o número de óbitos estimado é semelhante para ambas as causas, é possível concluir que a letalidade do consumo de tabaco continua a ser mais alta do que a da poluição do ar. Isso não significa que um problema seja mais importante que outro. Tanto o tabagismo como a poluição ambiental são preocupantes de saúde pública identificados pela OMS e pelas entidades de saúde locais.

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No entanto, é necessário ressalvar que o ato de fumar é uma decisão pessoal, podendo o indivíduo deixar o tabaco se assim o quiser – mesmo que, para isso, seja necessário acompanhamento médico. Por outro lado, quem vive numa zona com elevados níveis de poluição não consegue optar por não inalar os componentes poluentes. Um argumento que é usado pela Sociedade Respiratória Europeia: “Em princípio, apesar de poder ser incrivelmente difícil, nós podemos controlar o ato de fumar e desistir por nossa iniciativa própria, enquanto a poluição do ar não conseguimos, ou apenas com grande dificuldade, evitar.”

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Ambiente | Poluição | Tabaco | Tabagismo

13 Mai 2022 - 09:00

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