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Pipocas de micro-ondas são dos alimentos que mais provocam enfartes no mundo?

31 Jul 2024 - 02:00
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Pipocas de micro-ondas são dos alimentos que mais provocam enfartes no mundo?

Num vídeo partilhado no TikTok sugere-se que as pipocas de micro-ondas são dos alimentos “que mais enfarta no mundo”, ou seja, que mais provocam enfartes. Isto porque, alega o autor do vídeo, as pipocas de micro-ondas são ricas em gordura hidrogenada, um tipo de gordura que “plastifica a musculatura do coração”. É verdade que as pipocas de micro-ondas são um dos alimentos que provoca mais enfartes no mundo?

É possível afirmar que as pipocas de micro-ondas são um dos alimentos que mais provocam enfartes no mundo?

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Em declarações ao Viral, a nutricionista Sofia Rocha adianta que não há nada que prove que as pipocas de micro-ondas são um dos alimentos que mais provoca enfartes no mundo. Aliás, frisa, “dizer que um alimento específico provoca um problema de saúde – neste caso, por exemplo, o enfarte – é demasiado alarmante”. 

Em primeiro lugar, sabe-se que um enfarte agudo do miocárdio “pode estar associado a um estilo de vida pouco saudável”.

Segundo a nutricionista, existem vários fatores de risco – como “uma alimentação desequilibrada, colesterol elevado, diabetes, hipertensão arterial, tabagismo, excesso de peso e sedentarismo” – que “podem levar a alguns problemas relacionados com a saúde cardiovascular, como um enfarte”.

Por isso, defende, “não é específico de um consumo de um alimento, mas de um estilo de vida como o todo, em que, à partida, também poderá estar relacionado com uma alimentação desequilibrada”.

Do ponto de vista do impacto da alimentação na saúde do coração, é importante ter algum cuidado na ingestão de “gorduras, sal e açúcar”, refere Sofia Rocha.

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No que toca à gordura, deve-se ter especial atenção à gordura saturada e, sobretudo, à gordura trans (ou hidrogenada). A nutricionista alerta para o facto de estas gorduras, quando consumidas em excesso, terem “malefícios para a saúde, nomeadamente para a saúde cardiovascular”.

Por esse motivo, existem recomendações no que toca ao seu consumo (ver aqui). Em relação à gordura saturada, aconselha-se que esta corresponda apenas a cerca de 10%, no máximo, da alimentação diária de um adulto.

Já a gordura trans não tem qualquer benefício para a saúde, apenas riscos. Por isso, “limita-se o seu consumo ao mínimo possível de menos de 1% da ingestão total diária”, aponta.

Sofia Rocha explica que a gordura trans “é uma gordura transformada, que sofre um processo de hidrogenação e estas alterações podem ser prejudiciais para a saúde”.

Por norma, está presente em “produtos industrializados, como bolachas, bolos, batatas fritas”, exemplifica.

De facto, admite a nutricionista, o sal, o açúcar e a gordura (saturada e/ou trans) podem “estar presentes nas pipocas”. No entanto, isto vai depender do tipo de pipocas e da marca

As pipocas de micro-ondas, em específico, podem ter algum teor em sal e/ou açúcar. Quanto à gordura, dependendo das marcas, as pipocas de micro-ondas “podem ter algum tipo de gordura saturada, mas isso também pode ser identificado nos rótulos”.

Por outro lado, prossegue, “a indústria tem tido cada vez mais cuidado em relação às gorduras trans”. Por isso, cada vez se encontram menos produtos com este tipo de gordura, que se encontra, muitas vezes, descrita nos rótulos como “óleos ou gorduras hidrogenadas, ou parcialmente hidrogenadas”, refere a nutricionista.

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Esta ideia também é reforçada no site da Associação Americana do Coração. Num texto publicado pela organização, adianta-se que, apesar de as pipocas de micro-ondas poderem ter contribuído para “um conjunto de problemas de saúde no passado”, muitos dos produtos químicos responsáveis por esses eventos “foram removidos nos últimos anos”.

Sofia Rocha reforça que as pipocas de micro-ondas, por si só, não podem ser consideradas um alimento com impacto direto e único na ocorrência de enfartes. Estes eventos cardiovasculares dependem de vários fatores. 

Além disso, o impacto do consumo de pipocas de micro-ondas na saúde cardiovascular vai depender não só das pipocas em si (e da sua composição), mas também do nível de consumo (se é moderado ou excessivo).

“As pipocas podem ser um excelente snack

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Sofia Rocha explica que, “quando são caseiras” – ou seja, preparadas “à base de milho e levemente temperadas” ou “sem açúcar, sal e gordura” adicionados -, “as pipocas podem ser um excelente snack”.

Isto porque, justifica-se no texto da Associação Americana do Coração, “são cereais integrais, e os cereais integrais ricos em fibras têm sido associados a um menor risco de doenças cardíacas, diabetes, alguns tipos de cancro e outros problemas de saúde”.

A nutricionista consultada pelo Viral comparou os rótulos de dois produtos da mesma marca: uma embalagem de pipocas de micro-ondas e uma embalagem de milho para pipocas.

Por um lado, referiu que o milho para pipocas não tem açúcar, sal ou gordura na sua composição. Já no caso das pipocas micro-ondas verificou que uma porção de 30 gramas tem, pelo menos, 5 gramas de açúcar, ou seja, um pacote de açúcar”, refere. Além disso, tem mais ou menos a mesma quantidade de gordura saturada.

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Do ponto de vista calórico, “as pipocas de micro-ondas desta marca têm quase o dobro das calorias comparativamente à mesma marca de milho para pipocas”.

Na visão de Sofia Rocha, isto não significa que se deve descartar por completo a ingestão de pipocas de micro-ondas, mas sim “ter atenção ao tipo de pipocas, às quantidades, à frequência de consumo dessas pipocas”, sobretudo no que toca à saúde cardiovascular.

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Este artigo foi desenvolvido no âmbito do European Media and Information Fund, uma iniciativa da Fundação Calouste Gulbenkian e do European University Institute.

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Alimentação

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31 Jul 2024 - 02:00

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