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Pílula do dia seguinte é menos eficaz em mulheres com mais peso?

31 Jan 2023 - 10:16
impreciso

Pílula do dia seguinte é menos eficaz em mulheres com mais peso?

O rompimento de um preservativo, o esquecimento de dois ou mais dias da toma da pílula ou o sexo desprotegido são exemplos de situações que, por vezes, levam à toma da chamada pílula do dia seguinte. Não atuando contra as infeções sexualmente transmissíveis, o objetivo deste medicamento é evitar uma gravidez indesejada. 

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Mas será a contraceção de emergência oral menos eficaz em mulheres com mais peso? E quais as alternativas à pílula do dia seguinte?

Em declarações ao Viral, a ginecologista e obstetra da Sociedade Portuguesa da Contracepção (SPDC), Patrícia Isidro Amaral, esclarece estas e outras questões sobre a pílula do dia seguinte.

É verdade que a pílula do dia seguinte não é tão eficaz em mulheres com mais peso?

Antes de mais, na perspetiva de Patrícia Isidro Amaral, “a expressão ‘pílula do dia seguinte’ não é a mais correta, já que pode induzir em erro pelas palavras ‘dia seguinte'”. Isto porque a  “contraceção de emergência” é mais eficaz quanto mais cedo for tomada, e não deve “ser tomada só no dia seguinte”.

Segundo a médica, existem dois tipos de contraceção de emergência oral: a de levonorgestrel e a de acetato de ulipristal. Contudo, importa sublinhar que qualquer destes métodos hormonais é menos eficaz do que utilizar regularmente contraceção.

Em relação à questão inicial, de facto, “a contraceção de emergência oral parece ser menos eficaz nas mulheres com mais peso ou obesas”, adianta a especialista da SPDC. 

“No caso específico da contraceção de emergência com levonorgestrel, esta parece ser menos eficaz nas mulheres com Índice de Massa Corporal (IMC) superior a 26 kg/m² ou peso superior a 70 kg“, destaca.

Alguns estudos mostram que “a obesidade pode condicionar uma menor concentração sérica de levonorgestrel, o que pode explicar a menor eficácia”, sustenta. No entanto, as investigações desenvolvidas têm “resultados inconsistentes“. 

No caso da contraceção de emergência com acetato de ulipristal, a eficácia parece diminuir “nas mulheres com IMC superior a 30 kg/m² ou peso superior a 85 kg“, acrescenta.

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Ainda assim, nos dois casos, “a evidência é limitada” e são “necessários mais estudos”. 

Assim sendo, conclui a especialista, “apesar de existir a possibilidade de menor eficácia”, a utilização “de contraceção de emergência oral nas mulheres com excesso de peso ou obesas é segura”.

Quais as alternativas à pílula do dia seguinte?

Na visão da ginecologista, “o dispositivo intrauterino (DIU) de cobre” parece ser a escolha mais indicada, já que é a “contraceção de emergência com eficácia mais elevada”.

Ao contrário da contraceção de emergência oral, o DIU de cobre “não tem qualquer ação a nível da ovulação”, informa. “Tem uma ação local que impede a fertilização e, eventualmente, a possível interferência com a implantação”.

Tal como se clarifica no documento “Recomendações sobre Contraceção de Emergência” da Sociedade Portuguesa da Contracepção, o DIU de cobre “pode ser inserido nos cinco dias após a relação sexual não protegida, sendo a sua eficácia idêntica ao longo das 120 horas [após a relação sexual não protegida]“. 

Além disso, permite uma “eficácia elevada e mantida desde que é colocado até ser removido ou até ao seu período de eficácia terminar (10 a 12 anos)”, garante-se.

Se ainda assim houver a preferência pela “contraceção de emergência oral”, refere Patrícia Isidro Amaral, “a formulação com acetato de ulipristal” é mais favorável.

Como funciona a pílula do dia seguinte e qual a sua eficácia?

Patrícia Isidro Amaral explica que “a contraceção de emergência oral atua na inibição ou atraso temporário da ovulação“.

Contrariamente ao que é comum pensar-se, a contraceção de emergência não é um método abortivo, “já que o seu mecanismo de ação é evitar que chegue a ocorrer ovulação”, fundamenta. Logo, esta medicação não consegue interromper uma gravidez em evolução.

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Se a mulher optar pelo comprimido de levonorgestrel, este deve ser tomado “até 72 horas após a relação sexual”. Por outro lado, a pílula de acetato de ulipristal “deve ser tomada até 120 horas depois“.

Qual a eficácia destes fármacos? “Estudos mostraram que a taxa de gravidez de mulheres que utilizaram contraceção de emergência de levonorgestrel foi de 1,2 a 2,1 %, enquanto com a utilização de acetato de ulipristal foi de 1,2%“, salienta a médica.

A contraceção de emergência oral só deve ser utilizada excecionalmente

pílula do dia seguinte

A verdade é que “não existe um número máximo de tomas repetidas de contraceção de emergência” oral, admite a ginecologista. No entanto, como se avisa no site do SNS24, “a pílula do dia seguinte não é um método contracetivo e só deve ser utilizado excecionalmente“.

Importa sublinhar que esta medicação não previne a gravidez que possa resultar de uma relação sexual posterior à toma da contraceção de emergência, mesmo que seja no dia seguinte.

Quando se pode repetir a toma? Por um lado, o levonorgestrel pode ser repetido no mesmo ciclo menstrual, se ocorrer uma relação sexual desprotegida num período superior a 72 horas após a última toma. Já o acetato de ulipristal não deve ser tomado outra vez no mesmo ciclo, mas pode ser repetido no mesmo ano.

Ainda que a contraceção de emergência seja segura e não esteja associada a nenhum efeito adverso grave, esta acarreta alguns efeitos secundários raros e ligeiros. São eles cefaleias, náuseas, vómitos, tonturas, aumento da sensibilidade mamária e dores pélvicas

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A toma da pílula do dia seguinte pode ainda antecipar a menstruação um a dois dias, no caso do levonorgestrel, ou atrasar dois dias com o uso do acetato de ulipristal.

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A maioria das mulheres terá a menstruação dentro dos sete dias do período expectável. Mas, se após 21 dias não menstruar, é aconselhável a realização de um teste de gravidez.

Em suma, segundo Patrícia Isidro Amaral, existe a possibilidade de a contraceção de emergência oral ser menos eficaz em mulheres com mais peso. Porém, são necessários mais estudos que permitam garantir essa premissa. Em caso de dúvida, a mulher pode escolher a pílula que apresente maior eficácia ou o DIU de cobre.

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Ginecologia

31 Jan 2023 - 10:16

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