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Picar os dedos de alguém durante um AVC pode salvar-lhe a vida?

4 Jan 2025 - 09:24
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Picar os dedos de alguém durante um AVC pode salvar-lhe a vida?

No TikTok, alega-se que a simples picada de uma agulha nos dez dedos das mãos pode salvar a vida de uma pessoa que esteja a ter um acidente vascular cerebral (AVC).

Segundo o vídeo em questão, a primeira coisa a fazer é picar levemente cada dedo da mão para que a pessoa recupere rapidamente os sinais vitais. Supostamente, com esta técnica, bastam cinco minutos para que os sintomas de AVC desapareçam. Mas será mesmo assim?

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É verdade que picar os dedos de alguém com um AVC pode salvar-lhe a vida?

Segundo Ana Pastor, especialista em medicina interna da unidade de AVC do Hospital de São João, no Porto, não só não existem evidências científicas que apoiem a utilização da agulha em caso de AVC, como é perigoso e nada aconselhável testar esta técnica.

Em primeiro lugar, há o risco de a agulha não estar desinfetada e de poder originar infeções cutâneas ou subcutâneas, se a picada for profunda. 

Além disto, recorda Ana Pastor, mesmo que a agulha esteja desinfetada, picar os dedos ou qualquer outra parte do corpo é sempre um foco de possíveis infeções e lesões que devem ser evitadas se a pessoa tiver diabetes.

“Há perda de sangue, mas não o suficiente para causar uma grande hemorragia. Mas, apesar de tudo, é procedimento sem eficácia, que tem riscos e que não faz qualquer sentido”, acrescenta.

A médica salienta que existem dois tipos de AVC que são tratados de forma diferente: o AVC hemorrágico e o AVC isquémico.

O AVC hemorrágico acontece quando um pequeno vaso ou artéria se rompe e origina um hematoma que tem que ser estancado. Normalmente, este rompimento dá-se quando o doente tem outra patologia associada, como, por exemplo, hipertensão.

Já o AVC isquémico, explica Ana Pastor, ocorre quando “existe um trombo que tapa uma artéria e compromete a irrigação de sangue da região cerebral que é nutrida por essa artéria. Dizemos que esse território vai enfartar ou morrer”.

Como explicou o Viral neste artigo, os AVC isquémicos são os que ocorrem com mais frequência em todo o mundo, e, segundo o último relatório da World Stroke Organization (WSO), representam mais de 62% dos casos. Mais de 28% são hemorrágicos.

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No entanto, o diagnóstico só pode ser feito em meio hospitalar e, mesmo que os sintomas de AVC sejam ligeiros e que a pessoa recupere minutos depois, é fundamental ligar para o 112 e ser levada de ambulância para o hospital.

De acordo com a informação disponibilizada no site do Sistema Nacional de Saúde (SNS), “o AVC continua a ser uma das principais causas de morte em Portugal” e “a principal causa de morbilidade e de potenciais anos de vida perdidos no conjunto das doenças cardiovasculares”. 

Os últimos dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) sobre os números de AVC no país, que datam de 2022, contabilizaram a morte de 9616 pessoas por AVC.

Quais as causas, sintomas e fatores de risco do AVC?

Costuma dizer-se que o stress pode provocar um AVC, mas, de acordo com a médica consultada pelo Viral, essa ideia trata-se de um mito. Não está excluída a hipótese de o stress ser um fator indireto que pode contribuir para este tipo de patologia, mas nunca será a causa.

Segundo Ana Pastor, o fator predominante que desencadeia um AVC, seja do tipo hemorrágico ou isquémico, é a hipertensão arterial, doença “muito prevalente em Portugal”.

A diabetes é outro dos fatores de risco mais comuns, tal como a alteração dos níveis do colesterol. O uso de medicação hipercoagulante, que serve para manter o sangue mais fluído, pode contribuir para um AVC hemorrágico, e as arritmias cardíacas, alerta a médica do São João, “podem aumentar risco de AVC isquémico”. 

Em relação aos sintomas, o mais comum é a assimetria da face, ou seja, ficar com a boca ao lado, e a perda de força num braço ou numa determinada parte do corpo. A alteração súbita do discurso é outro dos sinais de alarme, sendo que, neste caso, pode acontecer a pessoa ficar com a fala presa ou não conseguir manter um discurso coerente. 

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Como o Viral destacou neste artigo, os sintomas desta doença podem ser diferentes em homens e mulheres que, além dos acima referidos, podem sentir fraqueza generalizada, náuseas, vómitos e, em certos casos, falta de ar com soluços.

Como atuar em situações de AVC

O vídeo em análise aconselha a não movimentar a pessoa que está a ter um AVC , porque, supostamente, os vasos capilares podem explodir. Uma vez mais, esclarece a médica, a afirmação é falsa. 

Na verdade, além de ligar imediatamente para o 112, quem estiver a assistir uma pessoa com sintomas de AVC que esteja inconsciente deve deitá-la de lado até à chegada da ambulância, para evitar, por exemplo, que aspire vómito.  

“Se houver AVC hemorrágico significa que a hemorragia já aconteceu e não tem de ver mover ou não a pessoa. E, nos isquémicos, não é por movimentar o doente que vai haver hemorragia. Nesse caso, acontece o contrário porque a artéria está entupida”, clarifica.

No caso de um AVC hemorrágico, o tratamento consiste em controlar a hemorragia e evitar que se propague, controlar as tensões do doente, elevar a cabeceira da cama e, em casos mais graves, aplicar cuidados de neurocirurgia.

“No AVC isquémico, vamos desentupir o vaso com um procedimento mecânico que se chama trombectomia mecânica. É um cateterismo que entra por uma artéria principal para retirar o trombo. Existe ainda a trombólise intravenosa, que é com um fármaco endovenoso que faz dissolver o trombo”, explica Ana Pastor, acrescentando que pode ser necessário recorrer aos dois procedimentos.

Formas de prevenir um AVC

Ter um estilo e hábitos de vida saudáveis, como praticar exercício físico regularmente e manter uma alimentação saudável, são algumas das dicas de prevenção desta doença. 

O Sistema Nacional de Saúde aconselha ainda evitar o tabaco e estar atento a sintomas que possam indicar hipertensão, diabetes ou arritmias. Ter historial de doença cardiovascular na família também deve ser um aspeto a ter em conta.

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