

“Parto lótus”: Não cortar o cordão umbilical tem benefícios para a saúde do bebé?
Ter um “parto lótus” está a tornar-se uma tendência nas redes sociais. Segundo vários vídeos partilhados no TikTok, esta prática consiste em não cortar o cordão umbilical após o parto, ou seja, mantém-se a ligação entre o bebé e a placenta até o cordão “cair naturalmente”.
Os seguidores desta prática acreditam que não cortar o cordão umbilical tem vários benefícios para o bebé, por, supostamente, permitir que o recém-nascido continue a receber “células estaminais e nutrientes da placenta” durante vários dias após o parto. Mas é verdade que não cortar o cordão umbilical tem benefícios para o bebé? Esta prática tem riscos?
Não cortar o cordão umbilical tem benefícios para o bebé?
Em esclarecimentos ao Viral, Diogo Bruno, diretor de Serviço de Urgência Ginecológica e Obstétrica do Hospital Prof. Dr. Fernando Fonseca (ULS Amadora/Sintra), começa por adiantar que o parto lótus “não tem benefícios médicos comprovados”.
O médico explica que esta prática consiste em “não fazer o corte do cordão umbilical após o parto”. Deste modo, prossegue, “o cordão umbilical e a placenta ficam anexados ao bebé até que saia naturalmente do umbigo, o que demora por norma entre 3 e 10 dias”.
Segundo Diogo Bruno, “em Portugal, esta prática é muito incomum, até porque é provável que se faça apenas em partos em casa”.
Quem opta por um parto lótus “acredita que não fazer o corte é menos stressante para o bebé, melhora o sistema imunitário e promove a ligação mãe-bebé”, refere.
No entanto, além de não existirem “benefícios médicos comprovados, nem sequer é plausível biologicamente que haja algum benefício médico em fazer este tipo de prática”, defende o obstetra.
Isto porque, justifica, “deixa de haver troca de sangue entre a placenta e o bebé nos 5 a 10 minutos depois do parto”.
Havendo esta “paragem do fluxo sanguíneo, não há troca de células entre a placenta e o bebé”, reforça.
O que está recomendado pelas “várias instituições com orientações na abordagem ao parto” é haver “um corte tardio (desde que seja seguro fazê-lo)”, que se traduz em esperar entre um a três minutos após o parto até cortar o cordão umbilical.
Aliás, num texto informativo publicado no site da Organização Mundial da Saúde (OMS), defende-se que o corte “precoce do cordão umbilical, efetuado menos de um minuto após o nascimento, não é recomendado, a menos que o recém-nascido não esteja a respirar e precise de ser movido de imediato para reanimação”.
Existem riscos para a saúde do bebé em ter um “parto lótus”?
Além de não ter benefícios comprovados, não cortar o cordão umbilical pode, de facto, ter riscos para a saúde do bebé.
Apesar de não haver muitos estudos sobre o tema, existem algumas desvantagens que podem ser apontadas em relação a esta prática.
Diogo Bruno aponta as mais evidentes: “o odor associado à necrose [morte das células de um tecido ou órgão] da placenta, problemas de higiene e uma possível infeção”.
O risco de infeção relacionado com o parto lótus também é destacado num texto informativo do Sistema de Saúde da Universidade de Michigan (UMHS, na sigla inglesa), nos Estados Unidos.
No texto do UMHS explica-se que “não existem estudos de investigação disponíveis sobre este tema”. Por isso, a organização informa que não pode recomendar esta prática.
Além disso, quando o cordão umbilical sai do útero, o sangue deixa de circular e a placenta passa a ser um tecido morto”. Assim sendo, “o sangue na placenta pode contrair uma infeção e infetar o bebé”, salienta-se no mesmo texto.
Mesmo não havendo muitas investigações sobre o tema, Diogo Bruno refere que “existem alguns casos descritos de infeções neonatais sérias, graves, relacionadas com essa prática” (ver aqui).
Noutro plano, destaca o obstetra, nestas situações, “se for necessário, também não é possível fazer um estudo anatomopatológico da placenta” (uma “avaliação por microscópio”).

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