“Uma exceção é sempre uma exceção, mas tornar regra é que não.” É assim que a nutricionista Joana Sousa responde quando questionada sobre se o pão branco e o açúcar adicionado podem ser consumidos pontualmente, por exemplo, numa festa de anos. 

A especialista do Laboratório de Nutrição da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa (FMUL) começa por explicar que o pão, no geral, é uma “fonte de nutrientes”, nomeadamente de “glicose”, essencial para o ser humano ter “energia”. No entanto, lembra que o pão integral é nutricionalmente mais rico do que o branco, devido à sua quantidade de fibra.

Ainda assim, Margarida Beja, nutricionista no Reino Unido (equivalente a registered dietitian), e Sandra Silva, nutricionista e autora da página “O Vegetariano”, concordam que comer um pão branco esporadicamente não é prejudicial, sobretudo se a base da alimentação for boa.

Quanto ao açúcar adicionado, Sousa remete para a orientação da Organização Mundial da Saúde que recomenda que o consumo diário de açúcares simples não deve ser superior a “10% do total da energia diária ingerida”.

No mesmo plano, Sandra Silva adianta que uma alimentação saudável deve privilegiar alimentos “de origem vegetal, integrais, pouco processados”, mas que isto “não exclui a possibilidade de incluir alguns alimentos como o pão branco ou o açúcar de adição, desde que isso seja feito de uma forma mais pontual”. Por isso, completa Margarida Beja, é tudo uma questão de contexto e moderação.

Como substituir o pão branco e o açúcar?

No caso do pão, as recomendações são claras: sempre que possível, deve-se escolher um pão à base de cereais integrais e não de refinados. Beja considera, contudo, que fazer este tipo de escolhas é, muitas vezes, um privilégio das “sociedades desenvolvidas”, porque em países “onde há escassez de alimentos, estas questões não se colocam”.

A nutricionista sublinha ainda que, atualmente, várias farinhas já são “enriquecidas com vitaminas e minerais” e, por isso, consumir este tipo de pão pode contribuir para mitigar almas “carências nutricionais”.

Quanto aos substitutos do açúcar, a resposta não é tão clara, até porque, como avança Sandra Silva, “não há grande vantagem em trocar o refinado por açúcar demerara, de coco, ou amarelo”.

Nesse sentido, Margarida Beja acrescenta que o consumo de açúcares simples deve depender da situação. “Se uma pessoa beber seis cafés por dia, vou dizer para tentar reduzir o açúcar que lhes adiciona ou para substituí-lo por adoçante. Agora, se a pessoa beber apenas um café por dia e se esse café lhe souber muito bem com açúcar, porque é que tem de se privar?”, sustenta.

Por fim, Joana Sousa garante que os “açúcares que estão naturalmente presentes nos alimentos” – tais como a frutose, que está na fruta, ou a lactose, presente no leite –  “são suficientes para cobrir as nossas necessidades energéticas”.

Cortar pão branco e açúcar? “A alimentação é muito mais do que a nutrição”

Beja e Silva alertam para a necessidade de ter em conta o papel que alimentos como o pão branco e o açúcar têm na nossa vida além da nutrição. A autora da página “O Vegetariano” defende que “a alimentação é muito mais do que a nutrição”, ou seja, “é muito mais do que os nutrientes que nós ingerimos”. 

No mesmo plano, Margarida Beja lembra que estes alimentos também podem ser usados “como uma forma de conforto” emocional, desde que haja consciência de que quando “se come um chocolate porque não nos estamos a sentir bem” isso não vai resolver o problema. A chave, conclui, é aproveitar esse momento de prazer para “refletir e pensar noutras estratégias” para lidar adequadamente com a situação.