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Alterações climáticas

Os fenómenos meteorológicos extremos afetam a saúde pública? É verdade

25 Fev 2022 - 10:25

Alterações climáticas

Os fenómenos meteorológicos extremos afetam a saúde pública? É verdade

Os fenómenos meteorológicos extremos têm sido cada vez mais frequentes. Nos últimos anos, o mundo tem visto inúmeras ondas de calor, tempestades intensas e inundações fortes, entre outros. Mas será que estas situações têm consequências para a saúde?

É verdade que existe uma relação entre as alterações climáticas e a saúde pública, em particular no que toca aos fenómenos meteorológicos extremos. Segundo estima a Agência Europeia do Ambiente (EEA, na sigla inglesa), no ano 2000 morreram 150 mil pessoas devido ao impacto das alterações climáticas. A Organização Mundial de Saúde prevê que, até ao ano de 2040, o número de óbitos por ano atinja os 250 mil. Estas previsões já foram feitas em 2015.

“Os fenómenos meteorológicos extremos já figuram entre os principais impactos das alterações climáticas na saúde pública. Além disso, prevê-se um aumento da mortalidade causada pelas ondas de calor e pelas inundações, especialmente na Europa, e a diferente distribuição das doenças transmitidas por vetores também afetará a saúde pública”, avança a EEA.

Nos últimos anos temos assistido a ondas de calor – como a que atingiu a região oeste dos Estados Unidos – ou inundações – como a que destruiu a região sudoeste da Alemanha. “O aumento temperatura global média está associado com as mudanças generalizadas nos padrões climático”, explica a Agência norte-americana de Proteção do Ambiente (EPA, na sigla inglesa). “Estudos científicos indicam que os eventos meteorológicos extremos, tais como ondas de calor ou grandes tempestades, tendem a tornar-se mais frequentes ou mais intensas com as alterações climáticas induzidas pelo homem”.

A OMS destaca ainda que “os efeitos gerais para a saúde da mudança de clima são extremamente negativos”. “As alterações climáticas afetam muitos dos determinantes sociais e ambientais da saúde – ar puro, água potável, alimentos suficientes e abrigo seguro”, acrescenta a organização. Apesar da maior parte das consequências serem negativas, a OMS reconhece, no entanto, que o aquecimento global pode proporcionar um clima mais temperado durante o inverno, reduzindo o número de mortes associadas com as baixas temperaturas, e aumentar a produção de alimentos em determinadas zonas.

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As alterações climáticas estão relacionadas com um conjunto vasto de consequências para a saúde pública – como a propagação de doenças através de animais, a escassez de alimentos em determinadas regiões ou a poluição do ar. Neste artigo focamo-nos no impacto que os fenómenos meteorológicos extremos – as temperaturas altas e as inundações – têm na saúde das pessoas que habitam nas regiões afetadas.

Temperaturas extremas

As ondas de calor extremas são frequentes no sul da Europa e na região do Mediterrâneo. Quando os termómetros atingem valores muito altos, durante muitos dias, existe um aumento da mortalidade, principalmente entre as pessoas mais idosas – que são mais vulneráveis às altas temperaturas. Segundo estimativas feitas pela EEA, a onda de calor que atingiu a Europa em 2003 provocou 70 mil mortes adicionais em 12 países. Em 2015, morreram mais de 3.000 pessoas só em França.

“Prevê-se que, em 2050, as ondas de calor causem 120 mil mortes adicionais por ano na União Europeia e tenham um custo económico de 150 mil milhões de euros, se novas medidas não forem tomadas. Esta estimativa mais elevada não se deve apenas às temperaturas mais altas, nem à sua maior frequência, mas também à evolução demográfica da Europa. Atualmente, cerca de 20 % dos cidadãos da UE têm mais de 65 anos de idade, uma percentagem que deverá aumentar para cerca de 30% em 2050.”

Também o Centro norte-americano para Controlo e Prevenção da Doença (CDC, na sigla inglesa) explica que o impacto das ondas de calor extremas vai além dos óbitos: “As mortes resultam de insolação e condições relacionadas, mas também de doença cardiovascular, respiratória e cerebrovascular. As ondas de calor estão também associadas com o aumento de admissões hospitalares para perturbações cardiovasculares, de rins e respiratórias.”

Um período de calor longo, com pouca precipitação, pode originar situações de seca. Também estes fenómenos, associados ao clima, têm consequências para a saúde dos cidadãos. Desde logo devido à redução da quantidade e da qualidade da água disponível para consumo. A falta de precipitação está ainda associada à circulação de partículas através dos ventos – vulgarmente chamadas tempestade de poeira – que diminuem a qualidade do ar. Segundo o CDC, na região da Califórnia e do Arizona, estas tempestades estão associadas ao aumento da incidência de coccidioidomicose, uma doença que é conhecida como febre do vale.

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Além disso, as altas temperaturas propiciam a ocorrência de incêndios florestais, que podem causar mortes e diminuem a qualidade de vida dos cidadãos – devido à libertação de grandes quantidades de dióxido de carbono, à destruição de regiões verdes e à degradação dos solos.

Chuvas torrenciais e inundações

Em 2014, as inundações na Bósnia-Herzegovina, Croácia e Sérvia causaram 60 mortos e atingiram mais de 2,5 milhões de pessoas. Em 2021, só na Alemanha , morreram 169 pessoas, tendo sido registadas 200 vítimas mortais na tempestade que atingiu a Europa Central.

O CDC aponta as cheias como sendo o segundo fenómeno meteorológico que mais óbitos provoca nos Estados Unidos. A principal causa de morte associada às inundações é o afogamento. As chuvas torrenciais e inundações podem prejudicar também a saúde dos cidadãos a longo prazo, devido às infiltrações de água nos edifícios. Por um lado, o aparecimento de bolores e outros fungos prejudica a qualidade de ar no interior das casas, por outro, um ambiente mais húmido pode aumentar a prevalência de asma, pneumonia, entre outras doenças de trato respiratório.

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“Existem também riscos indiretos para a saúde, em grande medida causados pela deterioração ou a contaminação do ambiente”, afirma a EEA. “Por exemplo, as águas das cheias podem transportar substâncias químicas e poluentes provenientes de instalações industriais, das águas residuais e dos esgotos e contaminar as fontes de água potável e os terrenos agrícolas.”

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25 Fev 2022 - 10:25

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