Óleo de orégãos é “um antibiótico natural 10 vezes mais forte do que a amoxicilina”?
Num vídeo partilhado no TikTok alega-se que o óleo de orégãos é “um antibiótico natural 10 vezes mais forte do que a amoxicilina”. Segundo o autor da publicação, este produto tem a capacidade de “destruir bactérias, assim como o antibiótico caro”. Será mesmo assim? Mas existe evidência científica que o prove?
É verdade que o óleo de orégãos é “um antibiótico natural 10 vezes mais forte do que a amoxicilina”?
Em esclarecimentos ao Viral, Paulo Paixão, médico especialista em patologia clínica, microbiologista e professor na NOVA Medical School (NMS), adianta que “não há evidência científica” de que o óleo de orégãos é “10 vezes mais forte do que a amoxicilina”.
Aliás, acrescenta o antigo presidente da Sociedade Portuguesa de Virologia (SPV), “não há evidência de que a utilização deste óleo, ou dos seus componentes, seja eficaz em tratamentos”.
Também num texto publicado no MedlinePlus, um site de informação sobre saúde que pertence aos Institutos Nacionais da Saúde (NIH, na sigla inglesa) dos Estados Unidos, refere-se que “há interesse em utilizar orégãos para uma série de fins, mas não existe informação suficientemente fiável para dizer se pode ser útil”.
Não existem “estudos clínicos”, em humanos, a indicarem que utilizar o óleo de orégãos “é um tratamento seguro, que pode ser utilizado ou que pode substituir” outros tratamentos.
Sabe-se apenas, com base em “estudos in vitro”, ou seja, “em laboratório”, que o óleo de orégãos e, em específico, o seu principal composto ativo, o carvacrol, tem “propriedades antibacterianas e microbianas, no geral” (ver aqui, aqui, aqui e aqui).
E isto não é exclusivo do óleo de orégãos. “Não quer dizer que aconteça todos os dias, mas é relativamente comum descobrir-se que algumas substâncias têm propriedades antibacterianas”, explica Paulo Paixão.
Contudo, avisa, “o facto de descobrirmos que um determinado composto tem propriedades antibacterianas in vitro, não significa necessariamente que, depois, possa ser aplicado ao organismo in vivo, nos humanos”.
“Há uma grande distância entre resultados laboratoriais – que confirmam a ação bacteriana do óleo de orégãos – e um tratamento eficaz”, salienta o médico.
Tal como esclarece o especialista, “hoje, não há medicamento nenhum que seja aprovado sem ensaios rigorosos”, sobretudo “ensaios clínicos randomizados, em que se compara os resultados de um grupo que faz o tratamento com o medicamento em teste com os resultados de outro grupo”.
Isto porque, acrescenta, “uma determinada substância pode ter uma propriedade interessante”, mas, quando “se passa para os ensaios em humanos”, pode “não funcionar por variadíssimos motivos”, como, por exemplo, não haver tolerância ou “não se conseguir acumular a substância nos tecidos”.
O problema dos produtos naturais, promovidos pela medicina alternativa, é que não são submetidos a testes que permitam “responder às questões” necessárias. “Não é só dizer ‘isto tem efeito’”, é preciso saber “qual composto”, “qual a dosagem”, “que efeito tem no quê” e se é seguro.
Por outro lado, aponta Paulo Paixão, “a amoxicilina é um antibiótico eficaz, que continuamos a utilizar”.
Tal como se esclarece o Serviço Nacional de Saúde britânico (NHS, na sigla inglesa), num texto, “a amoxicilina é um antibiótico de penicilina”, que “atua ao matar as bactérias que causam a infeção”.
A amoxicilina (e outras penicilinas) é um antibiótico muito utilizado “para tratar uma variedade de infeções, incluindo infeções da pele, dentárias, da garganta e torácicas”.
Importa ainda salientar que “nem todos os antibióticos são adequados para todas as infeções”, aponta o NHS.
Noutro texto publicado no MedlinePlus, salienta-se que “tomar antibióticos quando não são necessários” ou de forma errada “aumenta o risco de contrair mais tarde uma infeção que resista ao tratamento com antibióticos”.
Por esse motivo, o NHS recomenda que se consulte um médico antes de se tomar qualquer tipo de antibiótico.
Este artigo foi desenvolvido no âmbito do European Media and Information Fund, uma iniciativa da Fundação Calouste Gulbenkian e do European University Institute.
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