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Nutrição

O pequeno-almoço é a refeição mais importante do dia? Cientistas não são unânimes

Por ser a primeira, tem crescido a convicção de que a refeição essencial do dia é o pequeno-almoço. Os especialistas não são definitivos.

3 Jan 2022 - 10:00

Nutrição

O pequeno-almoço é a refeição mais importante do dia? Cientistas não são unânimes

Por ser a primeira, tem crescido a convicção de que a refeição essencial do dia é o pequeno-almoço. Os especialistas não são definitivos.

O pequeno-almoço é objeto das mais distintas teorias, entre as que defendem ser imprescindível para a cognição e rendimento físico e as que preconizam a sua extinção, o jejum essencial para o equilíbrio calórico.

Centenas de estudos científicos refletem estas múltiplas tendências, mas a maioria não é categórica quanto à hierarquização e ao conteúdo da primeira refeição do dia. O Viral escolheu três, com populações de número já relevante e ângulos de abordagem diversificados dentro deste tema macro.

Em junho 2005, o Journal of the American Dietetic Association publicou uma revisão crítica de quatro investigadores sobre 47 estudos sobre o pequeno-almoço: associação adequação nutricional (9), o peso corporal (16), e o desempenho académico em crianças e adolescentes (22).

O artigo, intitulado “Hábitos de pequeno-almoço, estado nutricional, peso corporal, e desempenho académico em crianças e adolescentes” (após tradução), constatou nesses estudos que a omissão do pequeno-almoço é altamente prevalecente nos Estados Unidos e na Europa (10% a 30%); que as crianças que relataram ter tomado o pequeno-almoço numa base consistente tenderam a ter perfis nutricionais superiores aos dos seus pares que saltavam o pequeno-almoço; que as crianças que tomavam o pequeno-almoço geralmente consumiam mais calorias diárias (embora nem todos os estudos associassem o excesso de peso ao pequeno-almoço) e que o consumo ao pequeno-almoço melhorava a função cognitiva relacionada com a memória, notas de teste, e frequência escolar.

A conclusão dos investigadores é a de que “os consumidores de pequeno-almoço são mais propensos a ter uma melhor qualidade geral da dieta” e que “o pequeno-almoço deve ser visto como uma componente importante de uma estratégia global de prevenção destinada a reduzir o risco de doenças, melhorando a saúde de crianças e adolescentes”. Porém, não conseguem validar várias das ilações dos estudos que revisitaram, por diferenças metodológicas e até de da própria natureza existentes entre si.

A Universidade de Cambridge, na revista sob a sua chancela “Proceedings of the Nutrition Society“, publicou em junho de 2013 o artigo científico “Is breakfast the most important meal of the day?” (“O pequeno-almoço é a refeição mais importante do dia?”)

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O trabalho dos seis investigadores baseou-se no “The Bath Breakfast Project”, uma série de ensaios controlados aleatórios que exploram os efeitos do jejum matinal prolongado no equilíbrio energético e na saúde. Da análise do respetivos resultados, inferiram que a omissão do pequeno-almoço não está associada ao ganho de peso. Relativamente à importância desta refeição, e como já tinham previsto no prólogo do artigo (“estes ensaios não foram categoricamente concebidos para responder se o pequeno-almoço é ou não a refeição mais importante do dia”), não conseguiram fixar conclusões taxativas, sem deixarem, no entanto, de transmitir uma mensagem clara: “o pequeno-almoço pode ou não ser a refeição mais importante do dia, mas é certamente uma refeição importante para investigar mais a fundo”.

O mais recente dos três estudos, teve publicação em agosto de 2018, no International Journal of Environmental Research and Public Health. O “Comer ou Saltar o Pequeno Almoço? O Papel Importante da Qualidade do Pequeno Almoço para a Qualidade de Vida, Stress e Depressão dos Adolescentes Espanhóis” (após tradução) teve como população analisada 527 adolescentes espanhóis.

No documento final que produziram, os seis investigadores da Universidade de Almeria advertiram para a importância “de tomar um pequeno-almoço de boa qualidade, em vez de apenas tomar ou não tomar o pequeno-almoço”. Se, por um lado, “os adolescentes que tomaram um pequeno-almoço de boa qualidade mostraram melhor Qualidade de Vida Relacionada com a Saúde (QVRS) e níveis mais baixos de stress e depressão do que aqueles que tomaram um de má ou muito má qualidade”, por outro, “os que não tomaram pequenos-almoços mostraram melhor QVRS e níveis mais baixos de stress e depressão do que os que comeram um de má ou muito má qualidade”.

Assim, para estes investigadores “o pequeno-almoço pode potencialmente afetar a saúde mental dos adolescentes de várias formas” mas “os programas nutricionais não devem incluir apenas estratégias para promover o consumo ao pequeno-almoço, mas dar ênfase à ingestão de um pequeno-almoço saudável”.

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Com efeito, a literatura científica não aponta de forma clara uma resposta para à dúvida se o pequeno-almoço é a refeição mais importante do dia, mas indica que este é bastante relevante e deve ser saudável.

 

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Alimentação

3 Jan 2022 - 10:00

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