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O Ómega 3 acelera o cérebro? Não há evidências que o provem

O ómega 3 é uma das substancias naturais mais referenciada como indispensável numa dieta. Entre outros benefícios, por melhorar o desempenho cognitivo. Será mesmo assim? Não, não é

4 Dez 2021 - 09:38

Neurologia

O Ómega 3 acelera o cérebro? Não há evidências que o provem

O ómega 3 é uma das substancias naturais mais referenciada como indispensável numa dieta. Entre outros benefícios, por melhorar o desempenho cognitivo. Será mesmo assim? Não, não é

O que comummente designamos por ómega 3 são, conforme refere o Programa de Promoção Nacional para a Promoção da Alimentação Saudável (promovido pela Direção Geral da Saúde), “ácidos gordos polinsaturados essenciais ao organismo”, que se dividem em 3 tipos: ácido alfa linolénico (ALA); ácido eicosapentaenoico (EPA) e ácido docosaexaenoico (DHA). Ainda segundo aquele Programa o “ALA está naturalmente presente em alimentos de origem vegetal enquanto que o EPA e DHA no pescado e óleos de peixe”.

A riqueza nutricional incontroversa deste componente tem vindo a construir a ideia de que o ómega 3 acelera o cérebro. Há base científica que comprove esta convicção tantas vezes repetida?

Apesar da comprovada importância do ómega 3 para o funcionamento cognitivo, ainda não há estudos consistentes que evidenciem que o consumo destes ácidos gordos impliquem necessária e proporcionalmente o aumento da velocidade do cérebro e respetivo desempenho.

É neste sentido que aponta a revisão crítica das provas de todos os ensaios clínicos realizados sobre o tema até 2014. A análise foi realizada no artigo “O consumo do LC Omega-3 PUFA melhora o desempenho cognitivo em crianças saudáveis em idade escolar e ao longo da vida adulta? Provas de Ensaios Clínicos”, da autoria da professora Welma Stonehouse e publicado em Julho de 2014 na revista suíça Nutrients (revista científica na área da nutrição).

A investigadora principal e líder do Grupo de Investigação do Programa de Nutrição e Saúde da Commonwealth Scientific and Industrial Research Organisation  (CSIRO) concluiu que “a base de evidência ainda está a emergir”, ou seja, os estudos ainda são “inconsistentes” pelas “muitas limitações de concepção” que comportam (nomeadamente a sua duração, que não deveria ser inferior a 16 semanas).

As conclusões a que chegaram depois da análise de 51 artigos científicos foram: 1) o consumo durante a gravidez ou amamentação “não teve qualquer efeito sobre as aptidões ou desenvolvimento cognitivo das crianças em fases posteriores de desenvolvimento”; 2) “as provas relativas à melhoria da função cognitiva durante a infância e juventude ou no défice de atenção/hiperatividade são inconclusivas” e 3) “ainda não é claro se permite melhorar o desenvolvimento cognitivo ou prevenir o declínio cognitivo em adultos jovens ou mais velhos”.

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Welma Stonehouse valida a importância do DHA, “o ómega-3 dominante no cérebro”, para as membranas celulares neuronais e confirma que este “afeta várias vias e processos neurológicos” mas refere que “é pouco provável que a suplementação com DHA seja uma `bala mágica` que criará génios”. Ainda assim, “devido à limitada capacidade humana de sintetizar DHA de novo e ao seu papel crítico no funcionamento do cérebro”, recomenda a sua inclusão nas dietas.

Em Janeiro de 2018, a Nutrition Reviews – uma das revistas editadas pela Universidade de Oxford – publicou outro estudo de revisão sistemática das provas científicas obtidas nos respetivos ensaios clínicos. Os investigadores espanhóis Oscar Rangel-Huerta e Angel Gil (oriundos da Universidade de Granada) avaliaram as provas apresentadas nos estudos sobre os efeitos da ingestão de ómega 3 na cognição no período compreendido entre 2012 e 2017 (“Effect of omega-3 fatty acids on cognition: an updated systematic review of randomized clinical trials”).

As conclusões a que chegaram depois da análise de 51 artigos científicos foram: 1) o consumo durante a gravidez ou amamentação “não teve qualquer efeito sobre as aptidões ou desenvolvimento cognitivo das crianças em fases posteriores de desenvolvimento”; 2) “as provas relativas à melhoria da função cognitiva durante a infância e juventude ou no défice de atenção/hiperatividade são inconclusivas” e 3) “ainda não é claro se permite melhorar o desenvolvimento cognitivo ou prevenir o declínio cognitivo em adultos jovens ou mais velhos”.

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Por conseguinte, não é possível assegurar, pelos estudos existentes, que o consumo de ómega 3 acelere o funcionamento do cérebro, embora estes ácidos gordos sejam benéficos para o nosso sistema neurológico.

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Cérebro | Neurologia | Ómega 3

4 Dez 2021 - 09:38

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