Mais ou menos entre os seis e os 18 meses começa uma das épocas mais difíceis para os pais: o nascimento dos dentes aos bebés.

Difícil porque, diz a sabedoria popular e os médicos também, começa a época em que a criança fica mais irritativa, dorme pior, come mal, faz mais birras e, por isso, torna o exercício da parentalidade ainda mais desafiante.

Um dos conceitos, ou mitos, que está associado a este período é o de que o nascimento dos primeiros dentes nos bebés provoca febre, além do desconforto que os bebés apresentam e de que os pais se queixam.

E o que diz a ciência?

Uma meta-análise publicada na revista Pediatrics em 2016 analisou as conclusões de 16 estudos sobre os sinais e sintomas associados à erupção da primeira dentição e verificou em bebés entre os zero e os 36 meses que a prevalência de sintomatologia associada ao nascimento dos dentes é elevada, supera os 70%. E entre os sintomas mais frequentes identificou a irritação gengival, em mais de 86% dos bebés, a irritabilidade, em cerca de 68%, e a produção excessiva de saliva, que afetou mais de 55% dos bebés.

Contudo, a febre não foi um sintoma identificado e embora os investigadores tenham reconhecido que a temperatura do bebé pode ficar um pouco mais elevada, esta não chega a ser considerada febre. É de recordar que, nos bebés, a temperatura medida no reto ou na têmpora é considerada febre quando ultrapassa os 38º C, como se lê na página oficial do Serviço Nacional de Saúde.

Outro estudo mais recente, de 2000, também publicado na revista Pediatrics, teve conclusões semelhantes. Nesta investigação, os pais mediram duas vezes por dia a temperatura timpânica, relataram a presença ou ausência de 18 sintomas pré-listados e apontaram todos os dentes que nasceram entre os quatro e os 12 meses de idade do bebé.

No total de mais de 19 400 crianças avaliadas, e do nascimento de 475 dentes, os sintomas mais identificados foram a irritabilidade, a mordedura, a produção excessiva de saliva, a necessidade de esfregar a gengiva, a erupção cutânea facial, a diminuição de apetite por alimentos sólidos e uma leve elevação da temperatura corporal, aquilo a que clinicamente se chama de febrícula. Mais uma vez, não foi encontrada evidência do aparecimento de febre nem nos dias anteriores ao nascimento do dente, nem durante o rompimento da gengiva e o mesmo aconteceu nos dias a seguir.

Em conclusão, os bebés ficam mais irritados, salivam mais, começam a levar os brinquedos à boca e a mordê-los, mas não, o nascimento dos dentes não provoca febre. Eventualmente pode elevar um pouco a temperatura corporal, aquilo a que se chama febrícula, mas não ao ponto de ser considerado febre.