Fazer nódoas negras com facilidade é sempre sinal de um problema de saúde?
As equimoses – vulgarmente conhecidas como nódoas negras ou pisaduras – estão, geralmente, associadas à ocorrência de traumatismos, sem que exista rutura da pele. A cor escura que aparece no local do embate resulta da acumulação de sangue entre os tecidos celulares, após a rutura de pequenos vasos capilares.
Algumas pessoas são mais suscetíveis ao aparecimento de nódoas negras do que outras. Mas o que está na origem dessa diferença? Será que fazer nódoas negras com facilidade está sempre associado a um problema de saúde?
Ser mais suscetível a nódoas negras é sinal de doença?
A relação entre uma maior suscetibilidade para desenvolver nódoas negras e a existência de um problema de saúde não é linear. Isto é, as equimoses, por si só, não são um sinal ou um sintoma de doenças do foro sanguíneo e existem diversos fatores que podem tornar a pessoa mais sensível à formação destas marcas temporárias na pele.
Todas as pessoas sofrem traumatismos, mesmo sem se aperceberem, e essa é a principal razão para o aparecimento das nódoas negras. O tamanho e a “exuberância” da nódoa negra vão depender do grau e da frequência do trauma.
Em declarações ao Viral, Sara Morais, hematologista clínica do Centro Hospitalar Universitário do Porto, explica que o aparecimento de nódoas negras pode estar relacionado com “o estilo de vida” da pessoa, sendo o aparecimento de equimoses frequentes em “indivíduos ativos” e que pratiquem desporto – “sobretudo, desportos de contacto”.
Também o avançar da idade “pode contribuir para uma maior suscetibilidade para as nódoas negras” devido ao “aumento da fragilidade vascular”, acrescenta a especialista.
Segundo Sara Morais, existem, de facto, doenças hemorrágicas – como as hemofilias (doença rara) ou as doenças das plaquetas – que “interferem com a capacidade de formação de um coágulo”, o componente sanguíneo que vai atuar na reparação do “vaso da pele lesado”.
Estas condições vão fazer com que o sangramento provocado pelo traumatismo se prolongue, tornando as nódoas negras “mais exuberantes”.
Por outro lado, há também medicamentos que têm “o mesmo potencial de aumentar as nódoas negras que as doenças hemorrágicas”.
Exemplos disso são os fármacos que “interferem com os fatores da coagulação (como os anticoagulantes) ou com a função das plaquetas (como a aspirina)”. Também os corticoides, “por mecanismos diferentes”, aumentam a fragilidade dos vasos sanguíneos e, por consequência, tornam mais frequentes as ocorrências de equimoses.
Para Paulo Santos, especialista em Medicina Geral e Familiar e professor na Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP), as nódoas negras, sozinhas, não devem ser um sinal de alarme para o paciente, uma vez que “a probabilidade de ter uma doença grave é muito baixa”.
Com base na sua experiência, o médico sublinha que a administração de medicamentos anticoagulantes é uma das razões para o aumento do número de nódoas negras num paciente: “Normalmente, a principal causa está relacionada com a administração de aspirina em doentes com risco de doença cardiovascular”.
Quando é que as nódoas negras se tornam um sinal de alerta?
As nódoas negras podem aparecer em todas as partes do corpo, basta haver um traumatismo ou um embate mais agressivo. Contudo, há sinais que deve ter em conta. Um deles é a “desproporção entre a dimensão das nódoas negras e o grau do traumatismo”, alerta Sara Morais.
“O aparecimento de equimoses excessivas em presença de traumas mínimos ou mesmo não percebidos é sinal de alerta e deve-nos levar a consultar um médico”, sustenta.
Paulo Santos defende a mesma ideia por outras palavras: “Se uma pessoa começar a desenvolver nódoas negras sem razão, se houver uma alteração do padrão, deve ser visto por um médico.”
O professor na FMUP repete que “a nódoa negra, por si só, não significa doença”, mas acrescenta que estes sinais podem levar o profissional de saúde a realizar mais exames e, reunindo todos os dados, chegar a um diagnóstico.
Por outro lado, Sara Morais lembra que a “presença de equimoses fáceis e numerosas de aparecimento precoce na infância” deve ser um sinal de alerta para os cuidadores da criança, levando ao despiste de “doenças hemorrágicas congénitas, como as hemofilias ou doenças plaquetárias”.
Estas doenças congénitas “podem também ser detetadas mais tarde, na idade adulta, sobretudo se a sintomatologia for menos exuberante”, acrescenta a médica.
Além disso, nos adultos, o aparecimento de “equimoses excessivas com traumatismos mínimos ou aparentemente espontâneas” poderá levar ao despiste de “alterações adquiridas plaquetárias” – tais como trobocitopenias (diminuição do número de plaquetas no sangue) – ou “alterações adquiridas da coagulação” – relacionadas com medicamentos anticoagulantes, doença hepática ou hemofilia adquirida.
Em qualquer um dos casos, é necessário um conjunto de dados, obtidos por exames, para que o médico possa fazer um diagnóstico preciso.
Como se formam nódoas negras na pele?
“Uma nódoa negra é uma pisadura”, responde Paulo Santos. “É uma acumulação de sangue que ocorre quando há um traumatismo ou um toque na pele, devido à rutura de pequenos vasos capilares (que não têm grande importância)”, acrescenta o especialista.
O sangue que sai dos vasos capilares vai estagnar fora do circuito sanguíneo até que “as células o removam desse sítio e devolvam a normalidade ao tecido”, prossegue o médico.
“A marca na pele vai-se atenuando ao longo do tempo, à medida que a hemoglobina e os restos celulares vão sendo absorvidos”, completa.
Na maioria das pessoas, o aparecimento de nódoas negras está relacionado com fatores externos. Segundo um artigo de revisão, publicada no IP International Journal of Comprehensive and Advanced Pharmacology, em 2020, os principais fatores são:
- Traumas
- Injeções
- Hipertensão e crises hipertensas
- Complicações de doenças como hemofilia, cirrose, doença de Willebrand, leucemia, febre hemorrágica, entre outros
- Efeitos secundários de medicamentos
- Outros fatores – tais como mordidelas de animais e de insetos, falta de vitamina C e ou K ou fatores genéticos
“As nódoas negras previnem-se evitando traumatismos”, afirma Sara Morais. A especialista em hematologia refere que “algumas medidas que podem ajudar a diminuir a probabilidade de traumatismos passam por evitar desportos de contacto, usar protetores durante a prática desportiva ou aumentar as condições de segurança no domicílio”.
Quando a prevenção não é suficiente, a especialista aconselha “aplicar gelo no local atingido” logo a seguir ao traumatismo como forma de “evitar a progressão” da equimose.
Poderá também aplicar “cremes com heparinoides”, que permitem “uma resolução rápida”. Segundo o mesmo artigo, “na medicina oficial, não existem medicamentos que providenciem uma descoloração urgente da pele na área dos hematomas”.
A nódoa negra poderá demorar meses a desaparecer. No entanto, é comum que dure apenas algumas semanas. A cor azulada que mancha a pele está relacionada com a presença de hemoglobinas e dos restos celulares que, por não transportarem oxigénio, apresentam uma tonalidade de vermelho mais escuro.
À medida que a nódoa negra se vai resolvendo, o tom da equimose vai-se alterando, dando lugar a uma cor amarelada que, eventualmente, desaparece.
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