PUB

Fact-Checks

Mitos

Não, tomar banho durante a digestão não é perigoso mas depende das situações

22 Abr 2022 - 09:00

Mitos

Não, tomar banho durante a digestão não é perigoso mas depende das situações

“Quem diria que tomar banho de estômago cheio dá indigestão. Minha avó sempre esteve certa mesmo”, lê-se num tweet partilhado no dia 3 de fevereiro.

Noutra conversa no Twitter, um utilizador questiona: “Comer e depois tomar banho, ou tomar banho e depois comer?”. Ao que outro internauta responde: “Tomar banho e depois comer! Não pode ir tomar banho logo depois de comer porque causa indigestão e você pode acabar passando mal”.

“Deve tomar-se banho primeiro e comer depois” e “pode tomar-se banho depois de uma refeição desde que seja na primeira meia-hora”, são ideias que se ouvem recorrentemente. Mas há algum fundo científico nisso? Tomar banho pode mesmo provocar uma indigestão?

Guilherme Macedo, presidente da Sociedade Portuguesa de Gastrenterologia (SPG) é categórico na resposta ao Viral: “Não, tomar banho não é perigoso durante a digestão. No entanto, nem todos os banhos são iguais e nem todos os processos digestivos são iguais.”

O especialista explica que temos que ter em conta o próprio processo digestivo e o possível choque térmico. Se fizermos uma refeição ligeira, “há todo um conjunto de circunstâncias biológicas que ocorrem nos minutos e nas horas seguintes, que têm uma dimensão relativamente reduzida. Se for um processo digestivo mais complexo, derivado por uma refeição mais pesada – como um almoço de Natal, um almoço de Páscoa, uma circunstância festiva qualquer – é evidente que o processo será mais complexo, mais demorado, mais intenso e põe em recurso circunstâncias biológicas que podem ser afetadas por determinados tipos de banho”, realça.

“Não, tomar banho não é perigoso durante a digestão. No entanto, nem todos os banhos são iguais e nem todos os processos digestivos são iguais.”

Relativamente à água, o presidente da SPG diz ao Viral que “se for um banho em água tépida ou que de alguma forma não crie um choque térmico importante não há propriamente grande repercussão. Quando há um choque térmico relevante, por exemplo, quando uma pessoa entra de súbito na água fria depois de estar exposta à radiação solar, isto provoca, evidentemente, determinadas reações de um conjunto de nervos viscerais que estão envolvidos no processo digestivo”.

PUB

O gastrenterologista explica que um estímulo violento, como é o choque térmico, para esses nervos – nervo vago e as suas ramificações – pode provocar um reflexo adicional entre a pele e o aparelho digestivo. Isto traduz-se, por exemplo, numa arritmia ou bradiarritmia, isto é, uma modificação súbita do ritmo cardíaco, geralmente no sentido de um abrandamento muito súbito, que faz com que se possa perder a consciência, por exemplo. “Ter uma breve perda de consciência quando se está sentado tranquilamente no sofá tem uma implicação, uma perda breve de consciência a conduzir um automóvel tem outra, uma perda breve de consciência mergulhado na água gelada tem outra”.

É preferível tomar um duche ou um banho de imersão?

“Num processo digestivo prolongado, depois de uma refeição copiosa, a imersão também não é a melhor solução do mundo. Não há propriamente o choque térmico imediato do contraste de temperatura, mas há um estímulo provocado pela temperatura. O estímulo térmico prolongado periférico faz com que haja um desajuste, uma vez que o estímulo digestivo tem que competir, digamos assim, com o estímulo periférico da pele”, clarifica.

“Quando há um choque térmico relevante, por exemplo, quando uma pessoa entra de súbito na água fria depois de estar exposta à radiação solar, isto provoca, evidentemente, determinadas reações de um conjunto de nervos viscerais que estão envolvidos no processo digestivo”.

O presidente da SPG diz que é por isso que muitas vezes as pessoas sentem enjoo, mal estar e dificuldade no processo digestivo, quando estão num banho de imersão. “Mais uma vez, há aqui um balanço entre aquilo que é um processo digestivo perante uma refeição mais ou menos copiosa e um estímulo periférico de um banho que provoque um choque térmico súbito ou um choque continuado”, acrescenta.

PUB

Assim, de acordo com o gastrenterologista, de uma forma geral, as pessoas evitam este tipo de comportamentos durante o processo digestivo. Geralmente, passadas duas ou três horas do início de um processo digestivo é mais tranquilo e mais seguro, porque o estímulo vagal que a digestão provoca já está ultrapassado.

Categorias:

Gastrenterologia | saúde

22 Abr 2022 - 09:00

Partilhar:

PUB