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Não se deve beber álcool quando se toma antibióticos? É um princípio de prudência

8 Jun 2022 - 09:00

Antibióticos

Não se deve beber álcool quando se toma antibióticos? É um princípio de prudência

É um conselho antigo: quando se toma antibióticos não se pode beber álcool. Porquê? Uma das razões apontada é que o álcool corta o efeito do antibiótico, perdendo assim eficácia. Há casos em que esta indicação é dada pelos médicos, mas será verdade que não se deve beber álcool quando se toma antibióticos?

A resposta é: depende do antibiótico ou da classe de antibióticos em causa. “Para alguns antibióticos não existe problema de ingerir uma quantidade moderada e adequada de álcool durante o período da toma, enquanto para outros há riscos”, explica ao Viral Joaquim Ferreira, professor de farmacologia clínica na Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa. Há dois riscos identificados: “a diminuição da eficácia do antibiótico ou o aparecimento de efeitos adversos que, se fosse só tomado o antibiótico, não apareceriam.”

A questão torna-se ainda mais complexa devido à falta de informação existente. Uma vez que o álcool não faz parte das análises de toxicidade obrigatórias para comercialização dos medicamentos, podem existir antibióticos em que não se sabe se existem ou não interações associadas à ingestão de bebidas alcoólicas. Os estudos para determinar a interação do álcool com os antibióticos – assim como a interação de outras substâncias – são realizados a posteriori e, como identifica uma revisão científica publicada na revista “Antimicrobial Agents Chemotherapy”, têm “várias limitações”.

“Para alguns antibióticos não existe problema de ingerir uma quantidade moderada e adequada de álcool durante o período da toma, enquanto para outros há riscos”.

“É uma crença comum que o uso concomitante de álcool com antibióticos causará toxicidade/RAM [Reações Adversas a Medicamentos] ou diminuirá eficácia. A evidência por trás dessas crenças é pobre e controversa”, escrevem os autores do artigo, identificando “um grande número de lacunas de conhecimento”. No entanto, “apesar das limitações, as descobertas desta revisão questionam muitas das interações álcool-antibióticas convencionalmente aceites”, continuam os autores, sublinhando que “embora o uso de álcool ainda deva ser evitado com certos antibióticos, o uso com outros selecionados parece ser aceitável”.

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Uma vez que o álcool não faz parte das análises de toxicidade obrigatórias para comercialização dos medicamentos, podem existir antibióticos em que não se sabe se existem ou não interações associadas à ingestão de bebidas alcoólicas.

Para Joaquim Ferreira, deve-se seguir o “princípio da prudência”: “Dado que este risco depende do antibiótico, não há mal nenhum que as pessoas sejam mais contidas durante os dias em que tomam antibióticos. Ninguém morre se não beber álcool durante cinco ou sete dias.” No entanto, sublinha que a ideia de haver “uma proibição formal e absoluta de beber álcool em todos os antibióticos não é verdadeira”.

De salientar que neste artigo estamos a analisar a interferência do consumo social de álcool, ou seja, um consumo moderado e pontual. O etilismo crónico é uma doença em si e, por isso, deve ser tratada com acompanhamento médico.

Para Joaquim Ferreira, deve-se seguir o “princípio da prudência”: “Dado que este risco depende do antibiótico, não há mal nenhum que as pessoas sejam mais contidas durante os dias em que tomam antibióticos.

O álcool não é a única substância que pode interferir com a atuação dos antibióticos ou de outros medicamentos. “Do ponto de vista farmacológico é tão importante estudar a interação com o álcool como a interação com outros medicamentos que sejam tomados em simultâneo ou com algum tipo de comida em particular”, acrescenta o professor.

Concluindo: não existe uma “proibição formal” para a ingestão de álcool durante a toma de antibióticos. No entanto, uma vez que a informação científica atualmente disponível é limitada, deve-se seguir o “princípio da prudência”, ou seja, reduzir o consumo de álcool durante o período de toma do antibiótico. De facto, em alguns antibióticos existe a possibilidade de redução da eficácia ou da ocorrência de efeitos adversos inesperados. Mas esta interação não ocorre em todos os antibióticos.

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Álcool | Medicamentos

8 Jun 2022 - 09:00

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