A alegação não é nova: os genes da inteligência são passados para o feto apenas pelo lado da mãe. Esta afirmação tem vindo a ser partilhada nas redes sociais, mas será que tem algum fundamento científico?

Nem por isso. Este mito partiu de um estudo já antigo – e que está atualmente ultrapassado – que identificava uma importante quantidade de genes relacionados com a inteligência no cromossoma X. Uma vez que os elementos do sexo feminino têm dois cromossomas X, enquanto os do sexo masculino têm apenas um, gerou-se esta associação de que os genes da inteligência viriam do lado da mãe.

Estudos mais recentes reconhecem que existe uma ligação entre os genes presentes no cromossoma X e o desenvolvimento do cérebro, explicam os especialistas do Meedan Digital Health Hub, uma plataforma de investigação que combate a desinformação na área da saúde. Porém, não foram identificados genes essenciais para o desenvolvimento do Quociente de inteligência (QI) especificamente neste cromossoma.

A genética por trás do desenvolvimento da capacidade cognitiva é ainda um assunto que levanta dúvidas entre a comunidade científica. Pode haver milhares de variantes genéticas responsáveis pelo desenvolvimento da inteligência. Estes genes provêm de ambos os progenitores e não apenas da mãe. Um estudo realizado no Reino Unido, em 2017, permitiu identificar 40 novos genes que podem estar ligados à capacidade cognitiva do indivíduo.

Além disso, a inteligência tem também outros fatores associados, não é unicamente determinada pela composição genética. Além dos genes, existe também influência de fatores externos como o ambiente, a condição socioeconómica ou dos problemas de saúde que a criança possa ter.

Por isso, é falso dizer que a inteligência é herdada apenas da mãe, uma vez que ambos os progenitores passam ao feto genes que estão relacionados com o desenvolvimento cognitivo. Por outro lado, é também importante atentar nos fatores externos que podem interferir no desenvolvimento da inteligência da criança.