PUB

Fact-Checks

Nutrição

Não, os alimentos não se transformam em açúcar mas podem ter glicose na sua composição

2 Mai 2022 - 09:00

Nutrição

Não, os alimentos não se transformam em açúcar mas podem ter glicose na sua composição

“Pão branco, bolos, biscoitos, grão de bico, arroz integral, mel, refrigerantes”, entre outros. Estes são alguns dos alimentos que integram uma lista partilhada nas redes sociais. A premissa é direta: “Alimentos que se transformam em açúcar no seu sangue” – com destaque para a palavra “açúcar”. Será verdade?

Vamos por partes. A referência ao açúcar feita na publicação refere-se à glicose, um monossacarídeo que é utilizado pelas células do corpo como fonte de energia. Esta molécula está presente em vários alimentos, às vezes em formas mais complexas – como é o caso dos hidratos de carbono. Além da glicose, existem outros dois monossacarídeos importantes na alimentação: a frutose e a galactose.

A maior parte dos alimentos que integram a lista são ricos em hidratos de carbono, ou seja, têm na sua composição moléculas de açúcar. “Qualquer alimento que esteja naquela lista vai resultar em glicose”, explica ao Viral Tiago Soares Pina, nutricionista no Centro Hospitalar Universitário de Coimbra e professor na Universidade de Coimbra.

“A maior fração energética daqueles alimentos é composta por hidratos de carbono que, no final da digestão, vão ser decompostos num elemento básico que é a glicose. A glicose vai ser usada como fonte de energia para o nosso corpo”, prossegue. Na verdade, não se trata de uma “transformação”, como é dito na publicação, mas sim de um processo de decomposição que decorre com todos os alimentos durante a digestão.

“A maior fração energética daqueles alimentos é composta por hidratos de carbono que, no final da digestão, vão ser decompostos num elemento básico que é a glicose. A glicose vai ser usada como fonte de energia para o nosso corpo”.

O nutricionista reconhece que o intuito da publicação é dizer que “vai tudo dar ao mesmo”, ou seja, que tanto faz comer arroz integral ou bolachas porque, em ambos os casos, vão ser ingeridas muitas calorias – medida energética muitas vezes associada à alimentação. No entanto, o especialista destaca que “as calorias não são tudo”.

PUB

“Apesar de metermos tudo em calorias, em termos de valor nutricional temos de dar mais importância a determinados alimentos e não tanta a outros”, prossegue. “Não podemos pensar que o nosso corpo só precisa de energia, até porque nós funcionamos bem com menores quantidades de energia”.

“Não podemos pensar que o nosso corpo só precisa de energia, até porque nós funcionamos bem com menores quantidades de energia”.

Se compararmos o mesmo número de calorias em diferentes alimentos que fazem parte da lista iremos encontrar valores nutricionais muito diferentes. O arroz integral, por exemplo, “tem uma boa quantidade de fibra, alguns tipos de gordura benéficos e um tempo de digestão lenta”; por outro lado, os refrigerantes “são calorias vazias, só dão energia ao corpo sem nenhum aporte de micronutrientes que são fundamentais ao para o bom funcionamento do organismo”, explica o professor.

Ou seja, não se pode afirmar que os alimentos se transformam em açúcar, a verdade é que estes alimentos são ricos em hidratos de carbono, um composto orgânico que contém na sua composição glicose. Esse açúcar é essencial para dar energia ao organismo. Tiago Soares Pina afirma que esta publicação “parece que está a diabolizar todos os alimentos que contenham hidratos de carbono”, acrescenta Tiago Soares Pina.

Açúcar é uma droga? Não, não é

Os monossacarídeos são nutrientes importantes ao funcionamento do corpo porque fornecem energia, mas a sua redução não causa sinais de carência. Este mito está relacionado com a região do cérebro que é ativada quando se ingerem alimentos ricos em açúcar: “Os locais do cérebro que são ativados quando consumimos hidratos de carbono ou alimentos ricos em açúcar são os mesmos campos do hipotálamo que são ativados quando se consome uma droga, como a cocaína”, explica Tiago Soares Pina.

“Em termos cerebrais, as zonas ativadas são as mesmas. Mas o grau de dependência nunca é o mesmo, como é óbvio. Nós não somos dependentes de açúcar, somos dependentes de energia. O nosso cérebro só funciona com energia, nós fornecemos ao cérebro glicose como fonte de energia e, às vezes, essa carência de energia gera maior necessidade de comer.”

PUB

“Em termos cerebrais, as zonas ativadas são as mesmas. Mas o grau de dependência nunca é o mesmo, como é óbvio. Nós não somos dependentes de açúcar, somos dependentes de energia”.

O especialista destaca que um indivíduo que consuma drogas irá enfrentar determinados sinais de carência – como tremores, falta de energia, hiperatividade, suores incontroláveis – que não acontecem quando se reduz o nível de açúcar consumido. “Quando deixo de comer chocolate, que andava a comer há três dias, não tenho esses sinais de privação”, sublinha o nutricionista.

PUB

“Há órgãos que são dependentes de açúcar: o cérebro, a medula óssea, os músculos, os globos vermelhos”, prossegue. Quando os níveis de açúcar ingeridos são inferiores aos que o corpo necessita, o organismo terá de compensar esta falta de glicose. Para isso, irá proceder à “transformação em energia os ácidos gordos provenientes da gordura e os aminoácidos provenientes da proteína – que não deviam ser usadas como fonte de energia”. Em casos extremos, essa situação pode causar problemas graves de saúde.

É importante manter um equilíbrio nutricional no seu prato. Se procura perder ou ganhar peso de forma saudável, o melhor será procurar conselhos de um profissional da nutrição, que irá desenhar um plano alimentar direcionado às suas necessidades energéticas e estilo de vida.

2 Mai 2022 - 09:00

Partilhar:

PUB