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Atividade Física

Músculos transformam-se em gordura quando se deixa de fazer exercício? Não é bem assim

26 Abr 2022 - 09:00

Atividade Física

Músculos transformam-se em gordura quando se deixa de fazer exercício? Não é bem assim

A prática de exercício físico é importante para a prevenção de doenças não transmissíveis – como doenças cardíacas, diabetes ou cancro. No entanto, é comum ouvir-se dizer que, quando se deixa de fazer exercício físico, os músculos transformam-se em gordura. Será que a ciência confirma?

Não é verdade que os músculos se transformem em gordura. As células musculares e as células adiposas (ou de gordura) têm “estruturas celulares diferentes não transformáveis”, explica ao Viral Henrique Jones, médico especialista em ortopedia e medicina desportiva. No entanto, é verdade que a interrupção da prática desportiva está relacionada com uma diminuição do tamanho das células musculares e um aumento das células adiposas – mas não uma transformação.

Quando se para a atividade física regular, “a composição corporal altera-se e começa a existir atrofia das células musculares”, afirma o especialista. Por outro lado, “como também se gasta menos calorias, as células adiposas proliferam, o que leva a um aumento de gordura corporal”. As células adiposas podem infiltram-se no músculo, uma situação que está também relacionada com a idade, o sedentarismo, doenças, distúrbios alimentares.

É verdade que a interrupção da prática desportiva está relacionada com uma diminuição do tamanho das células musculares e um aumento das células adiposas – mas não uma transformação.

“A atividade física ajuda a diminuir essa infiltração. A paragem da mesma, o envelhecimento ou o sedentarismo promovem essa alteração da composição muscular”, esclarece Henrique Jones. Quanto mais gordura se desenvolver, maior será também a hipotrofia das células musculares, o que acaba por resultar numa menor capacidade de contração muscular. Esta situação que pode levar ao desenvolvimento uma patologia conhecida como Sarcopenia.

O que ocorre no corpo quando paramos o exercício físico?

Quando se faz exercício – dependendo da duração e da intensidade – os músculos são contraídos para gerar energia. No caso dos exercícios prolongados de baixa intensidade, “há um aumento progressivo da quantidade de gordura oxidada pelos músculos em atividade, para produção de energia”, o que significa que as gorduras – ácidos gordos livres plasmáticos e triglicéridos musculares – são os substratos dominantes. Já nos exercícios de alta intensidade, são os açúcares ou hidratos de carbono que ocupam esse papel.

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Mas quando paramos, os efeitos não tardam a fazer-se sentir: “A partir das duas semanas ocorre uma alteração da sensibilidade à insulina (importante nos mecanismos moleculares de captação de glicose para o trabalho muscular), uma diminuição da massa muscular e uma diminuição do benefício cardiovascular”, explica Henrique Jones. “Uma paragem de três meses pode levar a uma diminuição da força e da massa muscular com retrocessos até níveis anteriores ao início da prática de exercício. A boa notícia é que as células musculares têm ‘memória’ e, com o regresso ao exercício, essa ‘memória muscular’ ajuda na reposição dos níveis de força e massa muscular.”

“Uma paragem de três meses pode levar a uma diminuição da força e da massa muscular com retrocessos até níveis anteriores ao início da prática de exercício. A boa notícia é que as células musculares têm ‘memória’ e, com o regresso ao exercício, essa ‘memória muscular’ ajuda na reposição dos níveis de força e massa muscular.”

A interrupção da prática de exercício físico desequilibra a balança entre a energia ingerida (através da alimentação) e a energia consumida. Por isso, “a melhor forma de evitar a acumulação de gordura corporal após paragem de exercício físico (por opção, lesão, doença, mudança de estilo de vida ou outra razão) é controlando a quantidade de calorias a ingerir diariamente, o que significa alterar radicalmente a dieta em quantidade e qualidade”, aconselha o médico.

“Além da importância de fatores genéticos e metabólicos na acumulação de gorduras e tendência à obesidade, apenas poderemos controlar a gordura corporal pelo aumento do consumo de calorias – através do exercício – ou pela diminuição da ingestão calórica – através de intervenção nutricional.”

O sedentarismo é um problema que atinge mais de metade dos portugueses. Segundo um estudo publicado pela Fundação Portuguesa de Cardiologia, cerca de 64% dos portugueses confessam fazer menos de uma hora e meia de exercício por semana. Segundo o assessor médico da FPC, Luís Negrão, “o mais preocupante neste estudo é o facto de 43% dos inquiridos que se assumem como sedentários dizerem que fazer exercício físico não é muito importante nem interessante”.

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Para promover a atividade física, Organização Mundial de Saúde emitiu um conjunto de diretrizes com exercícios para as diferentes faixas etárias.

26 Abr 2022 - 09:00

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