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Mosquitos picam mais as pessoas com “sangue doce”?

14 Mai 2023 - 08:00
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Mosquitos picam mais as pessoas com “sangue doce”?

Quando expostas à presença de mosquitos, umas pessoas são mais picadas do que outras. Para justificar esta diferença, muitas vezes, é comum ouvir-se dizer que os mosquitos preferem pessoas com “sangue doce”. Mas esta ideia tem fundamento? 

Em declarações ao Viral, Paulo Gouveia de Almeida, investigador e professor de Entomologia Médica e Parasitologia do Instituto de Higiene e Medicina Tropical (IHMT) da Universidade Nova de Lisboa, e Ivan Munoz, coordenador de Medicina Geral e Familiar no Hospital CUF Descobertas, esclarecem o porquê de algumas pessoas serem mais picadas por mosquitos do que outras e explicam como evitar e tratar essas picadas.

É verdade que os mosquitos picam mais as pessoas com o chamado “sangue doce”? 

Segundo Ivan Munoz, “o conceito ‘sangue doce’, não é um conceito médico”. De facto, a diabetes caracteriza-se “pela presença de glicose (tipo de açúcar) em excesso no sangue, mas não implica necessariamente que seja ‘mais doce’”. 

Além disso, explica Paulo Gouveia de Almeida, a associação que se faz entre o “sangue doce” e as picadas de mosquito também “é um mito”. O facto de algumas pessoas serem mais picadas do que outras está relacionado com outros fatores.

Uma das causas importantes para esta diferença “são os odores que emanam da nossa pele”, aponta o especialista. 

A pele tem, por um lado, “uma camada de gorduras naturais, produzida pelas glândulas sebáceas” e, por outro, “uma população natural de bactérias que degradam os produtos dessa mesma gordura”. 

Nesse sentido, “os compostos químicos resultantes dessa degradação é um dos principais fatores atraentes para os mosquitos”, clarifica.

Na perspetiva de Paulo Gouveia de Almeida, o suor também é um aspeto importante, já que “os mosquitos preferem, por exemplo, o cheiro da sudação dos pés”. Mesmo havendo pessoas que dizem que não suam muito, de facto, “os mosquitos detetam odores que nós não detetamos”, esclarece. 

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Outro fator bastante relevante, segundo o investigador, é a temperatura corporal. Por exemplo, “doenças como malária – que aumentam a temperatura do corpo – também intensificam a atratividade para os mosquitos”. 

Nesse sentido, “mais mosquitos vão picar a pessoa e, eventualmente, muitos desses insetos que não estavam infetados com o parasita vão ficar e transmitir a outras pessoas”.

Igual importância, enquanto causa para as picadas de mosquitos, tem “o dióxido de carbono que emitimos na nossa respiração”. Além disso, mesmo havendo poucos estudos, também já se detetou alguma influência da carga genética.

Noutro plano, existem motivos que dependem do mosquito em causa. “Há mosquitos com uma preferência por picar determinados tipos de animais, como aves, e outros preferem picar mamíferos”. 

Em contrapartida, “há mosquitos que têm a capacidade de serem muito oportunistas”, ou seja, alimentam-se do “primeiro animal que apareça”.

Quais os perigos associados às picadas de mosquitos? 

Ivan Munoz esclarece que “a gravidade das picadas vai depender do sítio das picadas e da intensidade da resposta imunológica de cada pessoa”. 

Na perspetiva do médico, “as reações alérgicas graves são muito raras” e são “muito mais comuns em crianças pequenas que foram picadas e sensibilizadas, mas ainda não desenvolveram imunidade natural aos mosquitos”. 

Nestes casos, “as reações, às vezes, são acompanhadas de febre baixa e mal-estar”.

Noutro plano, salienta Paulo Gouveia de Almeida, há mesmo picadas de mosquitos em que, habitualmente, a reação é diferente. “Uns dão uma pápula pequena” e “outros fazem um inchaço muito grande”, aponta. 

Um dos grandes perigos da picada dos mosquitos, segundo o professor do IHMT, é poderem transmitir doenças. Ivan Munoz alerta que, “em algumas regiões do mundo, sobretudo tropicais e subtropicais, os mosquitos podem transmitir doenças como a malária, febre amarela, dengue, filariose linfática, chikungunya”.

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Existe alguma forma de prevenir estas picadas? 

Na perspetiva de Paulo Gouveia de Almeida existem várias formas de prevenir as picadas de mosquitos. 

Primeiro, pode-se evitar a exposição aos mosquitos nas horas em que picam mais. “Por exemplo, os mosquitos das zonas do sapal picam mais de manhã e ainda antes do pôr do sol”.

Por outro lado, o especialista recomenda “usar roupa de cores claras, de preferência de manga comprida, e calças não muito finas nem muito justas – já que os mosquitos picam através das calças de ganga”.

Contudo, “fazer isto no verão é difícil”, admite. Portanto, defende Ivan Munoz, “a forma mais eficaz é a utilização de repelente”. 

Paulo Gouveia de Almeida informa que estes produtos estão disponíveis em várias formas (stick, roll-on, leite corporal) e “devem conter um elemento químico chamado DEET”. Aliás, os repelentes com maiores concentrações de DEET são recomendáveis às pessoas que vão viajar para países tropicais”, sustenta.

Por último, a mesma fonte propõe ainda que “as pessoas usem uma rede mosquiteira nas janelas de casa” ou recorram aos difusores.

O que fazer depois das picadas? 

Para aliviar os sintomas, Ivan Munoz explica que “podem ser utilizados anti-histamínicos e/ou corticóide tópico de potência baixa, ou moderada”. 

Paulo Gouveia de Almeida frisa que existe uma grande variedade de pomadas e géis cutâneos para este efeito e, por isso, deve “haver um aconselhamento na farmácia” sobre qual o mais indicado.

Outra opção “para aliviar a comichão e o inchaço” é “passar um cubo de gelo” nas zonas afetadas.

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Além disso, o especialista do IHMT considera importante “evitar coçar”. Porquê? “Quanto mais coçamos, mais libertamos a histamina do nosso próprio organismo” e isso provoca “maior prurido, ou seja, maior inflamação”. 

Em casos mais graves, alerta Ivan Munoz, “como a presença de edema da face ou com sintomas sistémicos (febre, dificuldade respiratória), recomenda-se uma avaliação médica urgente”.

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14 Mai 2023 - 08:00

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