Num vídeo partilhado no TikTok, defende-se a importância de lavar os morangos antes de os consumir. Depois de apresentar uma técnica de lavagem desta fruta (sobre a qual o Viral já escreveu), a autora da publicação alega que “o morango é um dos alimentos que mais absorvem pesticidas”.

Esta tese tem fundamento? E a quantidade de pesticidas presentes nos morangos pode ser prejudicial à saúde? Em declarações ao Viral, André Pereira, professor na Faculdade de Farmácia da Universidade de Coimbra (FFUC), e Isabel Ratão, professora na área da segurança alimentar no Instituto Superior de Engenharia (ISE) da Universidade do Algarve, esclarecem estas questões.

É verdade que o morango é um dos alimentos que mais absorvem pesticidas?

A resposta dos dois especialistas questionados pelo Viral é “sim”. Segundo Isabel Ratão, o morango absorve mais pesticidas, porque é uma fruta que “possui uma casca muito fina e permeável”.

Por outro lado, explica André Pereira, os morangos são também “dos alimentos em que se utilizam mais pesticidas” não só “durante a sua produção”, mas também depois, com o objetivo de “manterem o aspeto bonito durante mais tempo”.

O especialista sublinha, contudo, que, por norma, “são respeitados os valores limites máximos [de pesticidas] permitidos por lei”.

A quantidade de pesticidas que os morangos absorvem faz mal à saúde?

“Não”, responde Isabel Ratão. “Existem limites de pesticidas permitidos por lei”. Por isso, continua, “parte-se do princípio que os alimentos existentes no mercado são controlados, e que os agricultores respeitam os intervalos de segurança”. Assim sendo, sustenta, “tudo o que está à venda é seguro”.

Aliás, acrescenta André Pereira, “comparativamente ao resto do mundo”, na União Europeia “temos regulamentos relativamente restritos” em relação à quantidade de pesticidas utilizados na agricultura.

Não obstante “as exceções ou limites um pouco problemáticos”, a verdade é que essas delimitações “são cumpridas”, reforça o professor da FFUC.

Para que servem os limites para os pesticidas?

De acordo com o relatório mais recente (2021) da Autoridade Europeia para a Segurança Alimentar (EFSA, na sigla inglesa) sobre o tema, “os resíduos de pesticidas resultantes da utilização de produtos fitofarmacêuticos em culturas ou produtos alimentares utilizados na alimentação humana podem constituir um risco potencial para a saúde pública”. 

Por este motivo, “foi estabelecido um quadro legislativo abrangente na União Europeia, que define regras para a aprovação de substâncias ativas, as suas utilizações em produtos fitofarmacêuticos e os seus resíduos admissíveis nos alimentos”, lê-se no mesmo documento. 

De forma a proteger os consumidores, “os limites máximos de resíduos, que proporcionam uma ampla margem de segurança, baseiam-se nas boas práticas agrícolas”.

Optar por morangos biológicos: sim ou não?

Na perspetiva de Isabel Ratão, é importante ter em conta que as frutas e os vegetais convencionais contêm quantidades de pesticidas seguras para consumo. “É por isso que existem regras de qualidade e segurança para todos os produtos alimentares”, realça.

No caso das frutas com cascas mais espessas, o professor da FFUC sugere que o consumidor pode garantir mais segurança ao “descascar a fruta”, já que “a maior parte dos contaminantes se encontra mesmo na camada exterior” e muito raramente passa para o interior.

Contudo, aponta Isabel Ratão, sempre que não se puder remover a casca, “é preferível escolher biológico”. Isto porque “nos biológicos não se usa pesticidas ou usa-se de forma muito controlada”. 

Na visão de André Pereira, isto levanta outras questões. “Ao usarmos ótimos produtos biológicos corremos um risco maior de haver um desenvolvimento de fungos, nomeadamente nos morangos”, esclarece.

Além disso, acrescenta o especialista, a falta de pesticidas “também faz com que eles percam o aspeto bonito e se degradem mais depressa”.

Portanto, os morangos biológicos são tendencialmente melhores, mas isto não quer dizer que sejam inócuos. “Não se pode dizer que os biológicos não têm qualquer problema”, reforça André Pereira.

Noutro plano, Isabel Ratão destaca que “a produção em modo biológico não consegue alimentar toda a população e o preço também não é acessível a todos”.

Em suma, é verdade que o morango é um dos alimentos que mais absorvem pesticidas. No entanto, à luz do conhecimento atual, o seu consumo é considerado seguro, já que na União Europeia estão estabelecidos limites para os pesticidas que, por norma, são cumpridos.