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Misturar alguns produtos de limpeza pode ser perigoso para a saúde?

8 Mar 2023 - 10:49
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Misturar alguns produtos de limpeza pode ser perigoso para a saúde?

Encher um balde com água, colocar detergente concentrado e, com um pano ou uma esfregona, limpar as superfícies é um dos métodos utilizados na tarefa rotineira de limpar a casa. Cada pessoa tem os seus produtos de limpeza preferidos e usa-os para eliminar sujidade, bactérias e microrganismos das superfícies.

Para aumentar a eficácia da limpeza, há quem decida misturar diferentes tipos de produtos de limpeza. Mas será esta prática segura para a saúde? Quais as possíveis consequências negativas?

Misturar produtos de limpeza: sim ou não? Pode ser perigoso?

misturar produtos de limpeza

Ao juntar dois produtos de limpeza no mesmo espaço, existe a possibilidade de se libertarem gases que podem ser tóxicos. A reação depende dos químicos presentes nos detergentes em causa e não acontece com todos os produtos de limpeza. Ainda assim, por precaução, o melhor é evitar essas misturas.

Este é o conselho do Centro norte-americano para o Controlo de Venenos: “Não misture produtos de limpeza para obter um efeito mais forte”, uma vez que as “combinações podem gerar gases perigosos”.

Por exemplo, segundo esta entidade, “se misturar lixívia com amoníaco, gera-se gás cloramina, que provoca muita tosse” e a “lixívia misturada com um produto de limpeza ácido liberta gás cloro”, um vapor que é tóxico.

Também a Fundação norte-americana para a Educação sobre Toxicologia alerta que “a mistura de produtos de limpeza pode rapidamente gerar vapores tóxicos”. 

A inalação desses vapores “pode causar irritações ou queimaduras nos olhos, no nariz e na garganta, tosse, dificuldade em respirar, danos nos pulmões e até a morte”. 

O pneumologista Tiago Alfaro, pneumologista e vice-presidente da Sociedade Portuguesa de Pneumologia, reconhece que “ocasionalmente” chegam às urgências pacientes que “fizeram junção de produtos de limpeza e estiveram expostos a gases em espaços fechados e pouco ventilados”.

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Nesses casos, os utentes podem apresentar “crises de falta de ar, pieira, e, em casos graves, descida dos níveis de oxigénio no sangue”.

Estas situações ocorrem quando os gases libertados pela mistura de substâncias reativas são inalados em quantidades suficientes para desenvolver um efeito irritativo nas vias respiratórias ou nos pulmões.

Pessoas com doença respiratória crónica – asma, doença pulmonar obstrutiva crónica (DPOC), insuficiência respiratória, entre outras – são mais sensíveis, alerta o pneumologista. 

“A exposição a estes agentes podem espoletar crises – até só pelo cheiro”, sublinha.

Intoxicação por substâncias de limpeza entre as mais frequentes

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As substâncias utilizadas para a limpeza e higienização dos espaços são uma fonte comum de intoxicação – seja por inalação de gases, seja por contacto com a pele e com os olhos ou até por ingestão.

Dados do Centro norte-americano para Venenos, referentes a 2021, mostram que, nos Estados Unidos da América, as “substâncias de limpeza” foram a segunda maior categoria de substâncias a causar situações de intoxicação, correspondendo a 7,5% dos casos reportados.

Em Portugal, dados recolhidos pelo Centro de Informação Antivenenos (CIAV) – uma plataforma de consulta do INEM para assuntos relacionados com intoxicações – apontam que, em 2022, foram contabilizados em Portugal 24.034 casos de “exposição a um potencial tóxico”, dos quais 1.329 estavam relacionados com a utilização de “detergentes” – incluindo detergentes manuais, de máquina e outros de limpeza doméstica – e 1.464 com o manuseamento de “lixívias”.

Na categoria de “produtos”, os “detergentes” e as “lixívias” surgem no topo da lista dos mais reportados, logo a seguir às “substâncias abuso” – na qual se incluem as intoxicações alcoólicas. A categoria “medicamentos” foi a que registou um maior número de casos de intoxicação reportados.

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As cápsulas de detergente da roupa são também uma preocupação para as autoridades. Por serem “brilhantes e de cores chamativas”, estas cápsulas são “particularmente atrativas para as crianças que as podem confundir com guloseimas, rebuçados ou doces”, alerta o CIAV. 

Esta situação motivou um “número apreciável de chamadas” – em 2016 foram contabilizados 115 casos. 

Os casos de intoxicação resultam do “manuseamento pelas crianças que, ao rebentarem as cápsulas nas mãos ou na boca, atingem os olhos, a cavidade oral e a pele”.

Na União Europeia (e, por isso, em Portugal), todos os produtos químicos disponíveis no mercado estão sujeitos a uma regulamentação e fiscalização apertada

A lei obriga a que todos os produtos de limpeza tenham, nos rótulos, um conjunto de indicações de segurançaincluindo os símbolos de perigo – que devem ser tidas em conta durante o manuseamento destas soluções. Antes de usar qualquer detergente, deverá ler com atenção o rótulo e proceder segundo as indicações nele incluídas.

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Em caso de contaminação, deverá lavar abundantemente a zona atingida e ligar para o CIAV. Se a intoxicação for por inalação, antes de ligar, deverá abandonar o ambiente contaminado, “de preferência para o ar livre”. 

Em conclusão, não é aconselhável misturar produtos de limpeza com o objetivo de aumentar a sua eficácia, dado que a conjugação de diferentes componentes presentes em alguns detergentes pode resultar na libertação de gases tóxicos. A lixívia é um dos detergentes que reage com vários componentes químicos. Antes de utilizar qualquer produto de limpeza, deve-se ler as indicações de segurança referidas na rotulagem. Além disso, manter o espaço arejado e ventilado pode também ajudar a evitar potenciais intoxicações.

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