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Medicamento para a diabetes é seguro e eficaz na perda de peso?

O Ozempic (semaglutido) é vendido nas farmácias como um medicamento para a diabetes sujeito a receita médica. No entanto, verifica-se uma tendência crescente em utilizar este medicamento para o tratamento da obesidade. Este fármaco é seguro e eficaz na perda de peso?

25 Out 2022 - 09:06

Medicamento para a diabetes é seguro e eficaz na perda de peso?

O Ozempic (semaglutido) é vendido nas farmácias como um medicamento para a diabetes sujeito a receita médica. No entanto, verifica-se uma tendência crescente em utilizar este medicamento para o tratamento da obesidade. Este fármaco é seguro e eficaz na perda de peso?

Um medicamento para a diabetes tipo 2 vendido pelo nome “Ozempic” entrou na agenda noticiosa nos últimos dias, depois de várias notícias (como esta do jornal Público) adiantarem que o fármaco está a ser prescrito para tratar a obesidade, fazendo disparar a despesa do Serviço Nacional de Saúde (SNS). Mas será que este medicamento é seguro para a perda de peso? Quem pode tomá-lo? E quais os riscos?

O que é o “semaglutido”?

Este fármaco, com “o nome comercial Ozempic” e conhecido internacionalmente por “semaglutido”, faz parte de uma classe de medicamentos – os agonistas de GLP 1 –  cujo objetivo é “o tratamento da diabetes e da obesidade”, começa por esclarecer o endocrinologista no Centro Hospitalar Universitário de São João (CHSJ), João Sérgio Neves.

Segundo a Agência Europeia de Medicamentos (EMA), o Ozempic é um medicamento que deve ser injetado, através de “canetas pré-cheias”, “debaixo da pele da barriga, da coxa ou da parte superior do braço”.

Numa fase inicial, a dose recomendada é 0,25 mg uma vez por semana. “Após quatro semanas, esta dose deve ser aumentada para 0,5 mg” e, “se necessário, a dose pode ser ainda aumentada até um máximo de 1 mg uma vez por semana”. 

Este medicamento para a diabetes é seguro e eficaz para perda de peso?

João Sérgio Neves avança que o semaglutido melhora a “libertação de insulina”, “diminui o apetite”, melhora “o esvaziamento gástrico” e “aumenta a saciedade”. Por isso, acrescenta, “além de controlar a diabetes, ajuda também na perda de peso”.

Apesar de não apresentar perigos para a saúde, de uma forma geral, este tipo de fármaco “não deve ser feito sem uma indicação médica” e requer “sempre de um acompanhamento médico”, alerta o especialista.

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O médico realça a importância de “uma monitorização”, porque pode haver, em algum momento, “efeitos adversos, nomeadamente náuseas e vómitos”. 

O que explica a procura deste medicamento para a perda de peso?

Tal como explicado pelo endocrinologista, o semaglutido faz parte de uma classe de medicamentos que, de acordo com a evidência científica, é eficaz no tratamento da obesidade e da diabetes.

A questão é que Portugal – como a maioria dos países – não comparticipa medicamentos para a obesidade, ou seja, “o custo fica todo do lado do utente”, garante o endocrinologista. Por outro lado, na diabetes, “o estado comparticipa todos os medicamentos em 90% e, por exemplo, este fármaco fica bastante barato”. 

Por isso é que os medicamentos para a perda de peso e para a diabetes “são comercializados em duas formulações diferentes”, ou seja, com dois nomes distintos. 

A título de exemplo, João Sérgio Neves clarifica que um dos fármacos com esses efeitos (e que também pertence à classe agonistas de GLP 1), chamado liraglutido, “é vendido com o nome “Victoza” para a diabetes e com o nome “Saxenda” para a obesidade”.

Ora, no caso do semaglutido existe apenas uma formulação disponível nas farmácias, indicada para a diabetes. Quer isto dizer que “não existe a formulação equivalente para a obesidade, o uso fora das indicações do fármaco”, explica.

Como se justifica a preferência pelo semaglutido? 

O semaglutido tem características específicas que os fármacos mais antigos não têm como, nomeadamente o facto de requerer apenas uma toma semanal e não diária (como no liraglutido).

Além disso, “em doentes com diabetes que têm um alto risco cardiovascular, este medicamento reduz o risco de enfarte, AVC ou morte cardiovascular”, aponta o médico.

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Para mais, segundo um Relatório Público de Avaliação do Infarmed, “face ao comparador liraglutido, o medicamento [semaglutido] sugeriu comparabilidade terapêutica e apresenta um custo menor que o mesmo”.

Portanto, simplifica Neves, aqui verifica-se “não uma questão de segurança”, mas sim uma grande dificuldade de acesso, principalmente nas pessoas com diabetes que têm um grande benefício na utilização deste medicamento”. 

A toma deste fármaco tem de ser contínua?

A resposta é sim. O médico realça que o semaglutido se trata de “um fármaco crónico”. Isto é, “quer para a diabetes, quer para a obesidade, serve para um tratamento continuado”. 

Tal como a diabetes, a obesidade também é considerada uma doença crónica, refere o especialista do CHSJ e “uma das grandes dificuldades nesta doença, é evitar o reganho de peso”.

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Assim, tal como acontece quando se volta a ter um estilo de vida mais sedentário e uma alimentação mais calórica, “se parar de tomar este medicamento, a tendência é o peso voltar ao que era antes”.

O mesmo acontece se o semaglutido for utilizado para tratar a diabetes. “Se o usarmos para controlar a glicemia e pararmos de o tomar, a glicemia volta a subir”, conclui.

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25 Out 2022 - 09:06

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