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Máscara de aspirina é tão eficaz quanto um alisamento químico do cabelo?

24 Abr 2023 - 08:00
falso

Máscara de aspirina é tão eficaz quanto um alisamento químico do cabelo?

Alega-se nas redes sociais e em vários blogues que fazer uma máscara caseira de aspirina permite “alisar o cabelo em casa de forma natural” e “sem químicos”.

O autor de uma destas publicações defende mesmo que os resultados desta receita caseira no cabelo são semelhantes aos de uma escova progressiva (um tipo de alisamento químico popular, por exemplo, no Brasil).

A receita consiste em misturar “aspirina, leite em pó, bepanthene, creme de hidratação capilar, natas e leite integral”. Além dos supostos efeitos de alisamento prolongado do cabelo, os autores destes posts defendem que esta mistura “trata e hidrata os fios”. Mas será esta máscara eficaz? Quais os riscos?

Aplicar uma máscara caseira de aspirina alisa o cabelo?

Em declarações ao Viral, Alia Ramazanova, médica de clínica geral e especialista em tricologia, garante que não existem provas da eficácia deste método no alisamento prolongado do cabelo.

O efeito provocado por esta máscara será meramente temporário e em nada semelhante aos alisamentos químicos feitos em cabeleireiros. A especialista aponta que esta máscara pode conferir “algum tipo de hidratação ao cabelo”, tornando-o “aparentemente mais liso” e fazendo com que “não encrespe tanto”.

Contudo, contrapõe, “a partir do momento em que lavamos o cabelo, ele volta à sua forma original”. Portanto, “teríamos de voltar a aplicar a mesma máscara para depois criar o mesmo efeito”, sustenta Ramazanova.

O efeito desta máscara acaba por ser semelhante, por isso, ao das “máscaras reparadoras e hidratantes” comercializadas habitualmente. O objetivo destes produtos “é também fazer uma reparação apenas temporária”, porque “a única forma de reparar um cabelo estragado é com o próprio crescimento”.

Quanto aos ingredientes desta máscara caseira, a médica refere que “todas as misturas caseiras semelhantes a esta incluem a adição de bepanthene, que é um creme hidratante, regenerador e reparador”. No entanto, o efeito de reparação acontece quando este produto é aplicado na pele e “não tem qualquer tipo de efeito sobre o cabelo”.

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O único efeito deste produto é a nível da hidratação. A gordura do creme “vai ajudar a fechar as cutículas do cabelo para lhe dar um aspeto mais saudável”, esclarece.

Estas máscaras também costumam incluir “uma máscara de hidratação para o cabelo, o que acaba por ajudar nesse efeito da restauração da camada lipídica superficial”, destaca Alia Ramazanova.

Já a adição de leitenão tem qualquer tipo de explicação lógica”, frisa. A única razão para a sua utilização poderá ser, segundo a especialista, “o ácido lático do leite”. No entanto, esse composto “é mais utilizado na medicina estética, em termos de pele, pois não tem qualquer tipo de efeito no cabelo”.

Na visão da especialista, o uso das aspirinas poderá advir de “uma perceção errada da molécula do medicamento”. Porquê? “O ácido acetilsalicílico”, ou seja, “a molécula da aspirina, é um analgésico”, cujo objetivo é “diminuir ou eliminar a dor”. 

Depois, “existe uma molécula com um nome muito semelhante, que é o ácido salicílico”, refere a especialista em tricologia.  “Apesar de terem nomes muito parecidos, são moléculas completamente diferentes, com finalidades completamente distintas”, salienta.

O ácido salicílico é, realmente, “um componente de muitos champôs utilizados, por exemplo, para o tratamento da caspa”. Esta molécula “ajuda a diminuir a secreção sebácea e também tem uma ação esfoliante”. Mas este composto não tem nada a ver com o ácido acetilsalicílico, que “não faz absolutamente nada aos fios de cabelo”, reforça.

Quais os perigos associados à aplicação desta mistura?

Estas misturas são partilhadas nas redes sociais como uma solução mais fácil e mais barata. Contudo, na perspetiva da médica de clínica geral, ao recorrerem a estes métodos, “as pessoas acabam por expor o cabelo a perigos maiores do que se fossem simplesmente ao cabeleireiro”.

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O grande perigo associado à aplicação desta máscara são as reações alérgicas, “sobretudo à aspirina”, alerta Alia Ramazanova. 

“O ácido acetilsalicílico pode causar algum tipo de irritação, especialmente se forem pessoas que têm o couro cabeludo mais sensível, ou com tendência a uma dermatite”, acrescenta.

Assim, a médica não aconselha, de todo, a aplicação desta máscara. Nesse sentido, recomenda que os alisamentos e as permanentes sejam feitos “em sítios especializados”, onde se pode “controlar o dano, minimizando-o”.

De facto, qualquer um destes procedimentos danifica o cabelo de alguma forma. No entanto, “hoje em dia, os produtos químicos utilizados estão mais do que estudados e tenta-se utilizar o mínimo de produto necessário para o efeito que nós desejamos”, informa.

Além de serem “produtos testados e habitualmente hipoalergénicos”, mesmo “na indústria do cabeleireiro, tenta-se sempre ir para uma vertente mais natural, ao usar-se produtos biológicos e de origem vegana”.

Aliás, segundo a médica, “já não é utilizado tanto o amoníaco para realizar esses procedimentos, porque este é extremamente agressivo para a pessoa que faz a intervenção e também para o profissional que a aplica”.

É possível alterar a forma do cabelo de modo prolongado sem recurso a químicos?

“O cabelo é uma estrutura que cresce constantemente (24 horas por dia), a uma velocidade de mais ou menos um centímetro a um centímetro e meio por mês”, contextualiza Alia Ramazanova. 

“A forma do cabelo” de cada pessoa (liso ou encaracolado) é “definida pela forma da raiz”. Isto é, “se a raiz for reta, o cabelo vai ser liso, se tiver uma forma ligeiramente curvada, o cabelo já vai ser mais encaracolado”, esclarece.

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A “haste do cabelo” (a parte visível) “é uma estrutura que já não tem células vivas, ou seja, é uma combinação de proteínas – como a queratina – que está conectada por ligações”. De facto, “estas ligações só podem ser alteradas de forma química”, assegura a especialista.

Assim, de forma geral, o que se faz nos alisamentos ou nas permanentes é aplicar produtos específicos que “destroem estas ligações entre as moléculas do nosso cabelo”. Depois, através de outro produto, “criam-se novas uniões” de forma a que “o cabelo mantenha a estrutura desejada após o procedimento”, conclui.

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24 Abr 2023 - 08:00

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