A margarina é o alimento mais cancerígeno que existe?
Utilizada para cozinhar ou para barrar o pão, a margarina é apresentada nas redes sociais como o alimento “mais cancerígeno” do mundo. Num vídeo publicado no TikTok alega-se que a margarina é um “veneno” considerado pela comunidade médica o “alimento mais cancerígeno” que existe.
Para tentar provar o ponto, o autor do vídeo desafia os espectadores a deixarem “uma margarina aberta” para verem “se algum animal chega perto para se alimentar”.
Mas confirma-se que a margarina é o alimento mais cancerígeno do mundo? Quais os perigos da ingestão excessiva de margarina?
É verdade que a margarina é o alimento mais cancerígeno que existe?
Em declarações ao Viral, Paula Alves, diretora do Serviço de Nutrição do IPO do Porto, e Paula Ravasco, investigadora e coordenadora da pós-graduação de Nutrição em Oncologia da Universidade Católica Portuguesa (UCP), adiantam não existir evidência científica que comprove que a margarina é o alimento mais cancerígeno do mundo.
Paula Alves começa por explicar que “existem muitos alimentos com efeito procarcinogéneo”. Nesse plano, continua, “as margarinas e os subprodutos destas são produzidos a partir de óleos vegetais refinados”, sendo que, devido ao seu processo de produção, estes produtos podem “conter algumas substâncias ou contaminantes que também têm esse efeito”.
A diretora do Serviço de Nutrição do IPO do Porto explica que “uma das gorduras mais estudadas é o óleo de palma, pelo potencial em conter compostos tóxicos e mutagénicos (como os cloropropanóis e ésteres glicídicos de ácidos gordos)”.
Apesar de estes componentes não estarem mencionados no rótulo, na visão da nutricionista, “teremos de confiar nas entidades reguladoras que fiscalizam estes processos”, já que existem doses limite de segurança.
Além disso, assinala Paula Alves, a Autoridade Europeia para a Segurança Alimentar (EFSA) “tem uma legislação definida, onde inclui valores máximos permitidos para a presença de ésteres glicólicos de ácidos gordos nos óleos vegetais”.
O importante é haver um consumo contido. “A relação entre as gorduras vegetais e o aumento do risco de cancro tem sido alvo de muita discussão e pesquisa nos últimos anos”, aponta a especialista.
O World Cancer Research Fund, por exemplo, concluiu “não existir evidência de que ingerir óleos vegetais e de sementes, em quantidades moderadas, possa aumentar o risco de cancro”.
Além disso, é importante perceber que a “exposição a estes compostos não virá apenas do consumo da margarina” para cozinhar em casa, dado que este alimento é utilizado “de forma massiva pela indústria alimentar, nomeadamente em produtos de pastelaria e confeitaria”, clarifica.
Quais os riscos para a saúde de consumir margarina em excesso?
Na visão de Paula Alves, “o consumo regular de alimentos processados, tais como produtos de pastelaria e de confeitaria, ricos em óleos vegetais e açúcares, também contribuem para outros fatores de risco de cancro como, por exemplo, o excesso de peso, a obesidade e a diabetes”.
Paula Ravasco alerta ainda para o risco cardiovascular, sublinhando que a margarina “é uma gordura saturada, normalmente consumida em grande quantidade”.
Além disso, a especialista considera que este é o tipo de alimento “que as pessoas consomem e nem se apercebem da quantidade ingerida, porque ou vai misturado num molho, ou acaba por ser incorporado nos próprios alimentos”.
A margarina é “uma gordura pouco equilibrada, muita saturada e com muito baixa densidade”. Por isso, “quanto mais margarina ingerirmos, mais gordura vai ser produzida no nosso organismo”, sintetiza.
Assim, conclui Paula Alves, “a abordagem prudente é limitar o consumo destas gorduras processadas”. Além disso, deve-se privilegiar “o consumo de gorduras insaturadas provenientes de plantas, sementes, frutos oleaginosos e de peixes gordos”.
Na confeção, é aconselhado usar “métodos culinários simples” e controlar “a temperatura a que se cozinha é fundamental para prevenir o desenvolvimento de cancro”.
Quais as alternativas à margarina?
Quando se opta por comer uma sandes, por exemplo, “a manteiga é uma boa alternativa”, assume Paula Ravasco. Segundo Paula Alves, “a manteiga, apesar de ser uma gordura saturada que deve ser consumida com moderação, poderá ser uma melhor opção pelo seu menor processamento e pela sua riqueza nutricional”.
Contudo, “o seu consumo deve ser preferencialmente à temperatura ambiente, evitando as temperaturas elevadas que também a podem alterar e transformar num produto de risco”, avisa a especialista.
Se o objetivo é cozinhar a altas temperaturas, a manteiga destrói-se e “produz outros compostos que são instáveis”. Por isso, “não é aconselhada”, sustenta Paula Ravasco. Assim, no caso da confeção alimentar, “o azeite é a melhor gordura, quer seja para fazer sopas, para cozinhar no forno ou para a fritura”, exemplifica a docente da UCP.
Em suma, a ideia de que a margarina é considerada o alimento mais cancerígeno do mundo é falsa, embora o consumo desta gordura deva ser moderado.
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