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Leucemia mieloide crónica: 7 perguntas e respostas sobre a doença que terá sido diagnosticada a Weinstein

23 Out 2024 - 09:31

Leucemia mieloide crónica: 7 perguntas e respostas sobre a doença que terá sido diagnosticada a Weinstein

A imprensa norte-americana noticiou esta semana que o antigo produtor de Hollywood Harvey Weinstein terá sido diagnosticado com leucemia mieloide crónica (LMC), um tipo de cancro raro. Contudo, além de não terem sido reveladas as fontes, Craig Rothfeld, o representante legal de Weinstein para os cuidados de saúde, recusou-se a comentar o assunto.

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Harvey Weinstein, de 72 anos, está detido na prisão Rikers Island, em Nova Iorque, a cumprir uma pena de 16 anos por violação e agressão sexual. Aguarda, também, um novo julgamento, no decorrer do caso mediático que impulsionou o movimento #MeToo, depois de a sentença de 23 anos de prisão ter sido anulada por um tribunal de recurso.

O alegado diagnóstico de Weinstein surge numa fase em que já tinha sido reportado que o antigo produtor estava a passar por outros problemas de saúde. Segundo a NBC News, no mês passado, o produtor foi submetido a uma cirurgia cardíaca de emergência e, em julho, foi hospitalizado com uma pneumonia bilateral após ter testado positivo à Covid-19

Mas o que é a leucemia mieloide crónica? Quais os sintomas e como é tratada? Neste artigo, respondemos a sete questões sobre a doença.

O que é a leucemia mieloide crónica?

Tal como explica a Sociedade Americana do Cancro, num texto, a leucemia mieloide crónica (LMC) “é um tipo de cancro que começa em determinadas células da medula óssea que formam o sangue”.

De modo geral, salienta, “ocorre uma alteração genética numa versão inicial (imatura) das células mieloides” e “essa alteração forma um gene anormal”, transformando-as em células leucémicas imaturas (ou blastos).

Estas células “crescem e dividem-se, acumulando-se na medula óssea e passando para o sangue”. Com o tempo, “as células podem também instalar-se noutras partes do corpo, incluindo o baço”, acrescenta. 

Além da LMC, existem outros tipos de leucemia. De acordo com a informação disponível no site da Liga Portuguesa Contra o Cancro (LPCC), “os tipos de leucemia são agrupados pela rapidez de desenvolvimento da doença e o seu agravamento”. 

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A leucemia “pode ser crónica (piora lentamente) ou aguda (piora rapidamente)”. Apesar de a LMC ser “uma leucemia de crescimento relativamente lento”, “pode transformar-se numa leucemia aguda de crescimento rápido e difícil de tratar”, aponta a Sociedade Americana do Cancro.

Os tipos de leucemia dividem-se ainda de acordo com o “tipo de glóbulos brancos que são afetados”, aponta a LPCC. A leucemia “pode surgir em células linfoides” (leucemia linfocítica) ou “em células mieloides” (leucemia mieloide).

É mais comum em adultos?

Sim. Segundo o texto da LPCC, a leucemia mieloide crónica “é responsável por cerca de 4400 novos casos de leucemia, todos os anos”, e “afeta principalmente os adultos”.

Apesar de poder “ser diagnosticada em qualquer idade”, é “mais comum em pessoas com 65 anos ou mais”, salienta o Serviço Nacional de Saúde britânico (NHS, na sigla inglesa), num texto.

Além disso, num texto do MedlinePlus, um site de informação sobre saúde que pertence aos Institutos Nacionais da Saúde (NIH, na sigla inglesa) dos Estados Unidos, refere-se que a LMC “é ligeiramente mais frequente nos homens”.

A leucemia mieloide crónica pode não causar sintomas?

É verdade. Há situações em que a LMC não causa quaisquer sintomas (ver aqui, aqui e aqui), sobretudo nas fases iniciais da doença.

Quando se verificam sintomas, “nem sempre são óbvios e podem ser semelhantes aos de outras doenças”, refere-se num texto do NHS.

Segundo o Instituto Nacional do Cancro (NCI) dos Estados Unidos, os doentes com leucemia mieloide crónica podem ter “perda de peso sem motivo”, “suores noturnos abundantes”, “febre”, “dor ou sensação de plenitude abaixo das costelas do lado esquerdo” e podem sentir-se muito cansados.

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Quais as causas da doença?

Tal como outros tipos de leucemia, “pensa-se que a LMC resulta de uma mutação (ou alteração) adquirida num ou mais genes que normalmente controlam o crescimento e o desenvolvimento das células sanguíneas”, lê-se num texto partilhado no site da Fundação da Leucemia australiana.

Esta alteração origina um “crescimento anormal”. A maioria das pessoas com LMC “tem uma anomalia genética nas suas células sanguíneas, chamada cromossoma Filadélfia”, mas a razão pela qual esta mutação ocorre “permanece desconhecida”, explica-se.

Sabe-se, no entanto, que esta doença não é hereditária, ou seja, “não é transmitida de pais para filhos”, salienta o NCI.

Como é diagnosticado este tipo de cancro?

De acordo com a Sociedade Americana do Cancro, a leucemia, seja de qual for o tipo, “é frequentemente detetada quando o médico pede análises ao sangue para um problema de saúde não relacionado ou durante um check-up de rotina” (ver aqui).

Isto porque, “mesmo quando os sintomas estão presentes, são frequentemente vagos e inespecíficos”, justifica.

Para se detetar especificamente a leucemia mieloide crónica, é necessário fazer alguns exames. No texto do MedlinePlus explica-se que, em primeiro lugar, o médico faz “um exame físico”, em que verifica os sinais gerais de saúde e investiga a história clínica do doente.

De seguida, são feitos “exames de sangue, como hemograma completo com diferencial e exames de química do sangue”. 

Também se fazem “análises da medula óssea”, que “envolvem a remoção de uma amostra de medula óssea e de osso”, prossegue-se.

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Além disso, recorre-se a “testes genéticos para procurar alterações nos genes e nos cromossomas, incluindo testes para procurar o cromossoma Filadélfia”.

Caso a pessoa seja diagnosticada com LMC, pode ter de “fazer exames adicionais, como exames imagiológicos, para verificar se o cancro se espalhou”, conclui-se.

A leucemia mieloide crónica tem estadios como os outros cancros?

A Sociedade Americana do Cancro adianta que “é atribuído um estadio com base no tamanho do tumor e na extensão da disseminação do cancro” à maioria dos cancros. Os estadios “podem ser úteis para tomar decisões de tratamento e prever o prognóstico”, acrescenta.

Contudo, como a leucemia mieloide crónica “é uma doença da medula óssea, não é estadiada como a maioria dos cancros”. 

O prognóstico de um doente com LMC vai depender “da fase da doença”, “da quantidade de blastos na medula óssea”, da “idade” da pessoa, das “contagens sanguíneas” e “se o baço aumentou”.

Tal como expõe o NCI, existem três fases da LMC: a “crónica”, em que “menos de 10% das células do sangue e da medula óssea são blastos”; a “acelerada”, em que esta percentagem vai de “10 a 19%”; e a “blástica”, quando “20% (ou mais) das células do sangue ou da medula óssea são blastos”. 

Quando ocorrem sintomas como “o cansaço, a febre e o aumento do baço ocorrem durante a fase blástica”, o doente encontra-se em “crise blástica”.

Qual o tratamento disponível?

Existem vários tratamentos diferentes, que devem ser utilizados consoante a idade do doente, a fase da leucemia mieloide crónica, a quantidade de blastos e a saúde geral da pessoa (ver aqui, aqui e aqui).

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O doente com LMC pode ser tratado com uma “terapia dirigida, que utiliza medicamentos ou outras substâncias que atacam células cancerosas específicas com menos danos para as células normais”, adianta-se no texto do MedlinePlus. 

Além disso, pode-se recorrer à “quimioterapia” convencional ou à “quimioterapia de alta dose com transplante de células estaminais”.

Quando há transplante de células estaminais também se pode fazer uma “infusão de linfócitos do dador”, que consiste na “administração de uma infusão (na corrente sanguínea) de linfócitos saudáveis do dador” em questão, com o objetivo de “matar as restantes células cancerígenas”.

A “imunoterapia” também é uma opção de tratamento e pode-se ainda prescrever uma “cirurgia para remover o baço (esplenectomia)”, acrescenta-se.

A doença entra em remissão quando os sinais e sintomas do cancro reduzem ou deixam de existir. Isto não impede a doença de voltar. No caso de uma recaída, no contexto de leucemia mieloide crónica, “o número de blastos aumenta”, salienta o NCI.

23 Out 2024 - 09:31

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