São várias as publicações nas redes sociais que expõem os alegados benefícios da kombucha. A bebida é feita a partir de chá fermentado e muitos consomem-na por acreditarem que melhora o funcionamento do intestino e reforça o sistema imunitário.

Num destes posts escreve-se que a kombucha “contém uma cultura de levedura e bactérias conhecidas como SCOBY” e que “estas bactérias equilibram a flora intestinal, o que ajuda a fortalecer o sistema imunológico e a melhorar o funcionamento do intestino”. Mas será mesmo assim?

É verdade que a kombucha melhora o funcionamento do intestino e reforça o sistema imunitário?

Em declarações ao Viral, a nutricionista Inês Barreiros Mota, docente e investigadora na NOVA Medical School (NMS), esclarece que existe alguma evidência sobre os benefícios da kombucha, mas adianta não haver provas suficientes que permitam afirmar que esta bebida impede o desenvolvimento de doenças intestinais ou do sistema imunitário.

Devido aos “seus constituintes e à evidência pré-clínica, pode-se afirmar que esta é uma bebida com potencial benefício para a saúde intestinal”, acrescenta.

No entanto, continua, “a evidência é limitada e não garante que esta bebida impedirá o desenvolvimento de qualquer problema gastrointestinal ou distúrbio no sistema imunitário”.

Por isso, completa a nutricionista, é necessário ter algum cuidado: “Não sendo específico para a kombucha, o consumo de produtos fermentados por indivíduos mais sensíveis pode potenciar o surgimento de sintomatologia gastrointestinal, flatulência, distensão abdominal, entre outros”, alerta. 

O que é a kombucha e quais os potenciais benefícios?

“A kombucha é uma bebida originária do nordeste da China” que “ resulta da fermentação de chá preto e açúcar pela ação de uma cultura de bactérias e leveduras denominada SCOBY”, começa por explicar Inês Barreiros Mota.  

Durante o processo da fermentação, prossegue, “são produzidos compostos, tais como o ácido acético – que justifica o pH reduzido da bebida – e polifenóis”. 

Além disso, ainda são fabricados “outros compostos com atividade antioxidante – que podem servir de alimento às bactérias do nosso intestino – e ainda com algumas vitaminas (C e do complexo B) e minerais (cobre, ferro, manganês, níquel e zinco)”.

“A própria bebida é uma fonte de bactérias ácido-lácticas e leveduras”, sintetiza a investigadora da NMS.

Na visão da nutricionista, existe atualmente uma “maior sensibilização para o cuidado do intestino, incluindo o conjunto de microrganismos que nele habitam (microbiota intestinal)”. É por causa desta sensibilização que “a kombucha tem ganhado destaque”. 

No entanto, segundo a especialista, “são raros os estudos que avaliam o consumo desta bebida em humanos”. Inês Barreiros Mota faz referência a um estudo com 36 pessoas com síndrome do intestino irritável que “reportou melhorias na obstipação (ou prisão de ventre)”.

Noutro plano, num trabalho com 42 indivíduos saudáveis, verificou-se que o  “consumo de kombucha não levou a modificações na composição do microbiota intestinal”, realça a docente da NOVA Medical School.

Por outro lado, “estudos pré-clínicos, em modelos celulares e em animais, evidenciam vários benefícios como a diminuição do stress oxidativo, inflamação, melhoria no processo de desintoxicação do fígado”.

Esta evidência mostra “que o seu consumo pode ter algum benefício no controlo e tratamento da obesidade e comorbidades associadas, bem como na modulação do microbiota intestinal”. 

Em suma, a evidência científica existente não é suficientemente robusta para comprovar os alegados benefícios da bebida. Assim sendo, são necessários mais estudos para verificar os eventuais efeitos da kombucha na saúde.