

Injeção de vitamina K dada a recém-nascidos causa problemas de fertilidade?
No Facebook alega-se que a injeção de vitamina K, recomendada a nível internacional para recém-nascidos, é perigosa, porque causa problemas de fertilidade. Segundo a autora do vídeo partilhado, “o principal ingrediente ativo” de “uma das soluções de vitamina K” é “o polisorbato 80”, uma substância “proibida em muitos países” por estar muito ligada “à infertilidade”. Será mesmo assim?
É verdade que a injeção de vitamina K recomendada para recém-nascidos causa infertilidade?
Não há evidência científica que comprove que a injeção intramuscular de vitamina K administrada a recém-nascidos seja perigosa ou que cause problemas de fertilidade.
Aliás, de acordo com as recomendações de organizações e instituições de saúde nacionais e internacionais, os recém-nascidos devem receber uma dose intramuscular de 1 mg de vitamina K para prevenir a Doença Hemorrágica por Défice de Vitamina K (ver aqui, aqui, aqui, aqui e aqui).
Existem ainda outras imprecisões no vídeo partilhado nas redes sociais. Em primeiro lugar, não é verdade que o polisorbato 80 seja “o principal ingrediente ativo” de injeções de vitamina K.
Tal como se refere num documento do Comité Científico da Segurança dos Consumidores (SCCS, na sigla inglesa) da Comissão Europeia, o principal ingrediente ativo desta injeção intramuscular é a fitomenadiona, também conhecida como vitamina K1.
O polisorbato 80 é apenas um excipiente, ou seja, um constituinte do medicamento. Esta substância pode estar presente em fármacos e é utilizada para estabilizar formulações aquosas de medicamentos injetáveis, como vacinas, por exemplo (ver aqui). Pode estar também presente em sabonetes, cosméticos e em gotas lubrificantes para os olhos.
Ao contrário do que é dito no vídeo em análise, o polisorbato 80 é uma substância segura nas concentrações utilizadas e aprovada em vários países (ver aqui, aqui, aqui e aqui), incluindo Portugal.
De acordo com Agência Europeia de Medicamentos (EMA), “a exposição a curto prazo” de polisorbato 80 inferior a 10 mg/kg (miligramas por quilograma de peso) por dia “é segura mesmo em bebés e recém-nascidos”.
Além disso, não existem provas de que o polisorbato 80 cause infertilidade ou esteja associado a problemas de fertilidade, refere-se no documento do SCCS.
Existe apenas um estudo de 1992, que refere que os órgãos reprodutivos de ratos expostos a polisorbato 80 à nascença ficaram deteriorados.
Contudo, os resultados obtidos não podem ser extrapolados, ou seja, não é possível garantir que os efeitos em humanos seriam os mesmos.
Além disso, os ratos do estudo em questão receberam no total, durante todo o procedimento, cerca de 720 mg por quilograma de peso corporal. Isto equivale a uma dose extremamente superior à utilizada numa injeção de vitamina K (cerca de 10 mg).
Alegações semelhantes já tinham sido verificadas (e desmentidas) por outras plataformas de fact-checking, como a AAP FactCheck e o Science Feedback.
Qual a importância da injeção intramuscular de vitamina K?
Segundo um texto dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC, na sigla inglesa), “os bebés nascem com quantidades muito pequenas de vitamina K armazenadas nos seus corpos, o que pode levar a um problema grave de hemorragia”, conhecido como doença hemorrágica por défice de vitamina K (DHDVK). A doença em questão pode causar “danos cerebrais” e, inclusive, levar “à morte”, acrescenta-se.
Por isso, sublinha-se num documento da Sociedade Portuguesa de Neonatologia (SPN), todos os recém-nascidos com peso inferior a 1500g “devem receber uma dose intramuscular de 1 mg de vitamina K até às 6 horas de vida para prevenir” a DHDVK.
Já existem formulações e regimes orais de vitamina K em alguns países. No entanto, ainda persistem preocupações sobre a eficácia da vitamina K oral, o que faz com que essa “não seja uma alternativa segura” e que “não seja recomendada em Portugal”, lê-se no mesmo documento.
