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Graviola é 10 mil vezes mais eficaz do que a quimioterapia?

O fruto graviola é apresentado nas redes sociais como uma cura milagrosa para o cancro. É verdade que a graviola é 10 mil vezes mais eficaz do que a quimioterapia?

5 Out 2022 - 10:40
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Graviola é 10 mil vezes mais eficaz do que a quimioterapia?

O fruto graviola é apresentado nas redes sociais como uma cura milagrosa para o cancro. É verdade que a graviola é 10 mil vezes mais eficaz do que a quimioterapia?

De casca verde e polpa branca, a graviola é apresentada nas redes sociais como “o mais poderoso anticancro do planeta”. Escreve-se em várias publicações que este fruto é “10 mil vezes mais eficaz do que a quimioterapia” e, por isso, aconselha-se a ingestão do seu sumo ou de infusões feitas com as suas folhas.

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Os autores destes textos que circulam no Facebook há vários anos –   e que continuam a ser partilhados até aos dias de hoje – afirmam ainda que os supostos efeitos deste “produto milagroso” não são mais divulgados porque, se tal acontecesse, as “grandes cadeias iriam parar de vender medicamentos”.

Afinal, a graviola é mesmo mais eficaz do que a quimioterapia?

Não há evidência científica suficiente para suportar a ideia de que a graviola é 10 mil vezes mais eficaz do que a quimioterapia. Diogo Alpuim Costa, oncologista em vários hospitais CUF, adianta ao Viral que “infelizmente, há muita informação e contrainformação” sobre os “eventuais efeitos do consumo de chá de graviola em doentes com cancro sob tratamento com quimioterapia”.

O especialista acredita que a “confusão instalada” se deva ao facto de “um dos constituintes do chá de graviola, o composto acetogenina”, ter demonstrado “propriedades antiproliferativas em estudos pré-clínicos (em laboratório)”. 

Ainda assim, assegura o médico, “este facto não é condição sine qua non para se extrapolar que esta bebida possa ser utilizada, desde já, no tratamento do cancro no ser humano”.

No mesmo sentido, a organização independente de investigação do cancro “Cancer Research UK” publicou um artigo na sua página oficial alertando para o facto de não existir “evidência fidedigna suficiente de que a graviola funcione como um tratamento para o cancro”. Além disso, sustentam, embora “muitos websites promovam a graviola como uma cura para o cancro”, nenhuma “organização científica respeitável apoia qualquer uma destas alegações”.

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A instituição remete para uma revisão sistemática publicada em 2015 que concluiu que, apesar de  vários estudos terem mostrado os efeitos positivos do uso da graviola, são necessários “ensaios clínicos mais robustos e sistemáticos para testar e confirmar o seu valor no tratamento do cancro” e para avaliar a sua segurança. “Só então este fruto poderá ser utilizado como tratamento para o cancro”, conclui o texto.

Há riscos em consumir graviola?

A “Cancer Research UK” sublinha não existir informação suficiente sobre “como a graviola afeta o corpo”, mas aponta que “algumas substâncias químicas presentes na graviola preocupam os cientistas” por poderem, eventualmente, “causar alterações nervosas e distúrbios de movimento”.

A instituição avança, contudo, ser “improvável” que bebidas ou alimentos com graviola possam ser prejudiciais “quando consumidas como parte de uma dieta normal”.

Nesse plano, Alpuim Costa lembra que a graviola tem “alto teor de vitamina C” e “é rica em vitaminas, magnésio, cálcio, zinco e sódio”. Por isso, para o especialista, há dois riscos mais relevantes no consumo deste fruto por parte de doentes com cancro. 

Por um lado, à luz da falta de maior evidência, “não se poderá garantir de forma segura que o chá de graviola, a par de outros tratamentos alternativos, não possa diminuir a eficácia da quimioterapia e até potenciar os seus efeitos secundários”.

O segundo perigo é os doentes deixarem “de cumprir com o tratamento convencional proposto, aderindo exclusivamente às terapêuticas alternativas”, o que “poderá levar a consequências graves e potencialmente irreparáveis do contexto oncológico”.

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Assim sendo, conclui o especialista, os utentes devem “seguir estritamente as orientações da sua equipa médica” e não consumir “chá de graviola, nem outros suplementos, sem informar os profissionais que os acompanham”.

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5 Out 2022 - 10:40

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