Para as mulheres que gostam de sushi, passar os nove meses de gravidez sem degustar o apreciado prato da cozinha japonesa pode ser um sacrifício. É certo que o sushi não é apenas composto por peixe cru, mais conhecido por sashimi, mas será que é mesmo seguro comer esta iguaria nipónica na gravidez?

Questionada pelo Viral sobre se as grávidas podem continuar a comer sushi, Cristina Nogueira-Silva, especialista em Ginecologia e Obstetrícia e professora da Escola de Medicina da Universidade do Minho e investigadora do Instituto de Investigação em Ciências da Vida e Saúde, diz que a resposta é “sim e não”. Ou seja, “depende muito das condições em que o sushi foi preparado” e, nessa medida, se não conhecer muito bem o restaurante e tiver plena confiança no modo de acondicionamento e preparação dos alimentos, é melhor não arriscar.

Quais os perigos de ingerir sushi durante a gravidez?

A especialista explica que os maiores perigos da ingestão de sushi não estão relacionados com a toxoplasmose, que resulta da infeção pelo parasita Toxoplasma gondii e pode ser transmitida a humanos pelo consumo de alimentos como carne crua ou mal passada, frutas e vegetais mal lavados ou por descascar, pela ingestão de água não filtrada ou pelo contacto com terra ou areia que esteja contaminada com oocistos esporulados de fezes de gatos.

Segundo a especialista, “os maiores perigos do sushi na gravidez estão relacionados com os riscos de intoxicação alimentar, pois todo o alimento cru, que não seja armazenado de forma correta e seja consumido de forma fresca, tem associado o risco provocar uma infeção alimentar no consumidor”. 

No fundo, o sushi rege-se pelos mesmos princípios do marisco, dos ovos ou dos doces de ovos frescos. “Se vamos a uma festa no verão e temos o doce de ovos ao sol é melhor não comer, porque se corre o risco de ser infetado por salmonella ou ter uma intoxicação alimentar”, lembra a ginecologista-obstetra.

Sofia Rocha, nutricionista, corrobora que “o risco do sushi está associado ao modo de preparação e às condições de armazenamento que podem potenciar a contaminação de microrganismos patogénicos, como bactérias ou parasitas”, que podem dar origem a intoxicações alimentares que, além do desconforto, podem mesmo levar ao internamento da grávida devido a desidratação severa.

Outro risco associado ao consumo desta especialidade japonesa é a eventual contaminação por mercúrio, pois alguns peixes utilizados nas peças de sushi, como o atum fresco, são ricos neste metal. 

Este é o motivo para ser aconselhado às grávidas o consumo esporádico de peixes como o atum ou peixe-espada, já que a contaminação com altos teores de mercúrio, explica a especialista em Ginecologia-Obstetrícia, está associada “a alterações no desenvolvimento do sistema nervoso do feto” que podem comprometer a saúde do bebé.

E se a grávida quiser mesmo comer sushi?

Sofia Rocha reconhece ao Viral que, numa primeira análise, os alimentos que compõem as várias peças de sushi “até podem parecer interessantes do ponto de vista nutricional”. 

“Dependendo das peças, estas podem ter baixo teor de gordura, podem ser uma fonte interessante de ómega-3, de proteína, de vitaminas, de minerais e de hidratos de carbono, como o que encontramos no arroz”, enumera a nutricionista.

O problema está no modo de preparação que, por exemplo, na confeção adiciona muitas vezes açúcar ao arroz e na utilização de molhos como o de soja, normalmente muito ricos em sal.

Por isso, se a grávida for mesmo muito apreciadora das iguarias japonesas, o ideal será fugir do sashimi, ou seja, escolher peças sem carne crua e sem peixe cru, optar por peças vegetarianas, manter-se longe dos molhos, escolher um restaurante de confiança ou escolher um menu de grávida, que alguns estabelecimentos já desenharam especificamente para quem não prescinde do sushi nem durante a gestação.