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Glutamato monossódico é o “pior veneno que consumimos na comida”?

2 Abr 2023 - 08:00

Glutamato monossódico é o “pior veneno que consumimos na comida”?

“Veneno”, “perigoso” e “tóxico” são três palavras comuns a várias publicações das redes sociais nas quais se descreve os supostos malefícios para a saúde do glutamato monossódico, um composto utilizado como aditivo alimentar para realçar o sabor da comida.

A título de exemplo, num post do Facebook, alega-se que o glutamato monossódico é “o pior veneno que consumimos na comida”. O autor do texto partilhado considera este aditivo alimentar “perigosíssimo” para a saúde por, supostamente, “apresentar um alto nível de sódio, gordura e produtos químicos”. Mas será mesmo assim?

O glutamato monossódico é “um veneno” e não deve ser consumido?

Em declarações ao Viral, Leandro Oliveira, nutricionista e investigador no Centro de Investigação em Biociências e Tecnologias da Saúde (CBIOS) da Universidade Lusófona, começa por explicar que o glutamato monossódico é o sal do ácido glutâmico, está presente naturalmente em vários alimentos, e é utilizado “na indústria alimentar como aditivo para realçar o sabor dos alimentos”.

Apesar da má reputação que o glutamato monossódico foi ganhando ao longo dos anos, o investigador sublinha que o seu consumo moderado é considerado seguro pelas várias entidades ligadas à segurança alimentar, nomeadamente pela Autoridade Europeia para a Segurança dos Alimentos (EFSA) e pela agência norte-americana responsável pela proteção da saúde pública, a Food and Drug Administration (FDA).

Além disso, boa parte das alegações que circulam online sobre os potenciais malefícios deste aditivo alimentar não são fundamentadas em evidência científica sólida, robusta e conclusiva.

O glutamato monossódico é frequentemente associado a um conjunto de reações – como “palpitações, dores de cabeça, tonturas, náuseas, dores no pescoço, fraqueza muscular” – conhecido como “complexo de sintomas de glutamato monossódico” ou “síndrome dos restaurantes chineses”.

Contudo, tal como se lê num pequeno texto publicado na página da revista Yale Scientific, não existe evidência científica conclusiva “que ligue o glutamato monossódico a qualquer um destes sintomas, embora se reconheça que uma pequena minoria de pessoas possa ter reações leves e a curto prazo” a este aditivo alimentar.

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No mesmo sentido, Leandro Oliveira assinala que uma revisão de literatura publicada em 2009 “concluiu que não existe uma relação clara e consistente” entre a ingestão de glutamato monossódico e o desenvolvimento da condição vulgarmente conhecida como “síndrome dos restaurantes chineses”.

Na conclusão de um outro estudo mais recente referido por Leandro Oliveira indica-se que “a análise crítica da literatura existente estabelece que muitos dos efeitos negativos na saúde do glutamato monossódico relatados têm pouca relevância para a exposição humana crónica e são pouco informativos, uma vez que se baseiam numa dosagem excessiva que não corresponde aos níveis normalmente consumidos nos produtos alimentares”.

Noutro plano, o nutricionista consultado pelo Viral adianta que, ao contrário do que se alega no Facebook, este aditivo alimentar não apresenta “um alto nível de sódio” – já que “a nível molecular apresenta a mesma quantidade de Na (sódio) que o sal de cozinha” – “nem gordura e açúcar”. Os alimentos aos quais o glutamato monossódico é adicionado é que podem “conter elevados níveis de sal, açúcar e gordura”.

Em suma, Leandro Oliveira reforça que, “de um modo geral, não se conseguiu provar claramente a associação do glutamato monossódico aos malefícios para a saúde apontados”.

Até agora, conclui, parece haver “maior evidência para apontar ao tipo de alimentos aos quais é adicionado glutamato monossódico – como alimentos processados ricos em sal e açúcar e outros que podem ter substâncias alergénicas – estes supostos malefícios do que ao glutamato monossódico propriamente dito”.

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2 Abr 2023 - 08:00

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