PUB

Fact-Checks

Dentes

Flúor nas pastas de dentes é venenoso e prejudicial à saúde? A dosagem foi estudada para não fazer mal

14 Jun 2022 - 09:00

Dentes

Flúor nas pastas de dentes é venenoso e prejudicial à saúde? A dosagem foi estudada para não fazer mal

Publicações nas redes sociais alegam que o flúor que faz parte da composição das pastas de dentes é tóxico e veneno para os seres humanos. Este elemento químico tem, de facto, uma toxicidade de 5mg por quilo, mas a concentração existente nas pastas de dentes e a dosagem utilizada a cada lavagem não chega perto desse limite.

O Viral falou com dois especialistas para perceber se a utilização das pastas de dentes traz riscos para a saúde.


O que vulgarmente identificamos como flúor é, na verdade, a molécula de fluoreto de sódio, um composto muito utilizado na prevenção de cáries. “Os grandes benefícios do flúor são dar um componente novo para fortalecer os nossos dentes e remineralizá-los com uma molécula mais forte. Tem também o efeito de desequilibrar o ácido que as bactérias provocam na boca com os hidratos de carbono”, explica ao Viral Sofia Batista, odontopediatra. “É o único mineral que tem estas vantagens de proteção contra as cáries e temos toda a vantagem de utilizar o flúor na nossa higiene oral.”

“Os grandes benefícios do flúor são dar um componente novo para fortalecer os nossos dentes e remineralizá-los com uma molécula mais forte. Tem também o efeito de desequilibrar o ácido que as bactérias provocam na boca com os hidratos de carbono”.

Também Armando Silvestre, diretor do departamento de Química da Universidade de Aveiro, sublinha que o ião fluoreto “é essencial na saúde dentária” e que apenas se torna negativo se for utilizado em excesso. “É a velha definição do que é um veneno: quando é em excesso, até a água é um veneno. Nas quantidades certas é absolutamente essencial”, remata.

“O flúor é o elemento químico que pode existir em muitas formas, mas aquela que existe normalmente na natureza, nas pastas de dentes e nas águas de consumo é o ião fluoreto na forma de fluoreto de sódio. O ião fluoreto é fundamental para a saúde dos dentes e, para garantir que temos a quantidade adequadas, ele deve existir ou nas águas de consumo e/ou nas pastas de dentes”, esclarece. A forma tóxica do Flúor é o F2, um gás perigoso que, segundo Armando Silvestre “não está ao acesso das pessoas no dia-a-dia”, sendo “manipulado em segurança à escala industrial”.

PUB

“É a velha definição do que é um veneno: quando é em excesso, até a água é um veneno. Nas quantidades certas é absolutamente essencial”.

Voltemos ao fluoreto de sódio: a utilização desta molécula na saúde oral está estudada e regulamentada pelas autoridades competentes. A Organização Mundial de Saúde (OMS) estipula que as pastas fluoradas devem conter entre 1.000 e 1.500 ppm (partes por milhão) deste componente para que tenham efeito na prevenção das cáries sem causar quaisquer danos à população. Também a Direção-Geral de Saúde (DGS) aponta valores semelhantes: “O Programa Nacional Promoção da Saúde Oral recomenda a escovagem dos dentes efetuada com dentífrico fluoretado (1.000-1.500 ppm), pelo menos duas vezes por dia, sendo uma delas obrigatoriamente à noite, antes de deitar.”

Os valores não são ao calhas, foram calculados tendo por base a toxicidade do flúor – que, segundo o estudo de Schulman e Wells é de 5mg por quilograma – e a concentração necessária para que tenha efeito na prevenção das cáries. Os estudos indicam que apenas as pastas de dentes com mais de 1.000 ppm de fluoreto de sódio na sua composição têm um efeito superior ao do placebo. A dosagem de pasta dentífrica a aplicar a cada lavagem é inferior quando se trata de crianças.

“Esta dosagem está calculada e tudo isto tem estudos associados que nos permitem garantir que a utilização na população humana seja em segurança.”

“Até aos três anos, a quantidade a pôr na escova é mais ou menos um grão de arroz cru – muito pequenino – dos três aos seis anos é a quantidade equivalente a uma ervilha, a partir daí começamos a medir pela unha do dedo mindinho”, explica Sofia Batista, tendo por base as diretrizes da Associação de Odontopedriatria dos EUA. “Esta dosagem está calculada e tudo isto tem estudos associados que nos permitem garantir que a utilização na população humana seja em segurança.”

PUB

A especialista em saúde oral infantil reconhece que existe o perigo da criança ingerir acidentalmente uma grande quantidade de pasta de dentes – que normalmente têm um sabor mais agradável para motivar à prática de lavar os dentes – e, por isso, aconselha a que sejam os pais os responsáveis por colocar a quantidade certa nas escovas. Deve também manter-se a pasta longe do alcance das crianças.

Vamos fazer as contas: uma criança com 10 quilos, por exemplo, teria de ingerir metade do tubo da pasta de dentes para atingir o valor tóxico (assumindo que esta tinha 1.450 ppm, uma dose considerada habitual). Já um adulto com 75 quilos teria de engolir quase três tubos e meio para atingir este limite. Os sintomas da ingestão exagerada de flúor são variados: podem ir desde uma ligeira indisposição ou, até mesmo, provocar a morte.

 

Categorias:

Higiene | Odontologia

14 Jun 2022 - 09:00

Partilhar:

PUB