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Florais de Bach são eficazes no tratamento da depressão e da ansiedade?

Os florais de Bach são apresentados nas redes sociais como eficazes no tratamento da depressão e da ansiedade. Mas essa alegação tem fundamento científico? E quais os tratamentos eficazes para estes problemas?

29 Dez 2022 - 08:00

Florais de Bach são eficazes no tratamento da depressão e da ansiedade?

Os florais de Bach são apresentados nas redes sociais como eficazes no tratamento da depressão e da ansiedade. Mas essa alegação tem fundamento científico? E quais os tratamentos eficazes para estes problemas?

Várias publicações nas redes sociais prometem que os florais de Bach ajudam no tratamento da depressão e ansiedade. Numa das partilhas pode ler-se que a terapia floral é uma “ótima aliada” e que é recomendada para “prevenir desequilíbrios”. Mas será mesmo assim?

O que são os florais de Bach?

Os florais de Bach são 38 líquidos diferentes. Vêm em pequenos frasquinhos castanho-escuros, normalmente de 10 ou 20 mililitros, e tomam-se às gotas.

Cada uma destas essências feitas a partir de flores é, alegadamente, concebida para combater um determinado problema. O kit completo com os 38 frascos pode rondar os 300 euros. O preço de cada frasco varia entre os 12 e os 14 euros.

Surgiram na década de 1930 e foram criados pelo médico britânico Edward Bach que, desiludido com a medicina convencional, decidiu explorar terapias alternativas recorrendo a flores. Desde então, os florais de Bach têm sido vendidos em ervanárias e lojas de produtos naturais alegando-se que servem para tratar problemas psicológicos, incluindo perturbações depressivas e de ansiedade. Confirma-se a eficácia destes produtos?

É verdade que os florais de Bach ajudam a tratar depressão e ansiedade?

“A hipótese de que os florais estão associados a efeitos além de uma resposta placebo não é suportada por dados de ensaios clínicos rigorosos”, conclui um estudo de 2002.

Antes de mais, há que explicar o conceito de placebo: é um tratamento que não possui nenhuma ação contra um sintoma ou uma determinada doença. Dois exemplos de placebos são injeções de soro fisiológico e comprimidos de açúcar.

Em declarações ao Viral, Jorge Loureiro, médico que trabalha no Hospital Magalhães Lemos na área da Psiquiatria, explica: “Há estudos que mostram que o placebo, só por si, já tem um efeito. Pensa-se que é um efeito psicológico, apesar de sabermos que não vai ter efeito clínico nenhum”.

Um artigo científico de 2010 reforça a conclusão do estudo de 2002: “os ensaios clínicos mais confiáveis ​​não mostram diferenças entre remédios florais e placebos”.

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E fazem mal?

Outro estudo, de 2009, refere também que os florais “não mostraram nenhum benefício geral em comparação com o placebo”.

O mesmo estudo acrescenta que, tendo em conta o número e a qualidade dos estudos já feitos, a força da evidência científica “é baixa ou muito baixa”. Indica ainda que os florais de Bach são “provavelmente seguros”, mas que “não há evidência de benefício em comparação com uma intervenção placebo”.

Sobre o uso destes produtos, Jorge Loureiro esclarece o seguinte: “Não haverá risco em termos de efeitos secundários, mas também não haverá benefício. O que importa aqui é se é melhor do que o placebo. Não é melhor. É igual ou pior.”

Em suma, a evidência científica mais robusta – resultante de ensaios clínicos controlados e onde as pessoas da amostra são escolhidas de forma aleatória – demonstra que não existe benefício comprovado dos florais de Bach em comparação com o placebo.

Conclui-se, portanto, que não há provas científicas que comprovem a eficácia destes florais no tratamento da ansiedade e depressão.

“Em comparação com os tratamentos que usamos na atualidade, realmente os florais de Bach não têm evidência”, realça Jorge Loureiro.

Que tratamentos médicos são feitos?

As orientações atuais em relação ao tratamento das perturbações depressivas e de ansiedade abordam várias medidas terapêuticas.

Os fármacos usados atuam nas alterações verificadas em determinados neurotransmissores que as pessoas com estas perturbações normalmente apresentam.

Os neurotransmissores são químicos que existem nos neurónios e que têm um papel determinante na comunicação entre neurónios a nível cerebral nas perturbações depressivas e ansiosas.

Os medicamentos utilizados focam-se nos neurotransmissores serotonina, noradrenalina e dopamina, que a evidência científica tem demonstrado estarem geralmente diminuídos nas pessoas que sofrem destes problemas. Os antidepressivos são dos fármacos mais usados nestes casos.

Outro tratamento disponível é a psicoterapia – onde o paciente e o psicólogo trabalham juntos para resolver problemas psicológicos e emocionais.

Caso se recorra a esta opção, é essencial existir uma boa relação com o terapeuta, dado que este é um dos fatores fundamentais para haver melhorias.

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É de destacar ainda a importância de um estilo de vida saudável para o tratamento e prevenção destas perturbações. Isto passa por uma alimentação saudável, prática regular de atividade física, consumo moderado de álcool e abstinência para o tabaco e outras drogas, e boa higiene de sono.

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O que fazer caso sinta que está deprimido ou ansioso?

“Em Portugal deve-se recorrer primeiro aos cuidados de saúde primários (Centros de Saúde), que podem remeter para a psiquiatria ou para psicologia se assim considerarem necessário.”, responde Jorge Loureiro.

Caso seja necessária ajuda imediata pode ligar-se para o serviço telefónico do Serviço Nacional de Saúde, o SNS 24 (808 24 24 24). Depois deve selecionar-se a opção 4, de aconselhamento psicológico. O serviço está disponível todos os dias, 24 horas por dia.

Categorias:

Saúde mental

29 Dez 2022 - 08:00

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