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Esta fita para a cabeça ajuda a adormecer mais rápido? O que se sabe até agora

24 Mar 2025 - 09:44

Esta fita para a cabeça ajuda a adormecer mais rápido? O que se sabe até agora

No TikTok, promove-se um dispositivo em formato de fita para cabeça que, supostamente, ajuda a adormecer mais rápido. Segundo o autor de um dos vídeos partilhados, este dispositivo “funciona através de uma técnica chamada neuromodulação” e, de modo geral, “cancela os estímulos cerebrais que nos fazem ficar acordados”, ao emitir sons que os neutralizam. Mas será que esta fita para a cabeça ajuda mesmo a adormecer? O que se sabe até agora?

Dispositivo que se coloca na cabeça ajuda a adormecer mais rápido?

Em declarações ao Viral, a neurologista Leonor Dias começa por explicar que, apesar de este tipo de dispositivos ser “interessante” e ter potencial no combate à “insónia inicial, são necessários mais estudos” que comprovem a sua eficácia.

Aliás, até à data, “as guidelines [diretrizes] europeias de insónia não recomendam a utilização deste tipo de dispositivos”, sublinha a médica.

Segundo a neurologista, o mecanismo de ação das fitas promovidas no TikTok “baseia-se na hiperativação cortical, uma das teorias que tentam explicar a insónia”.

No fundo, pensa-se que algumas “pessoas com insónia têm dificuldade em adormecer, porque têm uma atividade cerebral um pouco mais rápida, que interfere no adormecimento”.

Por esse motivo, começaram a ser estudadas formas de “interferir com estes ritmos cerebrais de forma a tentar promover o adormecimento”, prossegue.

Nesse sentido, a fita promovida no TikTok trata-se de um dispositivo não invasivo que funciona através de neuromodulação” (altera a atividade dos neurónios).

Neste caso concreto, esclarece Leonor Dias, “o dispositivo utiliza um estímulo acústico, porque sabemos que o som é, de facto, um elemento que pode interferir com algumas ondas cerebrais durante o sono”.

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Em teoria, o produto tem potencial para ser útil no adormecimento. No entanto, os estudos que existem sobre esta técnica e sobre o produto em si ainda são pouco robustos.

Para o dispositivo abordado no vídeo do TikTok em análise, “há um estudo recente em que se tenta perceber se este produto é útil a induzir o sono, nomeadamente na insónia inicial” (ver aqui).

O que os investigadores “tentam provar é que este dispositivo interfere com a hiperativação do cérebro, provoca uma disrupção dos ritmos cerebrais, o que pode levar a um adormecimento mais fácil”, explica Leonor Dias.

A fita estudada tem ainda “alguma adaptação individual”, ou seja, tem a capacidade de “induzir um estímulo adaptado às ondas cerebrais de cada pessoa”, acrescenta.

Apesar de os resultados serem promissores, é preciso ter em conta que este é só um estudo e tem algumas limitações.

Em primeiro lugar, “é um estudo muito pequeno”, apenas “com 21 pessoas”. Além disso, “o grupo de doentes foi muito selecionado”, pois contou-se apenas com adultos mais jovens.

Por outro lado, tentou-se “comparar o período em que as pessoas estão a utilizar o dispositivo ativo e o período em que estão a utilizá-lo inativo, mas não se conseguiu eliminar o efeito placebo, porque é possível perceber quando o produto não emite som”, refere a neurologista.

As pessoas que participaram no estudo também “foram aconselhadas a ter uma boa higiene do sono e a seguirem um conjunto de medidas aplicadas no próprio tratamento da insónia”. Por isso, não se percebe o verdadeiro impacto do dispositivo, por si só.

Apesar de ter sido registada “alguma redução do tempo de adormecimento, quando se avaliou a questão da qualidade do sono, não foi reportada uma diferença muito significativa pelo próprio utilizador”, sublinha.

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Importa ainda referir que “a insónia é uma condição muito complexa e, mesmo que estes ritmos mais rápidos existem em algumas pessoas, não sabemos se isto é uma causa da insónia ou uma consequência”, explica Leonor Dias.

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No fundo, realça a médica, “são necessários estudos com uma população superior e, idealmente, com um grupo de controlo importante”, para se perceber se este dispositivo “pode ser eficaz a induzir o sono”.

Os próprios autores do estudo sublinham a importância de haver mais trabalhos sobre o assunto, com “uma amostra maior”.

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Sono

24 Mar 2025 - 09:44

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