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Fazer sauna é a única forma eficaz de desintoxicar o organismo?

13 Set 2024 - 10:01
falso

Fazer sauna é a única forma eficaz de desintoxicar o organismo?

Partilham-se, nas redes sociais, várias publicações em que se alega que a sauna “é uma necessidade” atual, porque é a única forma eficaz de desintoxicar o organismo

Num vídeo do TikTok, defende-se que o ser humano está a ficar cada vez mais contaminado com toxinas provenientes da alimentação e do ambiente. Por esse motivo, sugere o autor do post, “a sauna, hoje em dia, acaba por ser um investimento importantíssimo” e, prevê, “daqui a dez anos”, vai ser “quase obrigatório para quem não quer sofrer com doenças relacionadas com esse tipo de exposição a toxinas”.

Noutro vídeo, publicado no Facebook, o autor vai mais longe ao afirmar que uma pessoa que “não faz sauna regularmente está a cometer um erro”, porque fica com “químicos terríveis” no organismo. Para o autor do vídeo, “a única forma fiável de nos livrarmos deles é com uma sauna”. Mas será mesmo assim? Fazer sauna é a única forma eficaz de desintoxicar o organismo?

É verdade que fazer sauna é a única forma eficaz de desintoxicar o organismo?

Em esclarecimentos ao Viral, Inês Espiga Macedo, especialista em Medicina Geral e Familiar no Hospital Lusíadas Porto, começa por adiantar “não é verdade” que a sauna seja a única forma eficaz de desintoxicar o organismo.

Aliás, prossegue a médica, apesar dos benefícios da sauna que têm vindo a ser estudados, a desintoxicação do organismo é feita pelo próprio corpo e não por qualquer técnica, alimento ou bebida.

O fígado e os rins, sobretudo, são responsáveis por limpar o organismo”, ou seja, “têm como função, precisamente, o processamento de uma série metabolitos”, explica.

Num texto informativo do MD Anderson, o Instituto do Cancro em Houston, nos Estados Unidos, também se reforça esta ideia e o papel do fígado na função de desintoxicação do organismo (ver também aqui e aqui).

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O corpo “não precisa de um programa de desintoxicação”, porque “ele foi concebido para se desintoxicar a si próprio”, salienta-se no mesmo texto.

O fígado, em específico, tem como objetivo “desintoxicar as coisas normais que comemos, respiramos e ingerimos”, acrescenta-se.

Por isso, adianta-se, “a coisa mais importante que pode fazer para ajudar o seu corpo a livrar-se das toxinas é cuidar do seu fígado” e “isso significa manter uma dieta saudável para que este importante órgão não fique sobrecarregado”.

Em relação à sauna, refere Inês Espiga Macedo, “o que os estudos têm demonstrado, nos últimos dez anos, é que esta prática pode ter vários benefícios para a saúde”.

A médica assinala uma revisão de 2021 em que se sugere que a sauna seca, em determinadas condições, e “durante uma sessão de 15 minutos”, possibilita a transpiração ao ponto de promover “a perda de cerca de meio quilo de água”.

Isto pode ser potencialmente benéfico dado que, tal como assinalam os autores do estudo, “a transpiração também facilita uma maior excreção de alguns metais pesados”, como o alumínio, o cádmio, o cobalto e o chumbo.

Além disso, segundo Inês Espiga Macedo, foram reportados potenciais benefícios da sauna para a “saúde cardiovascular”, “algum efeito protetor no desenvolvimento de doenças neurodegenerativas” e um possível impacto “na diminuição da perda de massa muscular” com a idade.

No entanto, na perspetiva da médica, importa salientar que estes benefícios são verificados em condições específicas e controladas, ou seja, existem vários fatores que podem aumentar ou diminuir as supostas vantagens da sauna para a saúde.

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Por exemplo, é preciso ter em conta “o tipo de sauna que estamos a falar”. A sauna referida como potencialmente benéfica na evidência científica disponível é a “seca” e não a “húmida” (em que há “uma inibição da transpiração”).

Mesmo quando se consideram as saunas secas, deve-se perceber ainda que a temperatura de diferentes saunas “pode variar muito entre os 60 e os 100 graus”, prossegue.

Além disso, “a fonte de calor” também é um fator importante. “A fonte mais tradicional na Finlândia [onde se realizaram grande parte dos estudos] é a queima da madeira, mas, hoje em dia, os aquecimentos por infravermelhos são mais usados”, destaca a médica.

Noutro plano, importa ainda salientar que a sauna não é a única técnica que promove a transpiração ou que pode ter os benefícios referidos. Aliás, no próprio estudo citado refere-se que a prática de atividade física também tem estes efeitos.

Há pessoas que não podem fazer sauna

Para a população geral, a sauna pode ter benefícios. Contudo, salienta Inês Espiga Macedo, é importante lembrar que “existem condições médicas que proíbem” a utilização desta prática.

No caso das grávidas, “há uma contraindicação médica”, aponta. Isto porque “o excesso de calor poderá levar a um aumento mais significativo da temperatura corporal da grávida, principalmente acima dos 39 graus, o que pode originar efeitos teratogénicos [malformações] no feto”, sustenta.

“As pessoas com doença cardíaca ou neurológica (do foro isquémico, como o AVC) não controlada” também não devem usar uma sauna, devido aos “mecanismos de ativação cardiovascular (como o aumento da frequência cardíaca)” associados a esta prática.

Por fim, pessoas com “doenças agudas acompanhadas de febre ou alterações inflamatórias da pele” também são aconselhadas a não fazer sauna.

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Para a população em geral, à partida, é seguro utilizar uma sauna, desde que as sessões não excedam os 20 minutos seguidos.

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Ficar numa sauna durante muito tempo e/ou expor-se a temperaturas muito elevadas pode causar quadros clínicos derivados da exposição excessiva ao calor.Tal como se esclarece num texto informativo publicado no site dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC, na sigla inglesa), os sintomas mais comuns das doenças relacionadas com o calor são: suor intenso e sobreaquecimento, desidratação, tonturas ou desmaios, fadiga, cãibras, espasmos, dores musculares, náuseas e irritação da pele.

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13 Set 2024 - 10:01

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