

Estatinas. Medicamentos para baixar o colesterol causam demência?
Nas redes sociais, circulam várias publicações em que se alega que as estatinas – medicamentos que servem para baixar o colesterol – causam demência.
Num dos vídeos partilhados defende-se que as estatinas são “medicamentos perigosos”. Noutro, sugere-se que “o cérebro é 60% de gordura e depende do colesterol para produzir hormonas e formar sinapses”, por isso, “atacar o colesterol é um erro grave”. Mas será que os medicamentos para baixar o colesterol causam demência?
É verdade que os medicamentos para o colesterol causam demência?
Em declarações ao Viral, Rui Araújo, neurologista e vice-presidente da Sociedade Portuguesa de Neurologia (SPN), adianta que não existe evidência científica que comprove que a toma de estatinas causa demência.
Segundo o professor da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP), o alarme em torno destes medicamentos que servem para baixar o colesterol surgiu “na sequência de um alerta publicado pela FDA” (a autoridade reguladora do medicamento dos Estados Unidos), em que se indicava que “alguns doentes que estariam a tomar estatinas reportaram alterações cognitivas”.
De facto, foi isso que a FDA reportou (ver aqui). Tal como se pode ler no texto, “foram registadas perdas de memória e confusão com a utilização de estatinas”.
No entanto, adianta a FDA, “estes acontecimentos relatados não foram geralmente graves e desapareceram quando o medicamento deixou de ser tomado”.
Apesar de algumas pessoas reportarem estes efeitos secundários, no texto da FDA, refere-se que “os casos não pareciam estar associados a demência fixa ou progressiva, como a doença de Alzheimer”.
No mesmo sentido, aponta-se num texto da Alzheimer ‘s Society (a sociedade britânica do Alzheimer), o facto de estes efeitos secundários pararem após a interrupção da medicação “sugere que a perda de memória não está relacionada com a demência”.
Aliás, salienta Rui Araújo, “os estudos populacionais de elevada qualidade não demonstraram que as pessoas submetidas a estatina têm qualquer risco aumentado de virem a desenvolver demência” (ver aqui, aqui, aqui, aqui e aqui).
Aliás, “os dados que existem neste momento são favoráveis a algum perfil protetor, pelo facto de as estatinas terem um efeito global benéfico na parte aterosclerótica, ou seja, na parte vascular do cérebro”, acrescenta o médico.
Isto pode justificar-se com o facto de níveis elevados de colesterol não serem bons para o cérebro (tal como níveis muito baixos).
O nutricionista Vitor Hugo Teixeira, em declarações anteriores ao Viral, já tinha esclarecido que “níveis desregulados podem causar problemas”, ou seja, “quer o excesso, quer o defeito de colesterol no cérebro podem afetar a sua normal função”.
Como as estatinas reduzem o colesterol LDL (vulgarmente conhecido como o colesterol mau), podem ter um impacto positivo e possivelmente protetor em quem as toma de forma a manter níveis equilibrados de colesterol no organismo.
Por outro lado, Rui Araújo considera importante destacar que estas alegações partilhadas nas redes sociais, além de não terem fundamento, são perigosas, porque podem levar algumas pessoas a deixarem de tomar medicação muito importante para a sua saúde.
A toma de estatinas é segura?
As estatinas são um grupo de medicamentos seguros e aprovados a nível internacional (ver aqui e aqui). Em contexto de níveis elevados de colesterol LDL (hipercolesterolemia), é comum a prescrição destes fármacos.
Neste caso, a toma de estatinas é fundamental, já que “ter um nível elevado de colesterol LDL é potencialmente perigoso, pois pode levar ao endurecimento e estreitamento das artérias (aterosclerose) e a doenças cardiovasculares”, explica-se num texto do Serviço Nacional de Saúde britânico (NHS, na sigla inglesa).
Contudo, importa salientar que a toma de estatinas pode não ser adequada para todas as pessoas. Segundo outro texto do NHS, as estatinas não devem ser tomadas em caso de “doença hepática” ou “se as análises ao sangue sugerirem que o seu fígado pode não estar a funcionar corretamente”.
Estes medicamentos “podem afetar o fígado e é mais provável que causem problemas graves se já tiver um fígado danificado”, justifica-se no mesmo texto.
Além disso, grávidas ou lactantes também não devem tomar estatinas, porque “não existem provas concretas de que seja seguro tomá-las” nestes contextos.
Por outro lado, sabe-se que as estatinas podem, por vezes, interagir com outros medicamentos e com alimentos, “aumentando o risco de efeitos secundários graves, como lesões musculares”, refere o NHS.
Estes medicamentos podem interagir com “alguns antibióticos e antifúngicos”, “certos medicamentos para o HIV” e com a “varfarina” (utilizada “para prevenir coágulos sanguíneos”), por exemplo (pode ver mais interações conhecidas aqui).
Para mais, “o sumo de toranja” e beber álcool em grande quantidade e de forma regular também são fatores que podem “aumentar o risco de efeitos secundários” quando se toma estatinas.
Assim sendo, é fundamental consultar um médico antes de começar a tomar estatinas e ler atentamente o folheto informativo do medicamento específico prescrito.

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