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Está provado que a erva-cidreira “neutraliza e destrói toda a gripe aviária”?

13 Dez 2024 - 09:51
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Está provado que a erva-cidreira “neutraliza e destrói toda a gripe aviária”?

Circula em várias contas das redes sociais um vídeo em que se alega que está comprovado que a erva-cidreira “neutraliza e destrói toda a gripe aviária”. O autor do vídeo sugere a qualquer pessoa que tenha receio da “gripe das aves” que compre “erva-cidreira” ou “óleo essencial de erva-cidreira” que, supostamente, “já provou que consegue lidar” com este vírus. 

O autor do vídeo, conhecido no âmbito da medicina alternativa, tinha um site próprio (entretanto, encerrado) onde vendia um produto que contém, entre outros compostos, erva-cidreira. Para promover esse produto e reforçar a ideia de que a erva-cidreira é eficaz no combate à gripe das aves, cita um estudo.

No pequeno excerto (já retirado da internet) lê-se o seguinte:

“A erva-cidreira é conhecida por ter propriedades antivirais, e lembre-se, todos os vírus são, por definição, proteínas estrangeiras”. Ao citar um estudo, refere ainda que esta evidência “confirma que a erva-cidreira protege mesmo contra a capacidade de replicação do vírus da gripe”. Mas será mesmo assim? Está demonstrado que a erva-cidreira previne e trata a gripe das aves?

A erva-cidreira “neutraliza e destrói toda a gripe aviária”?

Não existe evidência científica de que a erva-cidreira previna ou trate a gripe das aves. Além de o estudo citado não comprovar a alegação partilhada, nenhuma organização internacional e nacional de saúde faz menção à erva-cidreira em contexto de prevenção ou tratamento da gripe das aves.

Tal como se explica num texto informativo publicado no site da Organização Mundial da Saúde (OMS), “existem 4 tipos de vírus da gripe, os tipos A, B, C e D. Os vírus da gripe A e B circulam e causam epidemias sazonais de doença nos seres humanos”.

Em específico, os vírus da gripe A “estão presentes em muitas espécies animais”, sendo “classificados em subtipos de acordo com as combinações das proteínas na superfície do vírus”, lê-se.

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Quando os vírus da gripe infetam um determinado animal “são designados de acordo com o hospedeiro – como vírus da gripe aviária”, salienta-se.

Estes vírus não são os mesmos que causam a gripe humana, por isso, apesar de o vírus da gripe das aves, por exemplo, poder ser transmitido aos seres humanos, isso não é assim tão fácil de acontecer.

No entanto, este ano têm sido relatados alguns casos de gripe das aves em humanos – do subtipo H5N1 -, o que tem causado algum alarme (ver aqui, aqui e aqui) e receio de uma nova pandemia.

Ainda assim, tal como referem os Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC, na sigla inglesa) e a OMS, até o momento, não há provas de que o H5N1 possa ser transmitido de humano para humano, por isso, o risco para os seres humanos é considerado baixo.

Em caso de infeção, segundo a OMS, o tratamento vai depender dos sintomas, da gravidade da doença e dos fatores de risco individuais. 

Segundo o texto dos CDC, um doente humano com gripe das aves pode ter “uma infeção aguda do trato respiratório superior ou inferior, conjuntivite ou complicações de doença respiratória aguda sem causa identificada”. 

Além disso, é comum experienciar-se “sintomas gastrointestinais, como diarreia”, acrescenta-se.

De modo geral, refere a OMS, uma pessoa sintomática deve ficar em “isolamento” e deve ser tratada com medicamentos “antivirais” e medidas de conforto para atenuar esses sintomas.

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A prevenção da infeção passa por “minimizar o contacto com animais em áreas que se sabe estarem afetadas pelos vírus da gripe animal” e “evitar o contacto com quaisquer superfícies que pareçam estar contaminadas com fezes de animais”, refere-se no texto da OMS.

Além disso, é importante que a população geral evite “o contacto com animais doentes ou mortos”.

Todas as pessoas devem ter cuidados de higiene básicos, como lavar as mãos com frequência, e bons hábitos de segurança alimentar, mas as pessoas que sejam obrigadas a contactar com animais devem ter especial atenção.

Nos sites das organizações internacionais e nacionais de saúde não há nenhuma menção ao potencial efeito positivo da erva-cidreira no combate à gripe das aves, nem se refere que esta planta ou os seus compostos possam ser úteis na prevenção de uma infeção (ver aqui, aqui, aqui e aqui). 

O estudo citado pelo autor do vídeo em análise não prova que a erva-cidreira trata a gripe das aves. Neste trabalho, indica-se, apenas, que o óleo essencial de erva-cidreira reduziu a replicação do vírus H9N2 em células

Além de o estudo não investigar o subtipo de gripe das aves que está a causar maior preocupação, o H5N1, este trabalho foi feito em células. Uma vez que não se estudou o efeito em seres humanos, não se pode extrapolar os resultados da investigação afirmando que os efeitos em pessoas seriam os mesmos.

Existem poucos estudos sobre os potenciais antivíricos da erva-cidreira e nenhum deles foi realizado em humanos. Existe um estudo feito em ratos, mas, mais uma vez, os resultados obtidos neste estudo (e em qualquer um dos outros estudos citados) não são suficientes para afirmar que a erva-cidreira “neutraliza e destrói toda a gripe aviária”.

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O conteúdo deste vídeo também foi verificado e desmentido pela Science Feedback, uma organização composta por especialistas em ciência, que verifica informações sobre mudanças climáticas e saúde que circulam nas redes sociais.


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Este artigo foi desenvolvido no âmbito do European Media and Information Fund, uma iniciativa da Fundação Calouste Gulbenkian e do European University Institute.

The sole responsibility for any content supported by the European Media and Information Fund lies with the author(s) and it may not necessarily reflect the positions of the EMIF and the Fund Partners, the Calouste Gulbenkian Foundation and the European University Institute.

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13 Dez 2024 - 09:51

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