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Dieta alcalina altera o pH do sangue e trata doenças?

Defende-se nas redes sociais que a dieta alcalina é um regime alimentar mais saudável que altera o pH do sangue e, deste modo, ajuda a prevenir e a tratar doenças. É verdade?

6 Out 2022 - 10:00

Dieta alcalina altera o pH do sangue e trata doenças?

Defende-se nas redes sociais que a dieta alcalina é um regime alimentar mais saudável que altera o pH do sangue e, deste modo, ajuda a prevenir e a tratar doenças. É verdade?

A dieta alcalina conquistou, nos últimos anos, uma legião de seguidores que acredita ser possível alterar e “equilibrar” o pH do sangue ao ingerir alimentos mais alcalinos (com pH superior a 7), como hortícolas, frutas e cereais integrais.

Nas redes sociais, argumenta-se que este regime alimentar torna “as gengivas e os dentes mais fortes”, “melhora a imunidade” e  previne e trata doenças como cancro, diabetes, Alzheimer e esclerose múltipla”.

É verdade que a dieta alcalina altera o pH do sangue?

A resposta é não”, adianta o professor da Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto e dirigente da Associação Portuguesa de Nutrição, Nuno Borges. 

Em entrevista ao Viral, o nutricionista esclarece que “o pH do sangue é um parâmetro estritamente regulado pelo nosso organismo”, ou seja, “o que comemos no dia a dia não faz alterar significativamente o pH sanguíneo”, embora possa alterar “o pH da urina”.

Aliás, sustenta o especialista, “mal estaria o nosso organismo se a ingestão de um alimento mais ácido ou mais alcalino alterasse significativamente o pH sanguíneo”. Borges explica que quando o pH do sangue (que deve rondar os 7,3 ou 7,4) se altera é sinal de que “estamos doentes”.

Nesse plano, um ebook do Laboratório de Nutrição Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa (FMUL), esclarece que, “apesar do marketing que tem sido feito a esta dieta pressupor uma subida no pH do sangue, aquilo que se sabe hoje é que a adoção de uma dieta alcalina apenas provocará um acréscimo ligeiro no valor de pH (0,014 unidades)”.

No mesmo documento, refere-se que, “onde o aumento de pH parece ser maior em resposta a uma dieta alcalina é na urina (1,02 unidades)”.

A água alcalina é mais saudável?

Quanto às alegações de que a água que se ingere deve ter também um pH mais elevado, Borges considera que esta ideia é “mais uma moda” sem sustentação científica e recorda que “o importante é beber água, seja ela mais alcalina ou mais ácida”.

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Nesse sentido, um documento publicado pela Associação Portuguesa de Nutrição em setembro de 2020 reforça que “apesar de, hoje em dia, se verificar alguma argumentação que atribui benefícios do consumo de água alcalina (pH>7) tais como a capacidade de regular o pH sanguíneo, capacidade antioxidante e mesmo benefícios na prevenção de determinadas doenças, não existe evidência científica suficiente que suporte algum benefício associado à ingestão deste tipo de águas”.

A dieta alcalina é superior a outras dietas e ajuda a prevenir doenças?

Na perspetiva do nutricionista, não existe evidência científica suficiente para considerar a dieta alcalina um regime alimentar superior, por exemplo, à dieta mediterrânica.

O especialista lembra, contudo, que este tipo de alimentação tem alguns “componentes saudáveis”, como a ingestão abundante de “hortícolas e frutas” e a “substituição de produtos refinados por produtos mais integrais”, mas sublinha que a vantagem destes alimentos não está relacionada com o seu ph.

Por isso, exemplifica, dizer que determinados alimentos são melhores para a saúde por terem um ph mais elevado “é o mesmo que dizer que alguns artigos de supermercado são mais saudáveis porque pertencem à secção que começa pela letra f, os frescos”. Ora, “as frutas e os frescos são mais saudáveis, mas não por começarem pela letra f nem nada que se pareça”, conclui.

Quanto ao suposto benefício desta dieta no tratamento e na prevenção do cancro, o especialista João Vasques refere no ebook da FMUL que “os efeitos da água e dieta alcalina nesta doença são uma incógnita dada a escassez de estudos existentes na temática, parecendo mesmo que a comunidade científica não tem acompanhado o interesse que tem sido demonstrado por parte do público em geral”.

Assim, acrescenta, “é neste momento impossível fazer qualquer recomendação a favor ou contra esta dieta no que concerne à prevenção ou tratamento da doença oncológica”.

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Por fim, conclui, “alguns estudos recentes têm demonstrado resultados prometedores, mas muitas cautelas devem ser tomadas na interpretação dos seus resultados, pois a metodologia utilizada nesses mesmos estudos não permite avaliar a eficácia da dieta alcalina como tratamento coadjuvante na doença oncológica”.

Categorias:

Alimentação

6 Out 2022 - 10:00

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