Dia Mundial do AVC: Mulheres podem ter sintomas diferentes dos homens?
No TikTok, alerta-se para os sintomas de AVC (Acidente Vascular Cerebral) nas mulheres. Segundo alguns vídeos partilhados, tanto os homens como as mulheres podem ter sintomas tradicionais, como rosto descaído, dificuldade em falar e fraqueza no braço. No entanto, a autora de uma das publicações alega que “as mulheres mais jovens tendem a apresentar sintomas diferentes e mais subtis”.
Exemplo desses sintomas são: “dificuldade em ver com um ou ambos os olhos”, ter “problemas de equilíbrio ou coordenação”, “fadiga”, “confusão” e “fraqueza generalizada”. Confirma-se?
É verdade que as mulheres podem ter sintomas de AVC diferentes dos homens?
Sim. Quem o diz, em esclarecimentos ao Viral, é Alexandra Malheiro, especialista em medicina interna no Hospital Lusíadas Porto e membro dos Núcleos de Estudos de Doença Cerebrovascular e de Geriatria da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna (SPMI).
A médica adianta que, de facto, as mulheres “podem ter alguns sintomas menos típicos” associados a um acidente vascular cerebral (AVC), que acontece quando há um bloqueio que impede o sangue de chegar a uma parte do cérebro.
Estes sintomas podem ser: “fraqueza generalizada, náuseas, vómitos, às vezes, até com falta de ar com soluços”, exemplifica a especialista.
Outros sinais menos frequentes (mas mais comuns nas mulheres) são “desorientação” e “perda de consciência”, refere-se num texto informativo da Associação Americana do Coração.
Segundo Alexandra Malheiro, o facto de estes sintomas serem “comuns em outras patologias” faz com que seja “mais difícil de identificar de imediato quando se trata de um AVC”.
Por norma, podem dar-se dois desfechos. Não se percebe do que se trata, “acaba por se fazer um TAC cerebral” e só aí é que se vê que “é uma situação isquémica”.
Noutro plano, também pode acontecer a mulher começar por ter sintomas menos evidentes e depois desenvolver “sintomas mais típicos” de AVC. Por exemplo, “começa por sentir um cansaço e uma fraqueza generalizada”, mas, “depois, acaba por sofrer uma alteração do discurso”, refere a médica.
Tanto para homens como para mulheres, há, sobretudo, “três parâmetros que devem levar um doente muito rapidamente para um hospital”, salienta Alexandra Malheiro.
Para identificar um AVC o mais atempadamente possível pode utilizar-se o acrónimo inglês “FAST” (ver também aqui, aqui e aqui). O “‘F’ vem de face e indica que se deve tentar perceber se a pessoa tem “uma alteração no rosto”, porque é comum, neste contexto, “a face ficar assimétrica”, explica.
O “A”, apesar de significar “arm” (braço, em português), não se restringe aos membros superiores. É importante perceber se a pessoa tem “um braço, uma perna, dedos ou mãos paralisados ou com uma sensação encortiçada”, prossegue.
Já o “S” refere-se a “speech” (discurso ou fala, em português). Deve-se ver se a pessoa tem “alterações no discurso”, que podem ser, por exemplo, “o doente deixar de falar, articular as palavras com dificuldade ou não as consegue articular da forma normal, tenta lembrar-se de palavras e não conseguir”, ou, ainda, dizer “coisas um pouco disparatadas, embora pareça estar orientado”, esclarece a médica.
O “T” é referente a “time”, ou seja, “tempo”. Perante os sintomas descritos, esta última letra salienta a importância de agir rapidamente, “porque a atuação, em muitas das circunstâncias, é tanto melhor quanto mais precoce”, defende.
Tal como se refere num texto informativo, publicado no site dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC, na sigla inglesa), os tratamentos “que funcionam melhor só estão disponíveis se o AVC for reconhecido e diagnosticado no prazo de 3 horas após os primeiros sintomas”.
Por isso, o Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM) recomenda que, “na presença destes sinais, não perca tempo e ligue de imediato 112”.
As mulheres também têm fatores de risco específicos
Além de as mulheres poderem apresentar sintomas de AVC diferentes dos homens, também têm fatores de risco específicos.
“Tomar a pílula”, “uma gravidez” e ter “enxaquecas” são, na perspetiva de Alexandra Malheiro, fatores relevantes.
De acordo com o texto da Associação Americana do Coração, “o risco de AVC em mulheres grávidas é de cerca de 30 por 100 000, sendo o risco mais elevado durante o terceiro trimestre e no pós-parto”.
Por esse motivo, as grávidas “com pressão arterial elevada devem ser tratadas com medicamentos e monitorizadas de perto”, destaca-se.
Para mais, sabe-se que “a enxaqueca com aura está associada ao AVC isquémico em mulheres mais jovens, especialmente se forem fumadoras ou usarem contracetivos orais”.
Nas mulheres mais velhas, aponta Alexandra Malheiro, “a fibrilação auricular” (um tipo de arritmia cardíaca) é um fator de risco relevante e mais comum nas mulheres, sobretudo “acima dos 70 anos”.