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Temos de fazer um check-up anual? Os especialistas dizem que não

Visitar o médico uma vez por ano para fazer exames e verificar o estado de saúde é já uma rotina para muitas pessoas. A ideia é detetar possíveis doenças precocemente e, assim, conseguir melhorar o prognóstico. Mas existe evidência sobre a eficácia dos check-ups anuais?

10 Dez 2021 - 11:17

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Temos de fazer um check-up anual? Os especialistas dizem que não

Visitar o médico uma vez por ano para fazer exames e verificar o estado de saúde é já uma rotina para muitas pessoas. A ideia é detetar possíveis doenças precocemente e, assim, conseguir melhorar o prognóstico. Mas existe evidência sobre a eficácia dos check-ups anuais?

É melhor prevenir uma doença do que tratá-la – e para melhor a tratar, com maior possibilidade de sucesso, é preciso detectá-la numa fase inicial. Estes são princípios que muitas pessoas tentam seguir para manter um bom estado de saúde e prevenir doenças.

Muitos são os que visitam o médico anualmente para pedir análises clínicas  ou exames de todo o tipo, no sentido de rastrear as patologias que mais assustam como o cancro, as doenças cardiovasculares ou as doenças degenerativas.

Aliás, os números demonstram como este hábito está enraizado na sociedade. Segundo a Ordem dos Médicos, “entre os adultos portugueses, 99.2% acreditam que devem fazer exames de rotina ao sangue e à urina com uma periodicidade anual, sendo que 87.4% referem ter realizado esses exames”.

Só que a evidência tem mostrado que esta rotina pode não trazer os benefícios esperados. A instituição que representa os médicos nacionais emitiu mesmo uma recomendação, no âmbito do programa de ajuda à tomada de decisão médica Choosing Wisely Portugal, para os clínicos deixarem “de recomendar ‘check-ups’ anuais a adultos assintomáticos, sem fatores de risco e sem problemas de saúde diagnosticados”.

O que justifica esta recomendação são estudos que têm demonstrado que os exames de prescrição geral e indiscriminada em adultos assintomáticos e sem fatores de risco não vão conduzir a uma menor morbilidade, ou seja, menos consequências da doença, nem a uma menor mortalidade em patologias como o cancro ou as doenças cardiovasculares.

A instituição que representa os médicos nacionais emitiu uma recomendação, no âmbito do programa de ajuda à tomada de decisão médica Choosing Wisely Portugal, para os clínicos deixarem “de recomendar ‘check-ups’ anuais a adultos assintomáticos, sem fatores de risco e sem problemas de saúde diagnosticados”.

Um desses estudos foi a uma grande revisão sistemática da evidência científica que a Cochrane publicou em 2012. Os investigadores avaliaram dados de 16 estudos – 14 já com dados disponíveis – com um total de 182.880 participantes e olharam para a mortalidade global, a mortalidade por doença cardiovascular e a mortalidade por doença oncológica, comparando os indivíduos que faziam rastreios preventivos com regularidade com os que nada faziam. Nas conclusões lê-se que “os exames gerais de saúde não reduziram a morbilidade ou mortalidade, nem a geral, nem a que decorre de causas cardiovasculares ou de cancro, embora o número de novos diagnósticos tenha aumentado”.

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A mesma linha de pensamento é defendida por António Vaz Carneiro, num vídeo sobre Mitos e Crenças do programa Harvard Medical School Portugal. O médico, diretor do Centro de Estudos de Medicina Baseada na Evidência da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, refere que “esta abordagem de Medicina preventiva de massas, também chamada de rastreio de doenças assintomáticas, apresenta problemas potenciais, podendo mesmo, num número significativo de casos, fazer mais mal do que bem”, dando como exemplo os casos de intervenções clínicas em doentes falsos positivos. Reconhecendo que esta é uma “área clínica de grande complexidade e sem respostas fáceis”, o médico defende “rastreios para os doentes que mais deles beneficiem”.

O mesmo reconhece a Ordem dos Médicos: “A aplicação de exames complementares de diagnóstico de forma indiscriminada conduz a falsos positivos que podem conduzir a uma sequência de testes desnecessários”.

Devido à evidência científica encontrada, a diretriz para os clínicos recomenda que a decisão de se efetuarem “testes laboratoriais de rastreio, assim como a escolha dos testes a fazer deve ser baseada na idade, sexo e fatores de risco de cada pessoa. Não há, portanto, uma lista de exames que se deva aplicar a toda a gente de forma indiscriminada”.

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Em conclusão, fazer exames de rotina de forma regular e indiscriminada não apresenta benefícios na prevenção da morbilidade e da mortalidade causada nomeadamente pelas doenças cardiovasculares ou pelo cancro. Segundo a Ordem dos Médicos, os exames e a periodicidade devem ser aconselhados tendo em conta a idade, o sexo e os fatores de risco que cada pessoa apresenta.

 

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10 Dez 2021 - 11:17

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